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Luis Minoru: ‘Digitalizar significa mudar processos históricos’

Luis Minoru Shibata assumiu a posição de CIO da PromonLogicalis em fevereiro de 2014 com a missão de compreender e explorar tendências digitais nos negócios da integradora. “O objetivo é nos tornarmos uma referência no uso da TI como diferencial competitivo”, comentou, na ocasião. 

Passados pouco mais de nove meses desde que foi alçado ao cargo, executivo parece ter adquirido uma visão mais precisa dos desafios à frente do departamento de tecnologia em um momento que o mercado movimenta-se de maneira intensa e os recursos computacionais sobem à superfície dos negócios. 

Esse processo de digitalização das organizações, observa Minoru, mexe com hierarquias de poder, processos e cultura empresarial. “As áreas de TI precisam estar cientes de que hoje não existe mais a barreira. Para praticamente tudo que as pessoas imaginarem haverá uma tecnologia disponível que lhes permite executar”, observa. 

Na entrevista a seguir, Minoru compartilha sua visão sobre o momento pelo qual passamos, a adoção das megatendências, o desafio de ser comprador de tecnologia em uma empresa que vende tecnologias e pontos que considera fundamentais na preparação do alicerce tecnológico que permitirá a construção de negócios digitais. 

Computerworld Brasil – Como é ser CIO de uma empresa que vende TI?

Luis Minoru – É muito dinâmico. Acho que o nível de exigência dos serviços de TI em uma empresa de que vende tecnologia é maior, até porque a maioria dos usuários tem um conhecimento maior sobre o assunto justamente por trabalhar com isso.

CW – Quais seriam as vantagens?

Minoru – Essa não deixa de ser uma vantagem. Até por serem mais exigentes, fazem com que a área de TI não pare, que esteja sempre em busca de algo novo o tempo inteiro. Talvez, uma grande vantagem é que, por ser uma empresa de tecnologia, a companhia e os executivos acreditam no potencial das tecnologias como diferencial de negócios. 

CW – Tudo que a empresa oferece a mercado já está rodando internamente? 

Minoru – Hoje, a empresa atua fortemente no setor de serviços e integração. Testamos, por exemplo, muita solução, principalmente na camada de colaboração, segurança e outras coisas que queremos levar para o mercado. Fazemos isso até para não criar um discurso vazio. Cada vez mais tentamos adotar aqui tudo que faz sentido para nosso negócio. Além disso, tem que fazer sentido para nosso porte e que vá ao encontro de nossa atuação de mercado. Hoje, sou um cliente de nossa área de serviços e dou um feedback para eles, o que ajuda a criar um diferencial na oferta, o que tá legal, o que pode ser melhorado, onde há potencial de melhoria ou mudança. Isso é meio maluco, mas é assim que funciona! 

CW – Mas quando contrata serviços internos vira um cliente como outro qualquer. É isso?

Minoru – Sempre que vou iniciar um projeto, faço provas de conceito como se fosse um cliente qualquer. Mas a dinâmica é tão intensa que as coisas começam a se inverter, com eles [áreas de negócio] trazendo ofertas para rodarmos determinada tecnologia na empresa. Temos que ter o cuidado máximo para medir o antes e depois da POC e ver como a solução melhorou o ambiente. Em alguns casos é preciso não avançar devido à aderência ao nosso negócio. Outro ponto que temos que lembrar é que tenho orçamento limitado e os investimentos precisam dar retorno não só para facilitar nossas vendas, se for o caso, mas um retorno financeiro. 

CW – Mas você chega a testar internamente produtos que eventualmente sejam de concorrentes da PromonLogicalis?

Minoru – A diretriz é buscar a solução relacionada à nossa oferta senão ficaria muito estranho adotar uma solução diferente das que comercializamos. Agora, fazendo um contraponto disso, meu outro chapéu aqui na empresa é a liderança da área de Consultoria, que olha e avalia parceiros que podem vir a compor nosso portfólio de oferta – o que ocorre quando acredito que aquilo é a melhor solução para o mercado. Somos uma integradora de soluções multivendors. Isso quer dizer que há concorrência mesmo que internamente em nosso portfólio para determinadas soluções, afinal, temos marcas que competem entre si em algum nível. Portanto, preciso ver, de acordo com nosso perfil, qual é a mais aderente. 

CW – Hoje você olha fornecedores da posição de comprador. O quê é diferente de olhá-los sob a ótica de um provedor de TI?

Minoru – Até por provocação, quando recebo fornecedores, o que faço é indagá-los como trabalham com aquela tecnologia internamente, nas suas empresas, até para saber se estão usando a solução que me oferecem. A outra coisa que faço é questionar se o vendedor entende como minha empresa funciona. Com isso, vejo se ele está mais preocupado em mostrar seu produto ou apresentar uma solução de negócio. 

CW – A abordagem da indústria tem funcionado para você? Por quê?

Minoru – Sinto que é uma oferta muito baseada não na demanda, mas na oferta em si. Do tipo: tem que ir para nuvem porque essa é a tendência, ou tem que usar big data porque é uma tendência. A abordagem e a provocação que faço é que, se vou falar com um cliente do setor de saúde preciso, no mínimo, fazer uma lição de casa para, por mais superficial que seja, entender as dinâmicas da vertical e o que está sendo feito no setor. Aí sim é possível tratar dos desafios que aquela empresa enfrenta e que podem ser resolvidos pelo uso de sensores, mobilidade, cloud ou analytics. Ou seja, a tendência é que os conceitos vão evoluir para isso. Mais do que levar uma solução pela oferta, levar a tecnologia direcionadas aos problemas a serem resolvidos. As pesquisas atualmente mostram que, se as áreas de TI não souberem acompanhar isso, cada vez mais o orçamento relacionado ao investimento em tecnologia migrará para as áreas de negócio. Ou seja: CIO assume uma função tática porque o executivo de negócio já foi atrás de algo que resolvia seu problema. 

CW – A abordagem da indústria não está, portanto, correta?

Minoru – Não dá para generalizar. Alguns já acordaram, enquanto outros ainda não. Talvez as empresa precisem fazer as duas coisas, abordar TI com discurso mais técnico sem deixar de abordar o negócio com um discurso mais de negocio. Essas duas coisas se complementam. 

CW – Pela sua descrição, a oferta, então, caminha rumo a uma verticalização?

Minoru – Acho que sim, e pode acontecer no médio e longo prazo. Acredito que, no futuro, a tecnologia será mais verticalizada. Os data centers com serviço na nuvem são muito transversais. Contudo, há indícios de que empresas oferecerão serviços especializados e aderentes a determinadas indústrias como varejo, finanças… para atender dinâmicas, níveis de flexibilização e regulamentação diferentes. É natural acreditar que essas soluções ganhem escala dentro de setores ou características especificas o que pode ser também por tamanho de empresa ou região.

CW – Essa abordagem verticalizada não geraria um discurso muito fragmentado por parte dos vendors?

Minoru – Sim. Mas também vejo que é inevitável essas coisas comecem a acontecer. Mas ainda estamos muito no começo dessa questão das tendências. Com o tempo, é natural que essa customização seja exigida. Agora, fornecedores de TI vivem de escala e dar escala a customização seria um passo seguinte. 

CW – De que forma a PromonLogicalis trabalha para incorporar essas megatendências internamente?

Minoru – Vou falar de uma forma um pouco mais genérica, pois são ciosas estratégicas. Estamos criando cockpits para controle de tomada de decisões mais dinâmicas e análise de comportamento, tanto para resultados financeiros quanto para alocação de profissionais. Temos investido também em plataformas de RH e comunicações com nuvem. Tudo muito relacionado a cloud e analytics. Quanto a mobilidade, criamos recentemente algo que não é tão inovador, mas é a política de BYOD. Ainda, temos uma solução de automação de força de campo nas implantações de infraestrutura espalhadas pelo Brasil – que acreditamos ser um diferencial. 

A única coisa que não podemos, de fato, divulgar são iniciativas de IoT, que já temos, mas ainda são muito tímidas. Olhamos bastante para isso e é de onde vêm as ideias mais malucas. Isso é divertido, por respirar TI, a criatividade é grande e já temos feito algumas brincadeiras envolvendo o conceito. 

CW – E a questão da transformação digital das companhias, o que lhe parece?

Minoru – Muitos falam de digitalização, mas não sabem por onde começar. As áreas de TI precisam estar cientes de que hoje não existe mais a barreira de inovação tecnológica. Para praticamente tudo que as pessoas imaginarem haverá uma tecnologia disponível que lhes permitirá executar essa ideia. A grande dificuldade está em processo e na cultura. Digitalizar significa mudar processos históricos dentro de uma organização. E, talvez o mais difícil, seja mudar aspectos culturais, pois isso mexe com poderes e formas como as pessoas estavam acostumadas a fazerem as coisas. Aí o apoio do RH e da comunicação é indispensável para  treinar e disseminar as pessoas, que serão os usuários daquelas novas ferramenta que digitalizarão a empresa. Entenda que muda a forma como as pessoas se comportam ou executam procedimentos. O desafio é imenso. 

Tem outro ponto: ao fazer isso, a área de TI vai ter um impacto radical na questão de governança e segurança. Se o cara do departamento de TI quiser ser o mandachuva e barrar soluções nas áreas de negócio vai estar ferrado, pois vão adotar soluções sem informar o CIO. Isso é mais perigoso. O comportamento do líder de TI precisa mudar. Ele não vai mais ser aquele guardião que controla tudo. Terá, isso sim, um padrão mínimo do que será autorizados dentro da infraestrutura. ‘Os recursos não precisam ser meus, mas só vai chegar na empresa e ser adotado se for integrável ou atender um mínimo de exigência da área de TI’. E todo processo de mudança precisa ser autorizado e homologado pela TI. Para isso a área terá que criar uma arquitetura sistêmica com visão de longo prazo que permita suportar esse movimento das divisões de negócio. 

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