James Gosling, criador do Java, fala sobre carreira, Low Code e futuro da linguagem

Em evento, fundador também abordou a influência dos negócios no desenvolvimento de tecnologias a apontou a principal habilidade de um programador

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8:30 am - 07 de agosto de 2020

Fundador e principal nome da linguagem de programação Java (que completou neste ano seu 25º aniversário), James Gosling participou na última quarta (5) de uma live dedicada ao público brasileiro, respondendo a perguntas sobre novas tecnologias, carreira, negócios e, é claro, o que ele acredita que seja o futuro do ecossistema fundado por ele. 

Promovido pela AWS, o bate papo contou com a participação de Cleber Moraes, country manager da companhia no Brasil; Vinicius Senger, que atua como desenvolvedor senior na empresa; e Bruno Souza, fundador da comunidade Sou Java e da ToolsCloud. Abaixo, apresentamos alguns dos trechos mais interessantes da conversa: 

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Em sentido horário: Cleber Moraes, Vinicius Senger, James Gosling e Bruno Souza

Com sofrimento, mas sem arrependimentos 

“Em termos de grandes APis que eu odeio, provavelmente a que está no topo da minha lista é a AWT”, afirmou Gosling, relembrando do projeto feito no meio dos anos 90 em parceria com Netscape, na época o principal navegador utilizado pelo consumidor final. 

O motivo desse desgosto, porém, é bem compreensível. O executivo explicou que sua equipe estava em uma fase bastante inicial de desenvolvimento do toolkit, quando os profissionais da Netscape o informaram “bem casualmente” de que a nova versão do navegador seria lançada em seis semanas 

O time se movimentou para cumprir o prazo, mas não demorou muito para os problemas surgirem. “Todos os toolkits eram extremamente diferentes”, explicou Gosling, acrescentando que a IBM — que apoiava o projeto — reuniu todos e disse que a versão lançada era “fajuta”, levando ao cancelamento do beta e “refação” de todo o processo de arquitetura da API. 

Apesar de que, nas palavras do próprio programador, não existia a possibilidade de fazer a coisa correta na primeira vez, Gosling acredita que todos os problemas foram importantes para dar à equipe tempo para desenvolver uma solução melhor.  

A carreira é sua  

Conflitos entre gestão e equipe acontecem em praticamente todos os lugares, especialmente nos casos em que os superiores, por não ter conhecimento técnico, solicitam projetos ou demandas dentro de um cronograma ou execução fora da realidade. 

Nos casos em que esse tipo de coisa ocorre, Gosling tem uma opinião construída ao longo dos anos. “Pode soar um pouco louco, mas se eu não consigo convencer meu gerente [de que o pedido não é útil] ou a pessoa insiste em pedir algo estúpido, eu vou trabalhar para outro gestor.” 

Apesar de essa nem sempre ser uma opção, o programador acredita que as pessoas precisam (sempre que possível) procurar um ambiente de trabalho que não possua desgaste emocional. “Se você está em uma posição na qual sente que não pode ser honesto [com o chefe] você precisa entender de onde esse sentimento surge e fazer algo sobre”, complementa. 

Low code, hard work 

Para Goslings, esse tipo de ferramenta não substitui de verdade o trabalho de programação: o que elas fazem, na verdade é aumentar o nível de abstração. “As ferramentas que executam essas tarefas sempre possuem limites, coisas que você não pode fazer [caso não saiba programar], porque as pessoas que desenvolveram os frameworks foram apenas até determinado ponto”. 

O executivo também aproveitou o momento para dar uma injeção de realidade em quem acredita que a expansão do uso de plataformas lowcode/nocode dará mais tempo livre aos profissionais de tecnologia.  

“Nenhum desses sistemas de desenvolvimento facilitam a vida dos desenvolvedores. O que acontece é que eles aumentam sua produtividade e o número de tarefas que você pode executar. E o gestor verá isso e te fará trabalhar mais.” 

O business dentro do código  

Ao ser perguntado sobre o porquê de, ao longo dos anos, o Java não ter sido tão utilizado dentro do desenvolvimento para dispositivos móveis, Gosling mencionou a importância de se lembrar que várias decisões finais sobre o uso de determinado hardware ou software são, em grande parte das vezes, orientadas para o negócio e não para o desenvolvimento tecnológico. 

O fundador relembrou que a linguagem foi usada com bastante frequência dentro das primeiras gerações de telefones, por conta da sua interoperabilidade com outros serviços. Mas foi essa mesma facilidade em se replicar em outros produtos que fez com que as empresas optassem por outros formatos de programação e soluções proprietárias 

“Quando você pensa nesses casos, precisa olhar para trás e pensar: quais eram as condições do negócio? Quais eram as forças externas que estavam agindo sobre essas coisas? Por que as marcas tomaram essas escolhas?”, acredita Gosling. “E você não tem que ficar chateado com isso, é o modo como mundo funciona”. 

O futuro do Java  

O destino de um ambiente computacional reside principalmente no esforço da comunidade em mantê-lo atualizado e incluso dentro de projetos importantes. James Gosling sabe disso e estava muito feliz em dizer que, a respeito do Java, essa tarefa vem sendo executada com sucesso, destacando o trabalho realizado pelos usuários no desenvolvimento de APIs. 

“Uma das coisas que eu acho mais incríveis dentro do Java usuários é a forma como as APIs são aprimoradas e compartilhadas. Você pode encontrar as APIs mais loucas e legais dentro do universo Java e em geral você tem diversas opções para um mesmo uso.” 

O fundador também apontou inovações muito significativas dentro da virtual machine e ressaltou o desdobramento da linguagem Java em outros formatos, mas mantendo a essência do código. 

Uma das APIs mais estranhas que conheci era uma focada em campos magnético e que foi muito útil para ele em um momento da vida. 

“Uma das coisas que as tornam interessantes é que é uma linguagem diferente, mas dentro do mesmo ecossistema. Você pega uma linguagem como Kotlin, que é razoavelmente popular nos dias de hoje, ela ainda é uma parte do ecossistema do Java.” 

Busquem conhecimento 

Ao final da conversa, Gosling foi perguntado sobre a qual principal característica que ele acreditava que um programador deveria ter.  

Mais direto impossível: “A melhor habilidade é a curiosidade. E a segunda melhor habilidade é a curiosidade.” 

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