IT Forum Na Mata: mudança cultura é fundamental para estratégia de IA

Líderes e especialistas em TI refletiram, durante o Na Mata, sobre papel da cultura para uma implementação bem-sucedida de inteligência artificial

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7:48 pm - 27 de setembro de 2024
Imagem: IT Forum

Uma implementação bem-sucedida de ferramentas de Inteligência Artificial (IA) não se resume apenas à adoção da tecnologia, mas também envolve uma mudança cultural. Esse foi o tema central do debate entre executivos de TI e especialistas que participaram do IT Forum Na Mata IA, realizado entre os dias 26 e 27 de setembro, no Distrito Itaqui.

A edição mais recente da pesquisa “Antes da TI, a Estratégia“, realizada anualmente pela área de Inteligência do IT Forum com os líderes de tecnologia das maiores empresas do país, aponta que a IA está ganhando importância na lista de prioridades de CIOs e executivos de TI. Neste ano, o tema foi considerado de “muito alta” importância por 16% dos participantes e de “alta” por 25%, enquanto 29% indicaram “moderada importância” e 23%, “baixa”.

Nos próximos dois a três anos, no entanto, o cenário mudará: 48% dos respondentes afirmam que a IA terá “muito alta” importância a partir de então, 38% acreditam que ela será “alta” e apenas 13% apontam “moderada” ou “baixa”, sendo apenas 1%. “Hoje se faz pouco, mas há muita expectativa em torno da aplicação da inteligência artificial”, observou Ítalo Flammia, consultor em Transformação Digital, Inovação e Negócios Digitais.

Em sua fala, Flammia destacou a área de inovação como um potencial alvo de alto impacto para ferramentas de IA generativa – referindo-se ao que chamou de “Inovação Generativa”. “Quando falo de usar IA no processo de inovação, refiro-me à inteligência artificial que ajuda a gerar ideias, observar o mercado e detectar tendências, construir soluções e criar uma estratégia de go-to-market”, explicou.

O consultor mencionou a pesquisa “IA Generativa para Inovação Corporativa”, da InnoScience, que revelou que a aplicação dessas tecnologias nos processos de inovação ainda está em seus estágios iniciais no Brasil. Segundo o estudo, apenas 18% dos 253 respondentes já utilizam IA nesses processos. O potencial futuro, no entanto, é promissor: para 85% dos participantes, a IA generativa pode economizar tempo em atividades rotineiras e operacionais do time de inovação, enquanto 45% pretendem ampliar “significativamente” os casos de uso da IA generativa na inovação.

Para Flammia, o rápido avanço da IA generativa dará origem a um leque enorme de ferramentas que podem gerar insights de negócio para organizações que estão explorando processos de inovação. Ele alerta, no entanto, que, em determinado ponto, a tecnologia irá acelerar tanto a inovação que poderá torná-la uma “commodity” – e é aí que a importância da cultura se sobressairá.

“A tendência é essa. Antes, eu tinha um diferencial ao possuir minha própria ferramenta, equipe e processo. Agora, isso está disponível na internet, e a inovação está se tornando uma commodity”, disse. “Quando isso acontecer, qual será o diferencial da empresa? A sua cultura. A forma como fazemos as coisas na empresa é que trará o diferencial, não mais o processo de inovação.”

Para Karine Chaves, CIO da Junto Seguros, o “aculturamento” em IA foi parte fundamental na jornada de implementação da tecnologia dentro da companhia. A organização começou a empregar ferramentas “tradicionais” de IA há pouco mais de quatro anos, em um projeto que utilizou a tecnologia para automatizar a busca por oportunidades de seguros garantia e engajar corretores de forma proativa.

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Desde então, o tema evoluiu na organização e passou a ser aplicado em outras áreas estratégicas. Neste ano, a IA generativa também foi incorporada. “O primeiro passo foi entender onde iríamos usar a IA generativa. Como já utilizávamos a IA tradicional há mais de três anos, precisávamos identificar um problema que justificasse o uso da generativa”, contou a CIO.

A decisão foi empregar a tecnologia em duas frentes: de um lado, as iniciativas corporativas, acelerando a eficiência operacional da empresa; do outro, o negócio, buscando transformar a experiência dos clientes. “Conseguimos ser mais rápidos e competitivos usando a IA”, disse.

Em ambos os casos, no entanto, a mudança cultural foi central para essa jornada. “Não adianta proibir o uso de IA, as pessoas sempre encontrarão um jeitinho. O caminho que encontramos foi o letramento, o aculturamento. Antes de liberarmos o acesso para todos começarem a usar, treinamos as pessoas no uso da IA. Isso foi uma revolução”, ponderou Karine.

O mesmo processo ocorreu dentro da Reckitt. Durante sua fala, Julián Romero Letechipía, head de TI&D Brasil da organização, contou sobre o projeto da companhia que utilizou ferramentas de IA para monitorar a disposição e quantidade de seus produtos em gôndolas de mercados – processo que, tradicionalmente, utilizava fita métrica, papel e caneta.

“Começamos a treinar algoritmos de reconhecimento de imagem capazes de identificar cada um de nossos SKUs no ponto de venda. Agora, em vez de utilizarem uma fita métrica, nossos promotores podem simplesmente tirar uma foto, e o algoritmo fornece automaticamente todas as informações de que precisam”, contou.

O segundo passo do projeto, a partir dos insights obtidos pela ferramenta, foi desenhar uma série de recomendações de tarefas para os promotores da companhia, otimizando a rota de monitoramento de SKUs em pontos de venda. Apesar da expectativa, o projeto “fracassou” nas primeiras semanas e não trouxe os resultados esperados pela organização. Após uma análise de desempenho, a Reckitt passou a reforçar o treinamento dos promotores com a ferramenta e a buscar melhorias de UX no sistema. Com isso, os resultados esperados foram alcançados.

“IA não é só o algoritmo, é todo o processo humano para as pessoas aprenderem a utilizar as novas ferramentas, redefinirem rotinas e se familiarizarem com a tecnologia. Quando isso gera maturidade, começa a gerar maior valor”, refletiu Romero.

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Rafael Romer

Rafael Romer é repórter do IT Forum. É bacharel em Comunicação Social – Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Tem mais de 12 anos de experiência na cobertura dos segmentos de TI, tecnologia e games, com passagens pelo Olhar Digital, Canaltech, Omelete Company, Trip Editora e IG.

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