IT Forum > Anywhere: Educação é o caminho para desatar inovação no Brasil

Em plenária no segundo dia do evento, executivos destacaram a educação como base para que Brasil atinja seu potencial de inovação

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1:33 pm - 17 de junho de 2021
IT Forum Anywhere Marcelo Braga, vice-presidente da IBM Brasil; Diego Puerta, presidente da Dell Brasil; Eduardo López, presidente do Google Cloud; e Gustavo Gennari, fundador e presidente da FIAP, na abertura do segundo dia do IT Forum > Anywhere (Foto: Bruno Cavini)

A indústria de tecnologia vive um cenário contraditório no Brasil. Por um lado, o país figura entre os dez que mais investem em inovação no mundo, ocupando a nona posição, segundo o ranking Fórum Econômico Mundial que leva em consideração o volume total de capital.

No entanto, se deixarmos de lado os números absolutos, o cenário é outro: no ano passado, o Brasil foi o 62ª no Índice Global de Inovação (IGI) divulgado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual. Olhando para o ranking global de competitividade digital de 2020, organizado pelo Núcleo de Competitividade Global, o País fica na 51ª posição.

Os resultados, é claro, são não apenas incompatíveis com o tamanho da economia brasileira, mas sintomas de um dos maiores desafios do setor de tecnologia do País: o déficit de talentos. Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação, o Brasil terá carência de 260 mil profissionais até 2024, o que prejudica empresas que atuam no país de forma grave.

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Caminhos para “desatar” e habilitar o avanço da inovação no Brasil foram o tema de debate da plenária de abertura do segundo dia do IT Forum > Anywhere, na manhã desta quinta-feira (17), sob o tema “O Nó da Inovação“. Reunidos, líderes de grandes empresas de tecnologia que investem em centros de pesquisa e desenvolvimento dentro do Brasil falaram em consenso sobre a direção a ser seguida para enfrentar o problema: a educação.

“Educação e aprendizado é a premissa de transformação. Transformação é a premissa de desenvolvimento e de inovação. A gente tem que entender essa importância, a gente tem que ser uma nação apaixonada por educação”, pontuou Gustavo Gennari, fundador e presidente da FIAP. No programa internacional de avaliação de estudantes PISA, lembrou Gustavo, o Brasil está na posição 57.

Em sua fala, o executivo também reforçou a educação como um investimento de longo prazo para o País, mas que é também o único caminho de “retorno certeiro” quando o assunto é desenvolver a inovação. O processo, deve vir da base, do ensino fundamental ao superior, mas é também responsabilidade das corporações.

“A união entre academias e empresas é extremamente importante para que a gente gere de fato culturas de aprendizado ágil e contínuo. Para que a gente consiga criar ambientes onde a gente possa aprender, desenvolver novas habilidades, criar, prototipar, errar, repensar, recomeçar. Ambientes seguros para que tudo isso aconteça”, explicou.

A perspectiva da indústria

Vice-presidente da IBM Brasil, Marcelo Braga ecoou a fala de Gennari. Para o executivo, iniciativas que promovam a educação devem vir através de combinação de ações públicas, de instituições de ensino e de empresas.

Desde 2010, lembrou o executivo da IBM, a companhia opera dois centros de pesquisa e desenvolvimento no Brasil, dedicados ao estudo de tecnologias de ponta, incluindo nas áreas de inteligência artificial, computação quântica e pesquisa de agronegócio. A necessidade da empresa, no entanto, é por profissionais de tecnologia que vem desde a base.

“A demanda de todos nós e de nossos clientes e parceiros é contratar pessoas qualificadas. E a discussão não é contratar PhDs, profissionais com certificações internacionais altíssimas, é buscar pessoas que estão na base. O resto a gente ajuda a desenvolver e traz para dentro”, disse. “As demandas são muito sofisticadas, mas para demandas sofisticadas a gente tem que ter fundamentos fortes. Para chegar em inteligência artificial ou computação em nuvem, tem que saber matemática, interpretação de texto, saber entender a demanda do outro”, comentou.

Ainda assim, Braga vê com bons olhos o avanço desta questão no Brasil. O executivo cita o ambiente de inovação aberta que existe hoje entre empresas, assim como o potencial que se abre com o 5G e o avanço do ensino à distância pós-pandemia, como potenciais alavancas para a promoção da educação necessária.

Presidente da Dell Brasil, Diego Puerta trouxe outras duas dimensões importantes ao debate sem as quais não vê como o Brasil pode avançar na promoção da inovação: a inclusão digital e o ambiente de empreendedorismo. O talento, pontuou o executivo, está presente no país, o que falta são as oportunidades.

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De acordo com o executivo, o Brasil é um país “complexo” para a abertura e operação de empresas, que são a base da inovação. Ao mesmo tempo, o País garante condições de trabalho ou estudo remoto, seja através de conectividade ou equipamentos, à uma pequena parcela pequena da sociedade, marginalizando a maioria da população no processo de inovação.

“Eu tenho certeza que o potencial existe. Todas as vezes que nós conseguimos dar condições para que as pessoas desenvolvam o seu talento, o Brasil é destacado. A gente consegue produzir, a gente consegue gerar resultado. Só que nós temos que facilitar o acesso de mais pessoas nesse processo e de mais empresas no ambiente de inovação”, afirmou.

Exemplo disso, segundo Puerta, é a própria Dell Brasil, que hoje exporta tecnologias e talentos  desenvolvidos dentro do País, atendendo subsidiárias da Dell globalmente através de soluções criadas aqui ou de profissionais. “Temos estagiários que entraram lá atrás que hoje lideram operações da Dell em diferentes regiões do mundo”, refletiu. “Nós precisamos aumentar a base. Temos pessoas e oportunidades, o que não estamos conseguindo é dar acesso a todos”.

Eduardo López, presidente do Google Cloud para a América Latina, também separou a dificuldade de se desatar o nó da inovação no Brasil em diferentes pilares. A educação é um deles, mas necessita, na sua avaliação, de um novo modelo de colaboração entre empresas e universidades para aproximar o conhecimento acadêmico de demandas atuais da tecnologia.

“Quando olhamos para a educação, precisamos de um olhar um pouco mais amplo: temos que olhar a educação e a empregabilidade. Temos que olhar o treinamento e desenvolvimento de pessoas, mas também como ajudá-las a ter um trabalho”, confirmou López.

O segundo pilar, pontuou o executivo, é uma necessidade maior de colaboração entre empresas para a promoção de transformação digital, com uma visão de desenvolvimento conjunto de projetos para a geração de novos cases de tecnologia que podem ser exportados a partir do Brasil. “Não ter uma visão de fornecedor, mas uma visão de parceria entre empresas”, avaliou. Por fim, López coloca as startups como o terceiro aspecto essencial para o desenvolvimento da inovação.

Esforços conjuntos para engajar ecossistema

Além da visão da educação como ferramenta para desatar o nó da inovação no Brasil, os executivos também concordaram que o caminho para promoção dessa transformação vem através da colaboração entre todos os membros de ecossistema de tecnologia – das gigantes do setor às pequenas empresas e seus clientes.

“Universidades, empresas, fornecedores de tecnologia. Nós, para resolver o nó, temos que ir com velocidade. Temos que trabalhar juntos, focar em desenvolver pessoas e em empregabilidade”, disse Eduardo López, do Google Cloud. “Se juntarmos nossos esforços, vamos ter uma velocidade muito maior e resolver o problema de termos a pessoa que precisamos para o nosso negócio”.

“Isso não é uma discussão individual. É um jogo que se joga em time. O discurso de todos nós foi nessa linha”, completou Braga, da IBM Brasil. “O nosso papel fundamental enquanto indústria de tecnologia é permitir a democratização do acesso à informação, aos serviços públicos, aos produtos e serviços dos nossos clientes”.

Ao finalizar, Diego Puerta, da Dell Brasil, deixou uma provocação para todas organizações do setor liderarem pelo exemplo. “Construímos uma agenda, um programa e nos unirmos é fundamental. Mas enquanto isso não acontece, vamos começar. Na sua empresa, na sua atitude, fazendo o seu papel”, pontuou. “Quando a gente começa a fomentar inovação, dar espaço, dar oportunidade, engajar com a universidade, é um efeito cascata que gera é muito grande. Isso gera tração e velocidade.”

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