Estratégia global de longo prazo impacta esforços da Intel no mercado brasileiro
Mudanças na estrutura de canais reflete novidades na linha Xeon, além de investimentos bilionários e de longo prazo em produção e novas tecnologias
Mais do que só reestruturar o time executivo para a América Latina, as novidades anunciadas para a operação brasileira da Intel nessa quinta (2) em São Paulo (SP) buscam alinhar, de um lado, novos produtos e features anunciados para o mercado corporativo em janeiro; e, de outro, a estratégia de canais local. Isso porque a nova geração de processadores da marca, a Xeon de quarta geração, depende mais do que nunca da capacidade de habilitar certos recursos para que se obtenha todo o ganho de desempenho prometido.
“Não é mais questão de core e frequência quando se trata de evolução dos processadores. É do software mais adequado”, disse Marcio Paulino, líder de tecnologia da Intel Brasil. Isso porque os processadores Xeon de nova geração contam com “aceleradores”, recursos que precisam ser habilitados e que impulsionam certos tipos de aplicação – para ser mais específico, inteligência artificial, storage, rede, analytics, segurança e computação de alto desempenho (HPC).
Isso, segundo a Intel, exige não só uma nova miríade de qualificações para os canais que trabalharem com Xeon, mas também uma nova forma de os abordar. Por isso o time de canais passou a ser liderado por um novo executivo, Marcelo Montenegro, que tem uma longa carreira na empresa e que atuava como diretor de negócios desde 2017.
Leia mais: Intel registra prejuízo de US$ 700 milhões no quatro trimestre
Agora Montenegro responde pela diretoria de canais, distribuição e ecossistemas, unificando suas responsabilidades. O nome longo se deve, em grande parte, à complexidade do ecossistema da Intel. Afinal a empresa vende para muita gente: fabricantes de dispositivos, de servidores, pequenas revendas, integradores etc.
Entre os fabricantes locais com parcerias estão Dell, Positivo, Cisco, HP, Supermicro, RealCloud e Lenovo, além de desenvolvedores de softwares e soluções.
“Estou cuidando não só dos componentes e dos fabricantes, mas também de fazer o desenvolvimento de produtos casar com os canais. Com a fusão e a criação de uma nova diretoria, vou poder trabalhar com um time que vai escalar as soluções”, disse. “Temos pessoas olhando para PC, para os fabricantes locais e multinacionais, clientes que trabalham com cloud, ISVs, servidores e cloud, para IoT temos um time em uma jornada de cinco anos”, resume.
Montenegro deve trabalhar em tabela estreita com André Ribeiro, diretor de contas empresariais e governamentais, que fica responsável pelo que ele mesmo chama de “topo da pirâmide”, ou seja, as maiores contas no País. Segundo ele, que passou a cuidar de um número menor de contas estratégicas no último ano, isso se deve à capacidade de “agregar mais valor e ajudar nossos clientes a investir em tecnologia”.
A ideia é ofertas soluções, não produtos, somando hardware, software e nuvem em soluções mais aderentes às necessidades de cada cliente em cada segmento. “Vender mais, melhorar o lucro, otimizar custos, estar mais aderente à agenda ESG”, resumiu.
Nenhum dos dois executivos descreveu novidades no IPA (Intel Partner Alliance), programa de canais e parceiros da empresa estabelecido há cerca de dois anos. Mas ambos asseguraram que a meta atual é oferecer conteúdo e treinamentos mais adequados para cada tema e segmento.
Intel IDM 2.0
Outro movimento da gigante de processadores americana que influencia diretamente a estratégia aplicada no Brasil e na América Latina é a chamado IDM 2.0, estratégia bilionária da empresa anunciada pelo CEO Pat Gelsinger em janeiro de 2022. Baseada em três pilares, o objetivo dela é não só aumentar a capacidade de produção da Intel no Ocidente (principalmente EUA e União Europeia) com fábricas próprias, mas também ter capacidade excedente para manufaturar tecnologia de terceiros – como da Qualcomm, por exemplo, que já tem uma parceria anunciada.
Também, claro, reduzir a dependência da cadeia global de suprimentos em TI da China (que hoje ainda concentra 80% de tudo que é produzido no mundo).
Na América Latina, além de uma fábrica na Costa Rica, a Intel tem apostado em esforços de pesquisa e desenvolvimento de soluções no Brasil e outros territórios na região. Inclusive deve anunciar, nos próximos meses, a participação em três consórcios para a construção de Centros de Pesquisa Aplicada no Brasil, um deles focado em inteligência artificial.
“Temos parcerias com players locais para a fabricação de alguns componentes, além de uma agenda com o governo [federal]”, disse Claudia Muchaluat.
“Aprendemos com a crise [da pandemia] que não podemos ter uma dependência grande [de um só fornecedor], por isso fábricas em outros locais que não a China. Vamos também terceirizar nossa produção, usando nosso conhecimento”, lembrou Montenegro, complementando a resposta de Claudia. “Esse processo deve começar em 2025 nas fábricas novas.”
Segundo Claudia, os investimentos e esforços feitos atualmente pela empresa são de longo prazo, por isso certos investimentos e mudanças de estratégia feitas agora vão gerar resultados financeiros no futuro. “Quando olhamos o IDM 2.0 falamos de como vamos ajudar terceiros a produzir. A questão não são só os custos, mas também os riscos e de como equilibrar tudo isso.”