‘Inclusão é o senso de pertencimento e diversidade são as características’

Em entrevista ao IT Forum, Hóttmar Loch, CEO da Nohs Somos, conta planos futuros da empresa e como mundo corporativo pode ser inclusivo

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4:36 pm - 10 de junho de 2022
Hóttmar Loch, CEO e cofundador da Nohs Somos. Foto: Divulgação Hóttmar Loch, CEO e cofundador da Nohs Somos. Foto: Divulgação

O primeiro censo LGBTQIAP+ sobre orientação sexual do IBGE apontou que 2,9 milhões de pessoas se dizem gays, lésbicas ou bissexuais, representando 1,8% da população. Porém, uma pesquisa da organização de mídia Gênero e Número, com o apoio da Fundação Ford, chegou ao número próximo a 20 milhões de brasileiros e brasileiras se identificando como LGBTQIAP+ e cerca de 92,5% dessas pessoas relataram o aumento da violência contra a população.

Segundo o documento, em comparação com os Estados Unidos, por exemplo, as trans brasileiras correm um risco 12 vezes maior de sofrer morte violenta do que as estadunidenses. E, de acordo com a ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), no Brasil, 68% dos jovens da comunidade entre 13 e 21 anos já foram agredidos na escola por causa da sua orientação sexual. Dados alarmantes como esse foram o motivador para um coletivo nascer criando um mapa amigável de locais seguros para a comunidade.

Esse é o início da história da Nohs Somos, uma startup de impacto social com foco em aproximar e mapear lugares amigáveis e em ajudar empresas a aprimorarem sua gestão inclusiva. “Nós não somos uma lista, somos uma organização dos dados. Fizemos as reuniões de cocriação como coletivo, lançamos uma campanha de financiamento coletivo, lançamos uma versão beta e ao estudá-la entendemos que estávamos falando de uma startup porque era escalonável e por ser um negócio social”, resume Hóttmar Loch, CEO e cofundador da Nohs Somos.

O executivo alerta para o olhar, muitas vezes negativo, sobre o uso de tecnologia apenas para extrair dinheiro do público. “Muitas empresas pegam os dados, ‘leem o futuro’ porque entendem os padrões e vendem para aquele grupo. Nós entendemos o comportamento, mas devolvemos a informação para a comunidade”.

Atualmente, nove mil pessoas usam o site da empresa com o mapa que revela quais são os estabelecimentos bem avaliados de acordo com a avaliação de outros usuários da plataforma. Ao avaliar, comentar e mandar convites, a pessoa também ganha recompensa – uma maneira da Nohs Somos ter cada vez mais gente em sua plataforma. A meta, até o fim do ano, é chegar a 40 mil usuários.

Os pilares de avaliação, hoje, são: mulheres trans e cis, diversidade racial (lugares antirracistas) e lugares para a comunidade LGBTQIAP+. Ao clicar em um estabelecimento, estão disponibilizados o número de avaliações, sua nota total, e selos como “Espaço Lgbti+”, “Atendimento acolhedor”, “Público Respeitoso”, entre outros. Há, ainda, avaliações por cada letra da sigla, como bissexual, gay ou lésbica.

O próximo passo, nos conta em primeira mão Hóttmar, é o lançamento do aplicativo da plataforma. “Para ele, temos outras frentes que queremos trazer. Queremos lançar entre o último semestre deste ano e o primeiro de 2023 e teremos os serviços amigáveis. Hoje, nós destacamos os lugares e, para o aplicativo, estamos buscando empresas para o lançamento. Quando falamos de serviços amigáveis, o preconceito e a discriminação estão tanto nos lugares quanto nos serviços como, por exemplo, áreas da saúde”, explica.

Um novo olhar para as empresas

Além do mapa, a Nohs Somos possui, desde 2020, uma consultoria de diversidade e inclusão que já atendeu grandes clientes, como Nubank, CVC e L’Oreal. O serviço tem dois pilares: educação corporativa e construção de um plano de diversidade e inclusão.

 

Nohs Somos

 

O mapa da Nohs Somos. Foto: Divulgação

“No caso de educação corporativa, focamos em inclusão. Apesar das duas palavras andarem juntas, inclusão e diversidade não são a mesma coisa. Inclusão é o senso de pertencimento e diversidade são as características de cada pessoa. Não é mais ‘se eu vou falar de diversidade e inclusão’, é ‘quando’. Quando a gente fala de diversidade e inclusão nas empresas, inclusão eu posso fazer agora – eu posso reconstruir minha organização, revisitar meus valores, definir um plano, ter um canal de ouvidoria, meu posicionamento, etc. No caso de diversidade – atrair pessoas diversas é um plano de médio e longo prazo. Não é sobre trazer as pessoas porque são diversas, é ao contrário, as pessoas bloqueiam quem é diverso. Precisamos destravar esse processo”, alerta Hóttmar.

A educação corporativa vem com objetivo na capacitação e treinamento tanto para colaboradores quanto para as lideranças. Para isso, a startup usa de perspectivas culturais e vivência interna. Alguns exemplos são levar cantores e cantoras na diversidade e arte drag para educar pelo humor.

Já a construção de um plano de diversidade e inclusão tem foco em design de serviços. “Todo o plano parte da pergunta ‘por que é importante falar sobre isso?’. Conversamos sobre isso com a liderança, C-levels, comitê e colaboradores. Entendemos os dados da organização (pesquisa de clima, senso demográfico, análises de escuta, entre outros) e construímos colaborativamente por meio do design thinking”, explica o CEO.

Nesses casos, a meta não é apenas cultural, mas em produto. “A gente começa com a pergunta do porquê para fazer um link com o negócio.  Entendemos possibilidades de produtos e ações diferenciadas. Pode ter um canal de escuta, um painel, um bot para falar sobre um perfil específico, construir eventos, fazer ferramentas novas dentro do sistema. A gente pode entender o quanto usamos acessibilidade nas plataformas ou se o produto tem acessibilidade para público externo”, exemplifica.

Agora, a Nohs Somos quer ir além e misturar os públicos B2B e B2C. Em um piloto com uma grande distribuidora de bebidas, estão realizando um piloto para medir a inclusão na cadeia de valor do varejo.

“Buscamos empresas ligadas ao varejo que tenham conexão com perfil de consumo. Dentro disso, medimos a inclusão nos pontos de venda por meio de uma campanha de marketing intencional para consumirmos os dados da comunidade – por exemplo, como elas se sentiram em certos marcadores nesses lugares. Geramos relatórios sobre os locais amigáveis e não amigáveis e naqueles negativos fazemos um projeto de inclusão”, comenta Hóttmar

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