Depois de quase 4 anos, HoloLens 2 chega ao mercado corporativo brasileiro
Dispositivo de realidade mista foi adaptado ao mercado local e quer popularizar uso por corporações. Embraer e PBSF são primeiros business cases
A segunda versão dos óculos de realidade mista da Microsoft – o HoloLens 2.0 – foi lançado mundialmente no segundo semestre de 2019. Apesar do já longo tempo de mercado, só agora, quase quatro anos depois, a empresa anunciou a chegada do dispositivo ao Brasil, exclusivamente para o mercado corporativo e via parceiros selecionados.
O anúncio foi feito nessa terça (21) em evento para parceiros de negócio da Microsoft no Brasil – a imprensa foi convidada.
São duas versões. A padrão (ou standard) com preço estimado de varejo de US$ 7.729,00, e a industrial por US$ 10.973,00 (já considerando impostos e taxas, mas os preços podem variar de acordo com fatores de distribuição). Esta última versão conta com certificações que, segundo a fabricante, tornam o uso possível em ambientes controlados, como hospitais, laboratórios e planta fabris, além de ter garantia de dois anos de garantia (a versão padrão tem apenas um ano).
Os valores são quase o dobro do verificado no site oficial da empresa para o mercado norte-americano (o custo gira em torno de US$ 3.500,00). Segundo Marcondes Farias, diretor de produto de Dynamics 365 e Power Platform da Microsoft Brasil, o dispositivo sofreu adaptações para o lançamento no mercado local, o que justifica a demora e o preço mais elevado.
“[O HoloLens 2] É vendido e fabricado para o Brasil”, disse. “Houve um trabalho de cooperação entre times de P&D no Brasil e nos EUA.” A fabricação do dispositivo não é feita localmente, e os esforços de importação do dispositivo, já adaptado, ficam por conta da Ingram Micro – o local de onde as peças vem não foi revelado.
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Outra justificativa para a demora é, segundo a Microsoft, a fase de maturação desses dispositivos, principalmente nos mercados estadunidense e canadense, além do europeu. “Fizemos o lançamento em 2019 e consolidamos a solução nos EUA, Canadá e Europa para testes. Em 2021 a Microsoft entendeu que poderia lançar em mais mercados”, ressaltou, citando também lançamentos recentes na Colômbia e no México. “O motivo foi estratégico: consolidar e fazer a tecnologia funcionar bem.”
Segundo Farias, a os esforços da Microsoft na área de realidade aumentada (ou mista) vão continuar, apesar das demissões recentes que alegadamente afetaram o tamanho do time da empresa dedicado a essas soluções globalmente. “Apesar das demissões estamos investindo mais, não menos. E o Brasil está se destacando”, disse.
Esses investimentos da Microsoft – de valor não relevado – fazem parte de um conjunto de soluções em “metaverso industrial”, que compreendem a aplicação de tecnologias como a realidade mista em cenários de manufatura e indústria. A chegada ao Brasil, segundo Farias, foi inclusive um pedido de empresas multinacionais que usam o HoloLens em outros mercados e queriam utilizar a tecnologia também por aqui.
Parceiros como pilar
Como todo produto iminentemente corporativo, a estratégia da Microsoft para o HoloLens 2 no Brasil depende fortemente de parcerias. Segundo a empresa, já são quase 200 parceiros de integração e desenvolvimento homologados. No Brasil, a Ingram Micro é o primeiro (e único) distribuidor do dispositivo, com a SLMIT sendo a primeira parceira de implementação. Digital Pages, Accenture e DXC também tem business cases.
Segundo Tânia Cosentino, presidente da Microsoft Brasil, o HoloLens é o mais novo elemento de um investimento de longo prazo feito pela empresa no País, e que inclui a disponibilização de novas zonas de Azure. “Assim podemos oferecer para qualquer cliente um serviço top, com baixa latência e cobrando em reais. Só faltava o Hololens”, disse aos presentes no lançamento.
Segundo ela, o grande ganho para as diversas indústrias que podem fazer uso do dispositivo – e da realidade mista – é de produtividade e segurança, além de melhorar as possibilidades de treinamento de funcionários. Com o HoloLens conectado ao Dynamics 365 e ao Power Platform rodando em Azure, cria-se “condição transformacional para aplicar nas indústrias”, ressaltou Tânia.
O desenvolvimento de soluções associadas ao novo dispositivo ficará a cargo do ecossistema de parceiros, sejam desenvolvedores independentes e locais ou consultorias globais. Segundo Farias, as APIs e SDKs são “documentados e públicas para que qualquer pessoa possa desenvolver”. Ao longo dos próximos dias e meses, Microsoft e Ingram Micro devem promover esforço extra no treinamento desse ecossistema de distribuição e integração.
“Os treinamentos estarão no Conecta Mais (plataforma de capacitação da companhia). Qualquer pessoa pode achar as trilhas de soluções de realidade aumentada [que rodam] em cima de HoloLens”, disse.
Também há um conjunto de soluções prontas da própria Microsoft, como o Guides e o Multiassist – basta comprar licença e usar.
“Algumas indústrias se beneficiam imediatamente. Se penso em manufatura, há a possibilidade de aumentar produtividade e eficiência e reduzir acidentes de trabalho”, lembra Farias, citando outros setores, como saúde, ensino superior e varejo.
Uso do HoloLens 2: Embraer e PBSF
Dois casos de negócio práticos do uso do HoloLens 2.0 foram apresentados pela Microsoft no evento dessa terça. O primeiro da Embraer, gigante nacional da aviação, que usa o dispositivo há alguns anos, principalmente para colaboração entre especialistas espalhados por diferentes plantas fabris.
Desde março de 2022 a empresa deixou de apostar em provas de conceito (PoCs) para uma implantação definitiva, e o dispositivo tem sido usado para conectar engenheiros em processos fabris. Entre os benefícios obtidos estão melhor qualidade de atendimento para os clientes – internos e externos -, além de economias de deslocamento e mais eficiência no atendimento aos requisitos de documentos técnicos.
Outro exemplo prático demostrado foi o feito pela PBSF (Protegendo Cérebros, Salvando Futuros, na sigla em inglês), startup da área de saúde que busca usar a tecnologia para prevenir sequelas neurológicas em recém-nascidos. O dispositivo é usado na avaliação de crianças recém-nascidos com alto risco de lesão cerebral permanente.
A empresa atende mais de 40 hospitais públicos e privados em todo território brasileiro. Estimativas da PBSF indicam o nascimento de 20 a 30 mil crianças com problemas dessa natureza anualmente, e uma ação rápida da equipe clínica pode minimizar ou mesmo zerar sequelas.
A empresa vê no HoloLens 2 um aliado. O médico pode fazer o acompanhamento do recém-nascido usando o dispositivo da Microsoft para se conectar aos especialistas da PBSF, baseados em uma central de vigilância e inteligência em São Paulo (SP). A central oferece aos hospitais um monitoramento da atividade cerebral, além de promover o cuidado a bebês de alto risco. Os profissionais podem avaliar, conjuntamente, o diagnóstico e indicar se o bebê precisa de um tratamento específico.
O primeiro hospital a utilizar o HoloLens 2 será a Santa Casa de São Paulo e o recurso será oferecido para as outras instituições de saúde parceiras da PBSF. “A solução vai nos ajudar a oferecer o melhor tratamento para o maior número de crianças, no Brasil e no mundo, incluindo em regiões mais afastadas ou de difícil acesso”, pondera Gabriel Variane, CEO e fundador da PBSF.