Gartner: IA generativa vive fase entre o hype e a desilusão
Na abertura da conferência CIO & IT Executive 2024, analistas do Gartner apontaram desafios para implementar provas de conceito de IA
A inteligência artificial (IA) generativa vive uma fase entre o hype e a desilusão, o que traz grandes desafios para os CIOs que estão explorando a tecnologia em suas organizações. O tema foi o centro do debate da keynote de abertura da conferência CIO & IT Executive 2024, do Gartner, que ocorre nesta semana em São Paulo.
De acordo com dados da empresa de consultoria e pesquisa, 47% dos CIOs afirmam que as iniciativas de IA generativa promovidas em suas empresas ainda não mostraram retorno sobre o investimento (ROI). Ao mesmo tempo, 92% dos CIOs brasileiros participantes do estudo Gartner AI Survey preveem que aumentarão seus investimentos no tema em 2025.
O motivo desse descompasso é a fase ambígua que a tecnologia atravessa: por um lado, estamos no pico de uma corrida de fornecedores de tecnologia — como lembra Álvaro Mello, vice-presidente Advisory do Gartner, a cada dois dias um novo modelo fundacional de IA é lançado na indústria —; por outro lado, empresas já vislumbram o “vale da desilusão” com a tecnologia, diante do desafio de comprovar o ROI.
“É por isso que nos sentimos no auge e no vale da IA ao mesmo tempo. Há um ritmo frenético de inovação acontecendo do lado dos fornecedores, o que faz líderes de TI se sentirem em meio ao hype. Mas a realidade é que os resultados da IA os fazem sentir no vale da desilusão, porque é difícil extrair valor de verdade”, comenta Mello.
Segundo o analista, para enfrentar esse desafio, os CIOs precisam avaliar a realidade de suas organizações e definir uma estratégia clara de adoção.
De um lado, há o ritmo “AI steady”, que pode ser adotado por organizações em áreas que ainda não foram completamente transformadas pela IA e que têm ambições “modestas” em relação à tecnologia. Já em indústrias que estão em um ritmo acelerado de adoção de IA, os CIOs devem optar pela abordagem “AI accelerator”.
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“Uma das formas de determinar em qual ritmo você deve avançar é analisar quais benefícios a empresa busca com IA. Se a produtividade dos funcionários é o foco principal, o ritmo ‘AI steady’ é uma boa ideia. Mas, se a liderança está buscando todos os benefícios da IA, é preciso seguir no ritmo ‘AI accelerator'”, orienta Hung LeHong, vice-presidente e analista distinto do Gartner.
Contudo, mesmo a abordagem mais modesta pode não ser simples. Dados da própria consultoria mostram que 98% dos líderes de TI relatam que seus funcionários estão ansiosos para usar ferramentas de IA. No entanto, quase três quartos (72%) dizem que esses mesmos trabalhadores ainda têm dificuldades em integrá-las ao dia a dia de trabalho. Na prática, isso leva ao desperdício de, em média, 10% a 30% dos ganhos de produtividade gerados pela IA dentro das organizações.
Uma das soluções para mitigar essa barreira é ajustar o nível de adoção de IA de acordo com as funções específicas de cada colaborador, defende LeHong. “A regra básica é que você conseguirá extrair mais produtividade da IA quando ela for empregada em tarefas de baixa complexidade por uma pessoa com pouca experiência, ou em tarefas de alta complexidade por alguém com muita experiência”, explica. “Todos os funcionários obterão algum tipo de avanço, mas há um ponto ideal.”
Além de uma análise cuidadosa da produtividade, os analistas recomendam também atenção aos custos da IA. Segundo Mello, os investimentos em IA não são equivalentes aos realizados em outros sistemas convencionais de TI.
“Os custos são um risco tão grande quanto segurança e alucinações. Com a IA generativa, é muito fácil desperdiçar dinheiro”, alerta. “Esse desperdício pode vir de várias áreas: da inferência à preparação de dados.” De acordo com o Gartner, em média, as organizações que já investiram em IA generativa gastaram entre US$ 300 mil e US$ 2,9 milhões em 2023 — apenas durante as fases de prova de conceito.
Assim como aconteceu com o ganho de maturidade no uso da nuvem, as organizações precisam estar atentas e entender suas despesas com IA. O analista destaca, por exemplo, que um controle de custos mais eficiente foi obtido por clientes que utilizaram uma API de IA em vez de uma solução completa pré-empacotada. “Ao realizar uma prova de conceito, entenda como o custo evoluirá com o ganho de escala”, recomenda.
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