Em evidência, CIOs usam digitalização para gerir custos e oportunidades
Projetos envolvendo soluções como interação por vídeo e serviços touchless entraram na rota de investimentos das empresas
Não é novidade que os executivos de TI foram mais demandados nos últimos meses como nunca. Seis meses após a chegada da Covid-19 no Brasil, como executivos de TI de diferentes setores trabalharam para reduzir o impacto causado pela política de distanciamento social e aplicar soluções que poderiam mitigar perdas? O tema foi abordado durante o painel CIO em evidência – planos e desafios da TI para retomada de projetos e negócios, realizado durante o IT Forum Anywhere.
Com mediação de Sérgio Lozinsky (Lozinsky Consultoria), os CIOs Ailton de Almeida Queiroz (Coamo), Rodrigo Aguiar (Merck) e Kleber Linhares falaram sobre os principais desafios encarados nos últimos meses e as oportunidades de aplicação de novas tecnologias que surgiram por conta da crise.
Alterando rotinas
Reunindo 29 mil produtores em três estados, além de abrigar uma corretora de seguros, offshore e cooperativa de crédito, a Coamo viveu uma realidade diferente do que outras empresas, por estar localizada no interior. Como explica Queiroz, a empresa fechou seus serviços de recepção, mas já tinha canais estruturados em frentes digitais, o que diminui de forma considerável o impacto dos negócios.
“A nossa maior dificuldade foi no sentido de atender ao cooperado mais velho, que prefere fazer a visita presencial e não está acostumado, ou muitas vezes nem sabe, utilizar os canais digitais”, explicou o executivo.
A questão de infraestrutura também não foi um problema para Aguiar, que comanda a TI da Merck no Brasil – de acordo com ele, o sistema não alcançou nem a metade da capacidade máxima de conexões suportadas. O desafio, explica, esteve concentrado na forma como a empresa manteria o relacionamento com um de seus principais stakeholders: os médicos.
“A gente entrou em um papel, acho que bem estratégico, de começar a disponibilizar meios e canais digitais para essa interação. O mais interessante é que não foram canais implementados na pandemia: eram já pré-existentes, mas que não havia uma certa utilização pela questão do conservadorismo que existe dentro da indústria.”
Segundo Aguiar, atualmente o formato de visitação presencial já retornou em algumas regiões do país, mas ele acredita que o modo híbrido ainda será adotado para ocasiões como eventos e visitas, por conta de vantagens como mobilidade e capacidade de atender um maior número de pessoas.
Contenção e planejamento
Atuando dentro de uma das áreas mais atingidas pela pandemia, Kleber Linhares explica que a Azul chegou a operar apenas com 5% da capacidade de voos, gerando necessidades como encontrar locais para guardar as centenas de aeronaves que ficaram no chão. Sem falar que o planejamento foi impactado de forma significativa já que nada armazenado no histórico de dados poderia auxiliar a empresa a predizer tendências a pensar em ações.
De acordo com o executivo, o primeiro momento foi dedicado a definir em quais áreas de atuação a empresa poderia agir no momento “A gente teve que aprender a priorizar certo e entender o que a gente ia fazer e o que a gente podia fazer.”
Linhares explica que, com o passar dos meses, a empresa começou a se reorganizar para estar pronta para uma retomada, investindo em soluções que pudessem ajudar a marca a otimizar custos. Com base nas oportunidades, o executivo criou cinco principais iniciativas nas quais sua equipe está trabalhando no momento.
“Um exemplo típico é o que a gente está fazendo com aeroporto, ninguém quer mais tocar em nada. Então você pode usar isso de uma forma para incentivar muito mais o autosserviço. Aí a gente vem com uma linha de jornada para tentar, incentivando a solução, ter resultados que a gente vem buscando e ao mesmo tempo oferecer um serviço que o cliente pede.”
O CIO também explicou que o momento também o ajudou a olhar para o backoffice e implementar mudanças que automatizem ou otimizem soluções. Para isso, a companhia realizou uma parceria com a Oracle para mudanças em setores como ERP e serviços compartilhados.
Digital dentro da estratégia
Na Coamo, Queiroz explica que a Coamo vive um momento em que a cooperativa busca utilizar o digital para aprimorar o que já existe. “Estamos pensando no que eu [enquanto cooperativa] posso melhorar na vida do produtor no ponto de vista digital, aproveitando essa onda que mexeu com o modo de vida de todos.”
Com a retomada em mente, Rodrigo Aguiar, da Merck, explica que a companhia está usando o momento para revisitar o modelo de segmentação aplicado pela marca, entendendo a jornada de cada médico para dimensionar e estruturar o contato de forma personalizada.
“Não adianta criar um modelo “one size fits all” (um tamanho para todas as situações, em tradução livre), porque não vai dar certo.” Para levar esse plano da prática, a farmacêutica está investindo em recursos de análise de dados para, no longo prazo, expandir essa revisitação de jornadas também aos pacientes.
Linhares também ressalta a importância do uso de dados especialmente no cenário atual, na qual a redução de custos é uma realidade em grande parte dos negócios. “Em um período de escassez obriga a gente a fazer o certo. E fazer o certo está ligado a saber o que se fazer. Você vai precisar entender aonde o cliente está sofrendo, o que ele está precisando. Será necessário um trabalho dentro de casa, nas bases, para compreender de uma forma estruturada e tangível aquilo que precisa ser feito”.
Para o executivo, não é mais possível pensar em um futuro no qual um profissional de tecnologia não utilize os dados para fundamentar decisões de negócio. “Ninguém vai começar do dia para a noite como um grande oráculo de informação. Mas se não começou, eu aconselho profundamente que comece porque é isso que dará o combustível e recurso para levar projetos e ideias para frente.”