‘É mais fácil concorrer contra multinacionais do que com startups’

Carlênio Castelo Branco, CEO da Senior, fala de portfólio, aquisições e inovação. Empresa quer crescer 25% e faturar R$ 550 milhões em 2021

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11:10 am - 11 de maio de 2021
Carlênio Castelo Branco, Senior Carlênio Castelo Branco, CEO da Senior (Foto: Divulgação)

Com expectativa crescer 25% e atingir R$ 550 milhões em receitas até o fim de 2021, e com três aquisições anunciadas em menos de quatro meses, a catarinense Senior Sistemas não esconde que o grande objetivo atual é ser referência no concorrido mercado nacional de softwares de gestão. Em abril, a empresa anunciou crescimento de 34% no primeiro trimestre de 2021, superando R$ 140 milhões em receita.

O resultado, diz Carlênio Castelo Branco, o CEO da empresa, se deve principalmente a dois fatores. Primeiro o trabalho com o próprio portfólio, que inclui o lançamento de produtos e ofertas. Segundo por uma estratégia agressiva de aquisições, incluindo de empresas fora do Brasil e mirando a internacionalização e o crescimento em segmentos específicos de mercado.

A primeira aquisição anunciada pela empresa em 2021 foi a da colombiana Novasoft, especialista em softwares de gestão empresarial (ERP) e de recursos humanos. O movimento inaugurou a operação internacional da empresa, começando pela América Latina. O CEO diz que se trata de uma demanda impulsionada por clientes com operações internacionais e que queriam os produtos da empresa em outras praças.

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“Chegamos à conclusão que era um momento legal, tínhamos um porte legal para ir para fora”, conta Castelo Branco, que encomendou estudos para identificar que países seriam ideais para um primeiro passo. “Chegamos em dois, México e Colômbia. Identificamos que deveria ser a Colômbia porque é mais próxima e fácil de chegar. Visitamos mais de 10 empresas até anunciar essa aquisição. É um projeto, faz parte da estratégia.”

Outro alvo da empresa é o mercado de logística. A última aquisição da empresa, anunciada em abril, foi a da carioca GKO. A empresa é especialista em sistemas de gestão de transporte, ou TMS, na sigla em inglês. Em fevereiro havia sido a vez da paulista Alcis, trazendo para o portfólio da Senior recursos de WMS (sigla em inglês para sistema de gerenciamento de armazéns).

Com o movimento, diz a Senior, cerca de 40% das operações de e-commerce no Brasil passam pelos sistemas WMS e TMS da empresa, o que a consolida como “principal fornecedora” de tecnologia para otimização de operações logísticas no país.

“E temos outras [aquisições] no nosso radar, estamos negociando e conversando. É bem possível sim que nos próximos meses saiam outros anúncios”, disse Castelo Branco em entrevista ao IT Forum, ressaltando que o reforço no mercado de logística não é mero acaso. “Já tínhamos adquirido empresas logísticas, [é um mercado que] cresceu um absurdo pós-COVID. É tudo parte de uma estratégia maior de aquisições que vamos procurando ao longo do tempo.”

Estratégia de expansão

Perguntado pela reportagem que outras empresas serão adquiridas no futuro, Carlênio é cuidadoso ao dizer que uma companhia só pode ser considerada adquirida “uma vez assinado o contrato”. Mas, diz, parte do sucesso em uma estratégia de fusões e aquisições é o respeito pela história do negócio adquirido.

“Se para gente é mais uma aquisição ou produto na prateleira, para o outro lado é a empresa que começou do zero e [o dono] batalhou muito. Tem que ter muito respeito pelas pessoas, pela cultura da empresa”, diz o CEO.

Contrariando a liquidez do mercado de venture capital, que sucessivamente bate recordes de investimento em startups no Brasil, os movimentos da Senior são totalmente financiados por recursos próprios. Segundo Castelo Branco, a empresa conta com alta capacidade de geração de caixa, e boa parte dos recursos são reservados para futuras aquisições. O executivo não conta qual é esse valor, mas em 2020 a empresa faturou no total R$ 460 milhões.

Isso não significa abdicar de capital de terceiros. “No momento em que precisarmos de recursos por algum motivo, se for uma aquisição maior, atualmente é um bom momento para conseguir. Diversos canais são possíveis, desde fundos de investimentos até a abertura de capital [IPO], empréstimo”, diz o executivo. “O capital está mais barato.”

Apesar de mencionar um IPO, Carlênio garante que não é um assunto discutido pelo conselho da Senior.

Portfólio em mutação

Conhecida no mercado pelos produtos voltados para recursos humanos, que sempre foram “o carro-chefe” da Sênior, segundo o próprio Carlênio, nos últimos anos houve uma guinada. Apesar de os produtos de RH terem crescido, houve um investimento no ERP da empresa, que contou inclusive com aquisições.

Hoje os dois produtos – RH e ERP – tem tamanhos semelhantes em termos de faturamento na Senior. Somado ao portfólio de logística, eles respondem por entre 85 e 90% de toda receita obtida pela companhia. Castelo Branco, no entanto, espera que o ERP ganhe cada vez mais relevância, considerando que ele foi recentemente reescrito para se tornar nativo de nuvem.

Outra frente de investimento importante para a empresa é a fintech wiipo, lançada em junho de 2020. Ela aposta em um nicho de mercado inédito para a Senior, o de serviços financeiros. Entre outras coisas, a startup atrela aos softwares de RH e ERP recursos de antecipação de recebíveis, geração de boletos e tomada de crédito.

É a primeira vez que a empresa externaliza esforços de inovação. A empresa conta com equipes específicas com esse propósito para repensar os próprios sistemas core. São formas da empresa enfrentar grandes players do mercado de sistemas, desde gigantes multinacionais como Oracle e SAP até outros nacionais, incluindo Totvs e fabricantes de nicho.

“O que diferencia [a Senior] contra players tão grandes? Primeiro o conhecimento de mercado e a agilidade. O sonho de todo empresário é que as leis fossem mais simples no Brasil, mas não são. E uma multinacional custa a entender o ambiente”, diz Castelo Branco. “Eu te digo que é mais fácil concorrer contra as multinacionais do que com as startups nascendo super ágeis e que resolvem só um probleminha.”

O executivo ressalta que é que é preciso “respeitar os grandes e o poder de investimento deles”, mas que presta particular atenção nas startups quando se trata de concorrência. “É ali que estão nascendo produtos disruptivos”, diz.

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