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Dia do Orgulho Geek: mulheres seguem se fortalecendo no cenário competitivo dos games

Nicolle Merhy é uma referência feminina no mundo dos games e e-sports do Brasil. Também conhecida como Cherrygumms, foi a única atleta mulher do jogo Rainbow Six Siege da América Latina a competir como titular dos principais campeonatos Tier 01 da franquia. Em comemoração ao Dia do Orgulho Geek, conversamos com ela, que furou uma bolha masculinizada e se tornou inspiração para outras mulheres.

Atualmente, é co-CEO da Game Code e CEO da Black Dragons, um dos principais times de E-sports do Brasil e participa ativamente das discussões em torno da regulação dos esportes eletrônicos, como a audiência do Senado Federal em 2019.

Em entrevista ao IT Forum, Nicolle nos contou um pouco mais de sua história antes de se tornar protagonista nos games e como mercados tradicionais estão olhando para o mercado para aprender e evoluir.

“Todas as esferas tradicionais olham para nós. No fim do ano passado, teve engenheiro de produção entrando na Black Dragons para entender a nossa produção: linha competitiva, criativo, administrativo, quais são as linhas para um organograma. Como é um mercado ainda em desenvolvimento e se profissionalizando, todas as profissões que agregarem com uma ideia do passado, vai crescer”, exemplifica.

Confira os melhores momentos do bate-papo:

IT Forum: Como você vê as mulheres no mercado dos games?

Nicolle Merhy: É uma relação de amor e ódio. Mas temos que pensar no contexto, nós mulheres tivemos acesso tardio à tecnologia e a algumas informações. Por conta disso, tivemos menos mulheres nesse meio. Embora esteja crescendo porque já não temos esse pensamento.

Voltando um pouco no tempo, meu pai é técnico de informática e teve duas filhas. Ele ensinou sobre jogos para a gente como ensinaria para homens. Eu só comecei a ver que era um mercado masculinizado mais velha, porque eu não tinha essa percepção. Eu tive o privilégio de ter uma família muito instruída, muito bem letrada. Minha casa foi diferente: minha mãe trabalhava durante a semana e o meu pai cuidava da gente. Então dentro de casa eu nunca tive a visão de diferenças entre mulher e homem porque nunca teve.

Depois de mais velha comecei a ver que tem a diferenciação. Quando entrei para o mercado de e-Sports em 2016, entrei como a primeira jogadora mulher e o pessoal se perguntava quem eu era. Eu só queria jogar, eu não via essa diferença. Tem sete anos que eu meu tornei jogadora profissional, virei CEO e senti uma evolução muito grande no mercado.

Leia mais: Games crescem em importância no Brasil para grandes fabricantes de tecnologia

Também tive outras mulheres da indústria que me inspiraram. Como a Nyvi Estephan, que me apresentava nos campeonatos. Ela foi a primeira mulher referência para mim no E-sports. Eu ajudei o mercado no aspecto competitivo e ela no aspecto de imagem e apresentação.

Sofri machismo e assédio e é óbvio que em momentos isso machuca, mas sinto que estamos evoluindo. Por décadas, só se ouviu homens narrando, então você ver a mulher narrando tem um incômodo para alguns. Estamos aos poucos reeducando ou educando pela primeira vez o público masculino de que temos os mesmos espaços que eles. Esse processo é custoso de energia para quem está ensinando, custoso de sentimentos para quem está passando pela situação e ainda temos um longo caminho. No cenário competitivo, são raríssimas as mulheres que estão no mercado. Hoje não tem mulher que joga misto, mas estamos nos fortalecendo para que novos talentos existam.

IT Forum: A visão de outros profissionais está mudando sobre aqueles que trabalham com E-sports?

Nicolle Merhy: O mercado está muito mais forte do que quando eu comecei. Até as redes sociais não eram tão consumidas como hoje. O digital está crescendo muito. Da pandemia para cá, a gente realmente entrou no digital, novas pautas como metaverso e IA são discutidas e cada vez mais entraremos para o digital.

Quando eu comecei a jogar, em 2016, não existia cenário profissional, não existia Twitch e estamos falando de seis, sete anos atrás. Olha como o grau de crescimento do mercado e reconhecimento do mercado cresce em uma esfera muito grande.

Ainda estamos em um momento que tem tanta coisa nova surgindo que precisamos entender onde o game está. Tem profissão? Não tem? Porque para as pessoas não estão focadas nesse meio, é algo novo. Assim como foram, no passado, as redes sociais.

Nós estaremos cada vez mais atrelados ao digital. É imprudência a gente pensar que não estará.

IT Forum: Existem outras profissões que estão olhando para os games?

Nicolle Merhy: Toda a publicidade como conhecemos, BI, toda área de criativa, está entrando em massa em games porque é um nicho que conversa muito. A área de tecnologia e programação também olha para isso. O Brasil é um dos países que mais tem falta de desenvolvedores e eles olham para o mercado de software, aplicativos e IA. A IA também é muito usada na leitura de campeonatos para saber o padrão do time.

A área de direito olha para nós pois está estudando sobre a regulamentação do E-sports. Desde 2019, há essa dúvida sobre regulamentar ou não o mercado.

Todas as esferas tradicionais olham para nós. No fim do ano passado, teve engenheiro de produção entrando na Black Dragons para entender a nossa produção: linha competitiva, criativo, administrativo, quais são as linhas para um organograma. Como é um mercado ainda em desenvolvimento e se profissionalizando, todas as profissões que agregarem com uma ideia do passado, vai crescer.

Estamos importando profissionais e para entrar nesse mercado vai ter que aprender sobre games e E-sports e, em consequência, sobre tecnologia.

IT Forum: Como é o mercado brasileiro de games?

Nicolle Merhy: O Brasil é um cenário extremamente bons para jogos de tiro em nível mundial. Somos campeões em diversos torneiros. Em jogos estratégicos, como League of Legends, há outros países mais fortes.

No todo, estamos super bem. Somos a terceira maior visibilidade do mundo (atrás da China e dos EUA, respectivamente). No Ocidente, somos o segundo maior país. Nossa força de reconhecimento de mercado é forte, mas internamente não quer dizer que somos reconhecidos. Ainda temos um governo que tem dúvidas de ser um mercado frutífero, apesar de ser um mercado bilionário.

IT Forum: O que você diria para as empresas sobre o mercado de games?

Nicolle Merhy: A gente está em um momento muito específico no mundo. Temos uma recessão, está instável. Ainda estamos em dúvida do que irá acontecer. Nós somos um público que é sedento pelo digital, que entende e reconhece o digital, que precisa ser mais bem capacitado, mas que tem um nível de capacidade de execução muito grande.

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