Como ambientes de trabalho mais colaborativos podem contribuir com a transformação digital?

Consultor de RH, Raimundo Ramos explica como a confiança e empatia geram equipes mais seguras e contribuem para a produtividade e renovação das empresas

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7:32 am - 19 de agosto de 2018

Tecnologias têm avançado exponencialmente. Pense em como os smartphones possibilitaram uma série de disrupções em diferentes indústrias: do Facebook ao Uber, dos supermercados on-line aos bancos digitais. Mas, apesar de todo o avanço tecnológico e todo o poder computacional conquistado, muitas empresas não têm acompanhado o mesmo ritmo, apontou Raimundo Ramos, palestrante de coaching e consultor da área de Recursos Humanos, durante o IT Forum+, evento promovido pela IT Mídia que aconteceu nesta semana na Praia do Forte, Bahia.

Para Ramos, as empresas têm falhado em engajar seus funcionários. Ele cita um levantamento feito com organizações nos Estados Unidos que indicou que 72% das pessoas não estão alinhadas com os propósitos das empresas. E alerta: não é só a ascensão dessas carreiras que está em jogo aqui, mas também o crescimento e a renovação das empresas. Colocando as coisas em perspectiva e na balança, Ramos é categórico ao dizer que companhias que não conseguiram se renovar tiveram de fechar as portas. Daquelas que integravam a Fortune 500 em 1995, somente 11% estão ativas hoje, lembra.

“A pergunta que temos de fazer é, como eu, gestor da tecnologia, posso trazer essas pessoas para a transformação digital em um contexto de complexidade”, questiona a audiência.

Ramos parafraseia o autor Peter Drucker, que diz que diante de cenários complexos e de competitividade, o perigo não é a turbulência em si, mas sim agir da mesma forma. “Os mesmos problemas não podem ser resolvidos como se fazia no passado”. A solução está entre olhar o desafio de maneira sistêmica e holística, integrando o todo a partir de um elo sensível: o humano.

Saída são os outros

Durante workshop realizado com executivos de tecnologia no IT Forum+, o consultor propôs um exercício conhecido como “World Cafe”. O objetivo é, em sessões de 15 minutos, gerar diálogos colaborativos entre as equipes, nos quais os indivíduos são convidados a compartilhar seus conhecimentos e descobrir novas oportunidades de ação conjunta diante um problema ou projeto. “O sentido da metodologia é a troca de conhecimento. Nós, somados, sabemos muito mais coisas do que isolados”, incentiva.

Ramos define algumas palavras chave que devem guiar gestores em busca de equipes mais engajadas:

  • Empatia: a habilidade de se colocar no lugar do outro ajuda a aproximar-se dele
  • Empoderamento: o colaborador(a) precisa se sentir parte do projeto para querer inovar
  • Autonomia: ele ou ela tem espaço para inovar?
  • Visão de futuro: as pessoas devem saber as consequências das suas ações no futuro intrinsecamente.
  • Clareza: importante na comunicação de metas e decisões.

Cultura da confiança

Depois de analisar centenas de times da empresas e anos de dados, pesquisadores do Google chegaram a algumas conclusões sobre por que certos times prosperam enquanto outros fracassam. Este trabalho ficou conhecido como Projeto Aristóteles.

Com a pesquisa, a gigante de tecnologia procurava padrões de sucesso entre indivíduos e suas equipes, mas não conseguiu chegar a padrões exatos. Independentemente das personalidades e dinâmicas, a conclusão principal do estudo é que para equipes e funcionários se comprometem é preciso estimular a segurança psicológica dos mesmos. “Eles se sentem seguros, confortáveis dentro da equipe? Não é sobre se sentir na zona de conformismo. Quando você tem essa confiança, você consegue se colocar metas bem mais desafiadoras e se sentir confiante para persegui-las”, ensina Ramos.

Outra perspectiva sobre o tema vem de um estudo da consultoria McKinsey & Company que, durante dez anos, se debruçou sobre o comportamento de 6 mil executivos e concluiu o que chamou de um estado Flow: pessoas conectadas no trabalho têm o prazer de estarem trabalhando e conseguem ser cinco vezes mais produtivas quando neste estado.

Autoridade no assunto, Paul J. Zak escreveu o livro “Trust Factor, The Science of Creating high performance companies” (algo como A ciência de criar companhias de alta performance). Por meio de estudos em mais de 300 organizações e funcionários, Zak chegou ao que chamou de “hormônio da produtividade”, a citocina.

A sensação de confiança no ambiente de trabalho estimula a produção natural deste hormônio. Segundo o autor, a citocina era melhor obtida entre as corporações que tinham sucesso em criar um ambiente “mais humano”, onde entendia-se o valor da empatia, a transparência, além de incentivar interações sociais e apoiar não só o crescimento profissional, como também pessoal. Concluiu-se que a evolução para um patamar elevado de confiança gerou um aumento da receita por empregado em US$ 10 mil por ano.

Como engajar

O consultor sinalizou duas perguntas que CIOs e gestores precisam levantar para si e para suas equipes:

  • Como podemos nos organizar para que nossas empresas possam gerar valor coletivamente?
  • Como criamos uma cultura para permitir a experimentação e onde a falha não seja punida?

A palavra que Ramos mais recorre durante sua apresentação é a empatia. Para ele, líderes empáticos são mais capazes de entender lacunas e desafios de inovação dentro de suas empresas, pois conseguirão, eventualmente, ver não só o problema, como a solução pelo olhar do outro e do todo.

Bibliografia

Ramos recomenda três livros para aqueles que querem se aprofundar mais sobre o tema:

Trust Factor, The Science of Creating high performance companies, Paul J. Zak – ainda sem tradução para o português
Mindset: A Nova Psicologia do Sucesso, de Carol Dweck
Comunicação não-violenta: Técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais, de Marshall B. Rosenberg

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