Ciab: bancos discutem ESG como potencial gerador de valor

Líderes de seis dos maiores bancos do Brasil enxergam aceleração da tendência e debatem papel da indústria financeira na promoção de iniciativas ESG

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4:40 pm - 22 de junho de 2021
ESG dinheiro Shutter Stock

Após um ano marcado pela tragédia humana e transformações intensas trazidas pela pandemia da Covid-19, o debate sobre as responsabilidades do setor financeiro com pautas ESG (ambiental, social e de governança, na sigla em inglês) dominou a discussão da plenária de abertura do Ciab Febraban, maior evento de tecnologia do setor, iniciado nesta terça-feira (22).

Em uma mesa que reuniu executivos de seis das maiores instituições financeiras que atuam no Brasil, o discurso foi unânime na defesa de pautas que promovam ações de impacto social e ambiental. O tema, segundo líderes do setor, passa a ser não apenas uma pauta propositiva, mas uma demanda da sociedade junto às instituições.

“É um tema que ganhou muita força, especialmente nos últimos dois anos. A crise causada pela pandemia da Covid-19 nos mostrou ainda mais a importância da atuação das empresas para a geração de impacto positivo na sociedade”, destacou Milton Maluhy Filho, presidente do Itaú Unibanco.

Na leitura do executivo, ações ESG vêm sendo promovidas pelo setor principalmente através da expansão do crédito para iniciativas voltadas para impacto social e ambiental, e da estruturação de operações de mercado com selo ESG. Como exemplo, Maluhy apontou um anúncio recente do próprio Itaú Unibanco, que deverá investir R$ 400 bilhões em ações para promover uma economia sustentável e mais inclusiva até 2025.

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Ele destacou, no entanto, a importância de mais ações conjuntas entre múltiplas instituições no futuro. Tomando novamente a questão ambiental como exemplo, citou o Plano Amazônia, iniciativa em parceria com o Bradesco e Santander, que busca contribuir para a preservação do bioma no país. “Nós criamos uma governança integrada que inclui não só os CEOs, mas times de sustentabilidade e conselheiros especialistas na região”, pontuou.

Diretor-presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior ecoou a fala de Maluhy, destacando como as ações ESG foram aceleradas pela pandemia e passaram a estar mais presentes em diferentes setores da sociedade. “A sociedade como um todo, empresas grandes ou pequenas, está preocupada. Trabalhando e refletindo sobre esse tema”, destacou.

Além de ter ganhado força nos últimos anos, Lazari ainda vê um próximo momento de aceleração com a Conferência do Clima das Nações Unidas, que acontece em novembro, em Glasgow, na Escócia, que deve estabelecer as bases para ações mais efetivas por parte de organizações e companhias.

“O que a gente percebe é que as entidades, associações, sociedade civil e as empresas estão se preparando muito para a discussão que a gente vai ter da COP 26, em Glasgow”, explicou. “Esse vai ser um ponto importante para compromissos que toda a sociedade e todas nações deverão assumir para que a gente possa ter esse quadro de ESG implementado com muita urgência em todas as corporações.”

ESG é o futuro do setor

Presidente do Banco do Brasil, Fausto de Andrade Ribeiro abordou a questão ESG como essencial para o futuro do setor financeiro. A pauta, ele afirmou, vem sendo cobrada de instituições financeiras tanto pela sociedade como por stakeholders do setor financeiro, e á gera impacto de negócio.

“A sociedade, em geral, vem nos cobrando. Principalmente os jovens, escolhem aquilo que vão comprar levando em consideração o comportamento das empresas. Escolhem a empresa e que vão trabalhar em função de uma agenda ESG”, pontuou.

Para atender a essa nova demanda, Andrade Ribeiro alertou que é essencial que as instituições financeiras comecem a planejar suas operações futuras através da formação de novos líderes – profissionais que, segundo ele, tragam a preocupação ESG como fator central do negócio. “É uma questão do futuro das nossas empresas, não só uma questão de lucro momentâneo. Nós precisamos encontrar os melhores caminhos para essa abordagem e precisamos rapidamente formar nossos líderes”, disse.

“Resultado é obrigado, propósito é escolha”, provocou Sérgio Rial, presidente do Santander Brasil, em sua intervenção sobre o tema. Complementando a necessidade de se formar líderes no tema de ESG, o executivo abordou que é importante trazer o propósito também para os “CPFs” das empresas, para que todos os colaboradores estejam envolvidos na discussão.

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“O CNPJ não é tão difícil de mobilizar. Você tem conselho, tem governança, tem o conselho fiscal e tem os acionistas. Mais difícil é fazer com que a gente consiga mobilizar 500 mil bancários e outros agentes do sistema financeiro que tragam essa agenda, de verdade”, examinou.

O propósito do ESG aplicado aos colaboradores foi também abordado por Roberto Sallouti, CEO do BTG Pactual, mas do ponto de vista da necessidade de uma cultura empresarial mais ampla e, na sua avaliação, como elemento importante para geração de negócios.

“Empresas podem abraçar essa agenda de uma maneira burocrática. Mas o que a gente aprendeu aqui, é que quando a empresa incorpora os valores dessa agenda na sua cultura. Quando isso se torna parte da matriz de decisão diára da empresa, dos seus financiamentos e negócios”, afirmou, e continuou. “Você acaba gerando valor financeiro para seu investidor e para seus clientes.”

Esse valor, segundo Sallouti, vem através de possíveis novas fontes de investidores e até em custos de financiamento mais atrativos. “Em janeiro, a gente emitiu um green bond. Foi o cupom mais baixo já emitido por uma empresa brasileira. Isso só foi possível porque a gente atingiu uma gama de investidores que buscavam oportunidades em bonds ESG que a gente não acessava antes, explicou.

Inclusão financeira como habilitador ESG

Por fim, Pedro Duarte Guimarães, presidente da Caixa, defendeu em sua fala que iniciativas de microcrédito também são ferramentas de inclusão social e potencial geradoras de ações sustentáveis. Guimarães citou como exemplo comunidades que foram identificadas pela Caixa em regiões como a Reserva Extrativista do Ciriaco, no Maranhão, que dependem do extrativismo de matérias primas como sementes de babaçu para subsistência.

Em seu argumento, o presidente da Caixa defendeu que o acesso ao crédito poderia, por exemplo, permitir que essas comunidades processassem e vendessem o óleo das sementes, ao invés da matéria prima bruta. Isso, segundo ele, levaria ao desenvolvimento da economia local e a índices maiores de preservação, reduzindo o extrativismo de grande volume.

“A questão da preservação é fundamental”, argumentou. “Mas você tem que ter o lado social. Se as pessoas não tiverem a utilização desse dinheiro e não poderem se sustentar de forma real, vai haver devastação”.

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