Categories: Notícias

Cassio Dreyfuss, do Gartner, prega foco e disciplina para líder de TI

Sabe aquela conversa arrastada e duradoura sobre a necessidade dos CIOs pensarem mais em negócios que em tecnologia? Na visão de Cassio Dreyfuss, gerente geral de pesquisa do Gartner para o Brasil, o líder de TI, num futuro bem próximo, deve pensar na cadeira do Chief Business Office. Na definição do especialista, este será o executivo que, por meio da tecnologia, dará vazão a todas as ambições de continuidade de negócios de sua empresa.

Como explica Dreyfuss, ?os profissionais de TI têm capacidades únicas que os colocam em posição privilegiada para a construção de uma nova área?, com competências que poderiam, de fato, dirigir outras necessidades, como a colaboração, por exemplo.

Num bate-papo que antecede o Gartner Symposium ITxpo 2012, que acontece em outubro em São Paulo, o analista do Gartner tateia alguns pontos sobre mercado, tecnologia e as inerentes mudanças nas organizações.

IW Brasil ? Este ano foi atípico, começamos com uma economia forte, tivemos um período de queda e, agora, estamos em uma espécie de estagnação. E este cenário reflete nos investimentos em tecnologia, como você vê essa situação do ponto de vista do CIO?

Cassio Dreyfuss ? Em geral, como você falou, o ano começou forte, depois deu uma parada, e os CIOS brasileiros, que já estão acostumados com a famosa crise de novembro, já põem a barba de molho, esperando para ver o que acontece. Então, em geral, eles adotaram uma atitude prudente e não investiram tanto, não foram tão ousados quanto poderiam ter sido.

Estamos num momento de ?ou vai ou racha?. Temos uma porção de condições a favor, não querendo negar a dificuldade econômica, mas eu acho que o CIO brasileiro tem que ir para frente de algum jeito, e esses momentos diferenciam os profissionais.

É um período indisciplinar no mundo inteiro, com sinais muito conflitantes ? cada indicador mostra o que quer quanto ao reestabelecimento da economia. Não obstante, temos que surfar essa onda. Para se tornarem competitivas as empresas brasileiras devem ir pra cima, e tecnologia é parte importante.

IWB ? Como fazer isso?

Dreyfuss ? Existem algumas coisas que eu tenho chamado a atenção dos CIOs. Num cenário desse, duas atitudes são primordiais: foco e disciplina. Todo CIO brasileiro tem que se lembrar desses direcionamentos, pedir para a mulher escrever com o batom no espelho essas duas palavras.

 

Foco é saber que a dinâmica é tão rápida, que o processo bonito do planejamento não é viável. É necessário detectar rapidamente as mudanças que estão acontecendo no ambiente de negócios, e definir onde e como vai entrar o apoio da tecnologia e, também, pensar pelo lado da oferta, entendendo quais são as oportunidades e como direcioná-las.

Disciplina é incorporar as mudanças rapidamente com o mínimo de perturbação e levar a organização a altos níveis de desempenho.

IWB ? Mas o CIO brasileiro está com maturidade para colocar, de fato, a cabeça nos negócios?

Dreyfuss ?Não na medida que acreditamos ser a adequada. Estamos vendo, cada vez mais, que nesse ambiente indisciplinado é muito importante a conexão de negócios e TI e, é importante, por exemplo, entender evolução e revolução.

Em situação de evolução, em tempos normais, você recompensa as coisas, experimenta muito, e tem tempo de ver o crescimento das coisas. Hoje, vivemos o momento de revolução, pois é um tempo muito indisciplinar e a recompensa não é a criatividade, infelizmente, não há tempo para isso em alguns casos.

Com isso, você tem que confiar nas pessoas e recompensar as alianças. Tendo dito isso, as pessoas podem perguntar: ?e agora, como fica a questão da inovação??. Estou falando de foco e disciplina, não em burrice. Tem que ter o radar ligado para, quando algo surgir, detectar e decidir rapidamente o que vale a pena; neste período, o que vale é a objetividade, e se tiver a ver com inovação, temos um bônus.

IWB ? Vemos algumas áreas se aproximando de forma mais pró-ativa, pensando no consumo de tecnologia. O marketing ficou mais próximo do RH, por exemplo. O CIO brasileiro está mais próximo das outras áreas ou ainda há resistência?

Dreyfuss ? A proximidade é muito pouca. Deveria ser mais e isso é um problema típico do Brasil, pois, durante quatro décadas, o CIO valorizado era aquele que pegava o mainframe IBM, uma estação SUN, uns discos de armazenamento da Fujitsu, ligava tudo e tirava o serviço. Esse era o cara talentoso e reconhecido. E o que estamos dizendo agora é que ele está errado. Tem que olhar para o negócio e não para a TI. Mas o que ele responde? ?Eu sei fazer capacity planning?. E logo ouve a resposta ?isso não é mais o seu problema, agora a conta é na nuvem?.

IWB ? Esse cenário todo canibaliza o CIO? Vejo que ou ele se adapta ou perde.

Dreyfuss – Exatamente. Nós estamos fazendo algumas previsões que podem assustar o CIO neste sentido. Por exemplo, em 2015, mais da metade dos gastos de TI estarão em orçamentos fora da área de TI, ou seja, o controle de aquisição de tecnologia não estará mais com ele.

É como se ele olhasse pra frente e tivesse uma bifurcação: se ele gosta de TI, é melhor buscar por uma prestadora de serviços de TI, ou empresas de tecnologia. As outras empresas exigem outra classe de CIOs, que são mais voltados ao negócio, de fato.

IWB ? Com tanto tempo de vivência no mercado, você já viu um cenário tão complexo como esse para o CIO?

Dreyfuss – Quando eu comecei nessa área, mil anos atrás, eu era programador Cobol, e cheguei a fazer teste de instrução, para saber, por exemplo, se a instrução compute era mais eficiente que multiply, para saber qual instrução economizaria mais máquina, algo totalmente voltado a  tecnologia, em época de recurso escasso.

Estamos em outro momento. O provimento dos recursos é secundário, elas (as empresas) precisam de TI e negócios. Na verdade, ainda chamamos de área de TI, mas, logo, vai mudar para TN, tecnologia para negócios, sendo a TI uma das vertentes para criar solução para a empresa.

IWB ? Há um momento que possa ser datado como o começo de tudo isso?

Dreyfuss – O tsunami veio com os serviços na nuvem, a nova forma de entrega provou que as empresas não precisam ser donas de tecnologia, mas sim usuárias de serviços. Esse era um movimento que ocorria, mas vinha de forma lenta e, de repente, a porta foi escancarada.

IWB ? Se o profissional de tecnologia, do ponto de vista do negócio, não é mais importante como costumava ser, o que é, de fato, importante nos profissionais que estão no mercado?

Dreyfuss – Essa uma visão muito pessoal. Somos 800 analistas no Gartner que concordam que a organização de TI tem que mudar, e temos 800 versões de futuro para as organizações. O maior ponto de concordância é a virada de 180 graus (da postura de TI) em relação aos negócios, seja em qualquer indústria.

A pergunta certa é ?Se TI não é mais importante, por que área é??. Mesmo durante esses quarenta anos que citei há pouco, a área de TI mantém características diferenciadas e a mais importante delas é trabalhar colaborativamente para construir uma solução, um modelo de gestão ou algo que consiga acoplar toda a empresa, fazendo-a rodar. A área é importante por isso, ela não vai sumir; se tornará parte de algo muito maior. O que as pessoas de tecnologia devem entender é que o conhecimento de TI é muito importante, mas no atual cenário é uma necessidade secundária, tendo em vista o desafio de fazer negócios.

IWB ? E por isso se cobra tanto do profissional de TI?

Dreyfuss – Os profissionais de TI têm capacidades únicas que os colocam em uma posição privilegiada para construir uma nova área. Primeiro, eles conhecem os processos da empresa. Segundo, é a única área que sabe qual é a informação correta que deve ser usada e como deve ser aplicada. Terceiro, é uma área acostumada a resolver problemas, introduzir mudanças.

 

Recent Posts

Tecnologia apoia a comprovação do ROI de ações ESG

A comprovação do retorno sobre o investimento (ROI) de ações ESG é um dos principais…

14 horas ago

EXCLUSIVO: Procergs migra dados para a nuvem em caráter de urgência por risco de inundação no RS

Em resposta imediata a uma catástrofe natural, a Procergs, responsável pela gestão da tecnologia da…

15 horas ago

Arquiteturas híbridas de cloud: por que o tema voltou à tona?

Os resultados da pesquisa "Antes da TI, a Estratégia 2024", apresentados durante o IT Forum…

16 horas ago

GDM e Black & Decker: casos de uso com a IA generativa

Mais da metade (69%) das empresas brasileiras dizem já ter alguma iniciativa em IA tradicional…

1 dia ago

Tecnologia como protagonista em discussões de comitês empresariais

Entre os líderes de TI brasileiros, 77% têm a perspectiva de manter ou crescer o…

1 dia ago

Infraestrutura de TI também precisa evoluir para apoiar a sustentabilidade

Durante o IT Forum Trancoso, as discussões sobre sustentabilidade estão diretamente ligadas à evolução de…

1 dia ago