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Bolha ou bomba? Especialistas divergem quanto à potência dos NFTs

Indivisíveis, insubstituíveis e, para muitos, incompreensíveis. Embora as buscas pelo termo NFTs (sigla para “non-fungible token” ou “tokens não-fungíveis”, em bom português) estejam em alta no Google, o conceito ainda é um mistério para muita gente – tal qual sua popularidade.

Ainda que não sejam nenhuma novidade para quem acompanha notícias sobre blockchains e criptomoedas, os NFTs ganharam a mídia (e a curiosidade alheia) no começo de março, quando o artista Mike Winkelmann, conhecido na internet como Beeple, vendeu uma obra de arte digital por “singelos” US$ 69 milhões em um leilão online promovido pela Christies.

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A atenção dada ao caso não é exatamente pela cifra, uma vez que valores maiores já foram desembolsados por quadros de Monet, Picasso e outros grandes nomes da arte mundial. O que é diferente, aqui, é que as obras de Beeple eram, até então, vendidas por não muito mais de US$ 100.

Enquanto especialistas em arte se ocupam em analisar (e justificar) a relevância do trabalho agora milionário de Beeple, especialistas em tecnologia se ocupam ao explicar ao IT Forum o que são os NFTs e como eles podem mudar o mundo tal qual o conhecemos.

“Uma forma simples e simplista que eu encontrei para explicar esse conceito é pensar em uma caixa com uma tranca. NFTs são basicamente a caixa e a chave, mais digitais. Nessa caixa você pode guardar qualquer coisa online: uma arte, tickets para um jogo de basquete, uma música, um filme e por aí vai”, diz o italiano Cesare Fracassi, professor e diretor da Iniciativa Blockchain da Universidade do Texas.

Também segundo o docente, a beleza desse sistema é que ele não restringe a propriedade, aceitando que esse mesmo bem, mesmo digital, seja negociado em outros momentos, por outros valores. “Tal qual a caixa e a tranca, você pode passá-la de mão em mão, mas só quem tem acesso ao conteúdo ali dentro é o detentor da chave”.

De maneira certeira Daniel Conway, professor da Universidade de Arkansas, onde lidera o Centro de Blockchain, resume todo esse movimento em uma frase curta: “nós digitalizamos a propriedade”.

Em conversa com o IT Forum, Conway revela que o conceito de valor é uma construção social, e que desde criança somos educados a entender o preço do mundo ao nosso redor. Agora, segundo o professor, é hora de fazer o mesmo – mas online. “É preciso desaprender muito do que você entende, e desaprender é mais difícil que aprender”, afirma Conway.

Se por um lado os dois especialistas concordam quanto ao significado e aplicação dos NFTs, eles destoam quanto à sua relevância.

Para Fracassi, por exemplo, os bens não-fungíveis, da forma como estão sendo negociados, são uma bolha. “Acho que pelo menos por enquanto a maioria dos NFTs são puro hype, sobretudo porque estamos falando de coisas que são facilmente copiadas”, e completa, “estão vendendo, por exemplo, o primeiro tweet publicado no Twitter e, com todo respeito, quem se importa? Entendo que seja uma forma de prover uma espécie de ‘artificialidade sacra’, mas os valores não fazem o menor sentido”.

O professor faz uma exceção: ingressos para shows e eventos. Segundo o italiano, problemas com fraudes de tickets são comuns na internet, e como o sistema de NFT é feito para assegurar a autenticidade da peça, sua aplicação, nesse caso, faria sentido.

Já Conway tem uma visão diferente, sobretudo a longo prazo. Para o docente da Universidade do Arkansas, músicos e criativos que trabalham com propriedade intelectual ganham o direito de negociar sem nenhum tipo de intermediário. Numa grande escala, acredita o professor, isso pode ser incrivelmente disruptivo. “Se você olhar para as principais empresas listadas na NASDAQ nos últimos 20 anos, verá empresas como Google, Facebook, Amazon, Netflix e outras empresas que são agregadoras de dados. Você obtém pesquisas e mapas do Google, em troca de doar seus dados. E eles monetizaram esses dados como um hub centralizado. Então, agora, o que acontece quando podemos ir ponto a ponto, sem termos que passar por essas plataformas? Isso vai ser um problema para eles”, prevê.

Os professores voltam a concordar que o momento do NFTs e do mercado de blockchain e criptomoedas está em fase de maturação. “O bitcoin foi inventado em 2009 e levou pelo menos cinco anos para se tornar minimamente conhecido por outras pessoas, e só atingiu seu pico de popularidade em 2017. O conceito de machine learning foi inventado em 1956, mas levou 70 anos para amadurecer e ser o que é hoje. E então, a mesma coisa se aplica ao blockchain. Blockchain foi inventado há 10 anos. Leva tempo para entender e desenvolver aplicações úteis de novas tecnologias”.

 

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