Notícias

Até onde vai o protagonismo dos jovens?

Aos 16 anos, a jovem sueca Greta Thunberg mobilizou jovens do mundo inteiro para protestar nas sextas-feiras por conta da falta de ação para conter as mudanças climáticas. Na Cúpula Climática da Organização das Nações Unidas (ONU), chamou a atenção de líderes mundiais para a causa da conservação ambiental e questionou, com ênfase, pessoas muito mais velhas e poderosas: “como ousam?”.

Com a atenção que conquistou, vieram também responsabilidades frente as repercussões. E engana-se quem pensa que isso fez com que ela fosse um caso isolado. O protagonismo, a criticidade e a participação sociocultural são atitudes que estão intimamente ligadas à natureza das infâncias, adolescência e juventude, podendo ser desenvolvidas em qualquer fase de vida, desde que existam contextos pertinentes para o estímulo e a sua vivência; exemplos disso não faltam!

No interior de Santa Catarina, crianças mobilizaram torcedores a manter limpa a Arena Condá, em Chapecó. Para isso criaram um sistema com sacolas retornáveis que movimentou o estádio inteiro na intenção de uma cidade mais limpa.

Em Criciúma, fez-se valer a lei que garante atendimento prioritário para autistas. Já em São Paulo (SP), crianças de 8 a 9 anos mobilizaram a escola inteira para arrecadar fundos e adquirir lenços que pudessem ser personalizados e distribuídos numa ONG de combate ao câncer, com o intuito de homenagear mulheres que superaram a doença. Enquanto isso, em Brasília (DF), a preocupação com o futuro do meio ambiente mobilizou os pequenos à conscientização e ao reaproveitamento e recolhimento de canudos plásticos. Esses são apenas alguns exemplos dentre os 380 Projetos de Intervenção Social (PIS) realizados pelos alunos da Rede Marista de Colégios em 2019.

A proposta do PIS é estimular nas crianças a atuação no contexto sociocultural em que estão inseridas, bem como ampliar o desenvolvimento de capacidades como carisma, solidariedade, responsabilidade social, colaboração, criatividade e senso crítico.

Em muitos referenciais sobre educação é possível perceber a expansiva preocupação com a autonomia, o desenvolvimento de habilidades emocionais e o avanço dos processos cognitivos nas infâncias. Para a execução do PIS nos Colégios da Rede Marista, propomos ambientes e momentos que favorecem todos esses aspectos por meio da discussão sobre projetos que colocam as crianças como sujeitos socioculturais, capazes de observar o entorno, mobilizar saberes para resolver situações desafiadoras e participar de discussões e decisões da comunidade onde vivem.

Como pais e educadores, nós precisamos mediar e facilitar o engajamento das crianças nos aspectos sociais, políticos e culturais, dar ouvidos para suas formas de posicionamento e encorajar a formulação de ideias, sugestões e soluções para os desafios da vida cotidiana. Falo isso, pois muitas vezes temos o péssimo hábito de resolver tudo no automático e não dar voz para esses pequenos sujeitos, que embora tenham uma experiência menor de mundo, conseguem, lançando mão das próprias visões e compreensões, atuar sobre suas rotinas, vivências e saberes e nos ensinar muito sobre intervenção social e reciprocidade.

Na Rede Marista, o PIS acontece para dar voz e importância às sugestões de nossas crianças, contribuindo para a construção de respostas relevantes às vidas e aos locais onde vivem. Com isso, a formação e transformação de consciência, solidariedade, colaborativismo e autonomia iniciam-se desde muito cedo; o que é extremamente benéfico para o desempenho educacional!

Na escola, o trabalho do ‘conteúdo pelo conteúdo’ pode fragilizar a aprendizagem, por isso, vejo o desenvolvimento desse projeto como um dos meios para despertar a compreensão sobre a importância do conhecimento e da cidadania. Desenvolver saberes e habilidades sociais e cognitivas é colocar o conhecimento em prática, em prol das necessidades humanas.

Uma pergunta que sempre surge ao apresentar a prática do PIS é: até onde podem ir o protagonismo e a participação de crianças tão pequenas, com 6 a 12 anos? Na cabeça e na vontade delas, a resposta para essa pergunta é ‘ao infinito’. Porém, cabe a nós mediar, apoiar, dar voz, direcioná-las para um terreno seguro e fértil para que a curiosidade e as ideias consigam atingir os limites da imaginação. Com isso, os caminhos se abrirão e as respostas surgirão dos lugares mais improváveis, e com a pureza e o carisma que só uma criança pode ter.

*Por Tiago Franceschini da Rosa é especialista em Educação, mestre em Formação Educacional e coordenador do Ensino Fundamental Anos Iniciais da Rede Marista de Colégios

Recent Posts

Prioridades dos CIOs impulsionam inovações na Nutanix

Levantamento recente do Gartner indica que cinco áreas estão entre os principais focos dos CIOs…

35 minutos ago

Voke e Scala divulgam relatórios de sustentabilidade

A especialista em locação de hardware Voke e a provedora de data centers Scala anunciaram,…

1 hora ago

IA aumentou carga de trabalho de equipes de TI, indica estudo

Mais de oito a cada 10 (82%) das equipes de TI brasileiras estão buscando formas…

2 horas ago

Google anuncia expansão bilionária de centro de dados na Finlândia

A empresa-mãe do Google, Alphabet, revelou planos para expandir significativamente seu principal centro de dados…

17 horas ago

Diego Barreto assume como novo CEO do iFood

Diego Barreto foi nomeado como CEO do iFood, substituindo Fabricio Bloisi, que assumiu a liderança…

18 horas ago

Com “fábricas de IA”, Dell quer acelerar projetos de inteligência artificial de clientes

Acelerar projetos de inteligência artificial (IA) dos clientes através de uma oferta que combina computação,…

18 horas ago