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Adoção do Blockchain deve considerar duas etapas

Em junho, logo após CIAB, publiquei um texto
sobre Blockchain
.  Gerou bastante
curiosidade e muitas trocas de e-mails, telefonemas e algumas reuniões
executivas com empresas preocupadas com a relevância estratégica do tema. Está
nítido que ainda estamos dando os primeiros passos em entender esse conceito,
mas seu potencial de disrupção é enorme.

Uma leitura atenta do livro de Don e Alex Tapscott, “Blockchain Revolution: How the Technology
Behind Bitcoin is Changing Money, Business, and the World
” nos mostra a
ponta do iceberg. No início dos anos 90, ninguém imaginava a Web como está hoje,
nem os negócios fabulosos e inovadores que surgidos a partir dela, como Google,
Facebook, Amazon e outros. Pois é, Blockchain está hoje como estava a Internet
no início dos anos 90.

Blockchain é um banco de dados distribuído, open source, que
usa criptografia no seu estado da arte. A sua concepção parte da premissa de
ser peer-to-peer, o que significa para registrar, validar e autenticar
documentos (moedas, certidões, contratos, etc.) não precisa de intermediários
certificadores. Simples, mas permite transformar muita coisa!

Blockchain não é apenas uma questão de mais uma tecnologia a
ser adotada ou não, mas de reanalisar o posicionamento estratégico de sua
empresa frente ao potencial de disrupções que pode provocar. Tanto que publicações
de negócio, como a Economist, vem sistematicamente debatendo o assunto. Um
artigo interessante é “Hype springs
eternal: Distributed ledgers are the future, but their advent will be slow
”.

Blockchain não vai provocar rupturas imediatas, mas manter o
pensamento no futuro é fundamental. Se quisermos efetivamente criar novas fontes
de valor, temos de entender para onde todas estas mudanças estão nos
conduzindo. Blockchain é uma dessas mudanças disruptivas. Infelizmente, há
muito pouco da experiência coletiva e best practices sobre o assunto que possam
nos ajudar a trilhar o caminho. Mas sabemos que mudanças exponenciais acontecem
muito mais rapidamente do que pensamos.

O Human Genome Project 
é um exemplo de como uma mudança exponencial é subestimada. Foi lançado
em 1990, com estimativa de ser concluído em 15 anos, a um custo de US$ 6
bilhões. Em 1997, portanto na metade do prazo, apenas 1% do genoma humano tinha
sido sequenciado. Pelo planejamento linear que adotamos, considerando o ritmo
de 1% em 7 anos, levaríamos 700 anos para concluir o sequenciamento. É um
pensamento lógico não? A pressão para encerrar o projeto foi imensa, mas quando
levaram o desafio ao futurista Ray Kurzweil, ele disse “1% significa metade do
caminho. Vamos em frente!”. Ele pensou exponencialmente _ 1% dobrando a cada
ano significa chegar aos 100% em 7 anos! O projeto foi concluído em 2001,
quatro anos antes do planejado e custando muito menos dinheiro que o estimado.
O pensamento linear, tradicional, errou o alvo por 696 anos!

Blockchain não é Bitcoin. Bitcoin é um Blockchain e por ser
atualmente o maior Blockchain em operação. Muitas vezes ambos são confundidos
como se fossem uma única coisa.

Como toda novidade, Blockchain  gera muito debate, com defensores e céticos.
Por isso sugiro duas etapas básicas,
antes de qualquer ação mais concreta.

O setor financeiro já está ciente de sua
relevância. Sabe que com Blockchain existe o potencial de criação de um cenário
competitivo muito diferente do atual. Mas, Blockchain vai muito além do setor
financeiro. Diversos outros setores poderão ser afetados, como a indústria de
seguros (“Blockchain
in insurance—opportunity or threat?
“) e até mesmo a de música e artes.
Interessante ler o artigo “Using
The Blockchain To Fight Crime And Save Lives
”.

Primeiro é preciso entender o conceito. Chamo de fase de educação.
É a fase onde a empresa e seus executivos de negócio e TI devem compreender o
conceito (o que é blockchain e como funciona), as tecnologias e o ecossistema
envolvido, as aplicações potenciais (recomendo aqui estudar exemplos de
startups e experiências internacionais), as eventuais limitações e restrições
de uso (escalabilidade, segurança, padronização) e as tendências. Olhar as
startups é uma boa fonte de ideias. Por exemplo, saindo da área financeira, uma
empresa que analisa mercado de VCs, a Venture Radar, mostrava 25
startups
que apresentavam potencial de provocar rupturas em diversos
mercados no final de 2015.

Depois, avaliar o potencial de uso. Essa fase deve identificar
onde e como o Blockchain pode reduzir custos, criar novos produtos e soluções, e
aumentar competitividade e lucratividade do negócio. O seu produto final deve
ser um roadmap de implementação de Blockchain, com prioridades e investimentos.  A partir daí, sim, vale a pena fazer as
experimentações e iniciativas piloto, com provas de conceito de curta duração. As
provas de conceito só têm validade se os seus objetivos comerciais e técnicos
foram previamente definidos. Qual seu objetivo? Testar apenas a viabilidade
técnica ou experimentar um novo serviço ou produto? Ou os dois? Esses projetos
piloto também podem auxiliar a determinar qual versão do Blockchain é a mais
adequada para suas necessidades.

A abordagem estratégica deve ser gradual e condizente com a
maturidade relativa do Blockchain no mercado e da maneira como cada organização
lida com o risco. Como o Blockchain está em sua primeira onda, há um grande
potencial de transformação do modelo de negócios para os pioneiros que estiverem
dispostos a assumir os riscos.

Se a organização for conservadora, melhor esperar pela
segunda onda, a da “diferenciação”, para adquirir vantagem competitiva como um
dos “early adopters”. Ou esperar pela terceira onda, a de disseminação, esperando
que seja comprovado o conceito junto à maioria dos implementadores iniciais. A
grande maioria das empresas não se identifica como pioneiras, mas deve
acompanhar os estudos de caso e as histórias de sucesso que surgirem para
pensar em casos equivalentes que possam ser aplicados dentro de casa, e
analisar e identificar o melhor momento para sua adoção.

Empresas de tecnologia, como IBM e Microsoft, e grandes
bancos e bolsas de valores já entraram no jogo. Além disso, associações e
consórcios do setor, como a R3CEV e a Linux
Foundation, vêm desenvolvendo iniciativas importantes e estão se concentrando
em criar ecossistemas de Blockchain empresariais, como a plataforma Corda
para o setor de serviços financeiros e o Projeto
Hyperledger
para outros segmentos.

Também vale a pena acompanhar de perto o Projeto Ethereum. O Ethereum foi concebido
para ser uma plataforma para computação distribuída que pode executar contratos
inteligentes baseada na tecnologia Blockchain. Vejo grande potencial nessa
plataforma.

Como ocorre com qualquer tecnologia emergente, é evidente
que ainda há muitos problemas comerciais e técnicos para serem resolvidos. Mas,
voltando aos anos 90, a Web também apresentava muitos problemas na época. Portanto,
apesar da imaturidade do Blockchain, o inclua de forma estratégica em suas análises
e pesquisas de mercado sobre tecnologias emergentes, ao lado de Internet das
Coisas e Machine Learning.

Estude o assunto e esteja preparado para implementar Blockchain
no momento certo. Com o Blockchain, o verdadeiro risco é ignorar seu impacto e
não se planejar.

 

(*) Cezar Taurion é CEO da Litteris Consulting, autor de seis livros sobre Open Source, Inovação, Cloud Computing e Big Data

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