A Jornada da Startup Emerging Giants

Está enganado quem tem a mítica ideia de que fundadores de startups são pessoas absurdamente geniais com criações totalmente inovadoras.

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8:57 am - 22 de janeiro de 2020
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Está enganado quem tem a mítica ideia de que fundadores de startups são pessoas absurdamente geniais com criações totalmente inovadoras e que transformam totalmente o mundo. Esse elemento pode ser real, mas apenas uma fração da realidade. As startups de sucesso têm pontos em comum, mas atingir o sucesso depende da superação de uma série de variáveis.

O primeiro ponto a ser considerado é que figuras famosas por terem criado negócios desse tipo não trabalham sozinhos. Eles podem até ter uma ideia bastante original, mas é a integração da inovação com elementos de planejamento e execução que tornam alguns empreendedores digitais mais reconhecidos que outros. E já adianto que as estatísticas não são animadoras.

Segundo o estudo “Causa da mortalidade das startups brasileiras: como aumentar as chances de sobrevivência no mercado”, conduzido pela Fundação Dom Cabral, 25% das startups não completam 1 ano, 50% não passam 4 anos de operação no mercado e 75% dos negócios fecham antes de completar 13 anos.

Além disso, de acordo com a plataforma CB Insights, 42% das startups fracassam por não terem identificado uma necessidade do mercado, 29% não atingem os resultados esperados por ficarem sem recursos financeiros para investir, 23% dos negócios não tinham equipe necessária ao desenvolvimento e 17% ofertaram um produto fraco.

Importante destacar que aqueles empreendedores que querem obter sucesso na criação de startups realmente relevantes precisam seguir uma jornada extremamente árdua e não necessariamente gloriosa.

Basicamente essa trajetória começa com uma ideia, que deve evoluir para uma fase de testes com poucos recursos financeiros (conhecido como bootstrapping). Com a validação há um produto mínimo viável com integração de fundadores e investimentos de familiares e amigos de R$ 50 mil a R$ 500 mil, que evolui para o fase de lançamento. Com o crescimento, valida-se ou não o Product Market Fit, considerada como a convergência entre viabilidade técnica, econômica e tamanho do mercado suficente para suportar taxas elevadas de crescimento. Neste momento, é normal, após a validação do Product Market Fit, a curva de crescimento ser acelerada e tendendo a exponencialidade, o que atrai investidores de capital de risco.

Seguindo a jornada, tem-se a formação do Emerging Giant, quando a empresa apresenta um crescimento regional/internacional e uma base ampla e crescente de clientes pagantes. Aqui já há geração de receitas mais robustas e uma verificação de Life Time Value (LTV) mais que saudável, ou seja, uma relação entre tempo e retorno oferecido por cada cliente pagante.

Após captações robustas com os fundos de investimento de Venture Capital, as empresas podem evoluir e atingir finalmente a fase Corporation, quando têm milhares de funcionários, passam a ser auditadas, apresentar relatórios periódicos a investidores e exige-se uma discussão madura sobre as opções de exit dos investidores. Aqui é que normalmente elas buscam se aproximar de investidores estratégicos (futuros M&A) e abertura de capital (IPOs).

Hoje, no Brasil e em todo o mundo, há basicamente dois tipos de empreendedores: os que atuam por necessidade ou oportunidade. Contudo, quem empreende por oportunidade no mercado de tecnologia, acaba criando algo relevante normalmente ao atacar grandes problemas da sociedade e inspirados em causas, sejam elas sociais, ambientais, de mobilidade, finanças, saúde, educação ou qualquer outro setor carente de uma atuação mais rápida e versátil no processo de oferta e prestação de serviços.

Retomando a discussão inicial deste artigo, a ideia mítica de empreendedores altamente criativos, que obtêm sucesso apenas com uma ideia, é absolutamente descolada da realidade. Este é apenas o primeiro passo, que precisa, obrigatoriamente, ser seguido por vários outros apresentados neste texto.

Em todas as etapas é necessário o foco na execução passo a passo para que a empresa em criação seja possa aprender com seus erros e crescer com os acertos e seja bem sucedida e realmente transforme a sociedade. Isso só ocorrerá, no entanto, se a criação buscar por disrupção, agilidade e algo realmente relevante à sociedade. Seguindo as etapas detalhadas anteriormente, estou certo de que os empreendedores estarão em melhor posição para melhorar as estatísticas de sucesso das startups brasileiras se tornarão muito mais relevantes.

*Por Robson Del Fiol, sócio-diretor Head of Emerging Giants da KPMG no Brasil.

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