5 perguntas para o CEO: Fernando Teles, da Visa

Em entrevista à Computerworld Brasil, executivo fala sobre as principais tendências tecnológicas em meios de pagamentos

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9:00 am - 28 de junho de 2019

Há quase três anos à frente da operação da Visa no Brasil, Fernando Teles possui ampla experiência no setor financeiro, já tendo passado por instituições como Itaú Unibanco, onde atuou por mais de 10 anos como diretor, e Banco Original, em que comandou a divisão de consumer por cerca de 1 ano e meio.

Na entrevista abaixo, o country manager da empresa no país fala sobre o crescimento exponencial dos pagamentos por aproximação no mercado brasileiro, iniciativas inovadoras recentes da Visa e o papel cada vez mais importante da tecnologia para a empresa e para o setor financeiro de forma geral.

Computerworld Brasil: Segundo a Visa divulgou recentemente, houve um aumento de 18 vezes no número de pagamentos por aproximação no Brasil em 2018. Por que esse crescimento tão grande no último ano? Houve alguma mudança significativa no número de máquinas com essa capacidade entre 2017 e 2018? Ou foi mais uma mudança de comportamento/conhecimento do consumidor/comerciante?
Fernando Teles: Na verdade, mudança de terminais não, porque os terminais já vinham preparados. Foi um conjunto de pontos que faz com que esse número crescesse. O menu de pagamentos foi uniformizado nos terminais: agora já começa com o valor, depois pergunta se é crédito ou débito, e então pede para aproximar o cartão. A partir disso, começou a ter uma adesão maior das pessoas. Antigamente, cada terminal era de um jeito, agora a indústria uniformizou e todos começam pelo valor. Outro ponto que vale notar é que está havendo um incentivo muito grande para os emissores de cartões já saírem com a tecnologia de aproximação. E isso tem um impacto muito grande. Eles já começam emitindo o cartão com a tecnologia. Então você vai começar a ver cada vez mais cartões desse tipo.

E o terceiro ponto é que a quantidade de emissores habilitados a carregar os cartões nas famosas carteiras digitais. Ainda que o emissor não tenha a tecnologia no cartão, eles já podem embarcar isso em carteiras. A Porto Seguro, por exemplo, já tinha essa possibilidade para a carteira. E Itaú, Bradesco e Banco do Brasil, possuem soluções como Apple Pay. Então você começa a ver essa movimentação por parte do consumidor.

O fato é que a transação é realmente uma experiência extremamente agradável. Nas compras abaixo de 50 reais você não digita a senha, o que traz uma velocidade muito maior – você paga sem precisar introduzir o cartão no terminal, o estabelecimento faz a navegação para você. Então o pagamento tem fricção.

CW: Recentemente, a Visa anunciou iniciativas com foco em tecnologia e inovação, como o Visa Direct, para transferências instantâneas, o uso da tecnologia VisaSecure Access Module (SAM) no metrô do Rio de Janeiro, além do investimento na Conductor, com foco em pagamentos digitais, e outras empresas. Pensando nisso, qual a importância da TI e da tecnologia de forma geral para a Visa atualmente?
Fernando: Na verdade, quando você olha atualmente, a Visa é uma empresa de tecnologia que atua no universo de meios de pagamento. Mas o grande papel da Visa é ser um facilitador. Fornecer tecnologia e padronização para que esses meios de pagamento possam ser feitos da maneira mais simples e segura possível. Todos esses movimentos citados têm o mesmo objetivo, que é facilitar o acesso das pessoas aos meios de pagamento. Tudo isso é a tecnologia a serviço do consumidor.

CW: Falando nisso, ultimamente a gente vê a tecnologia ocupar um papel cada vez maior no setor financeiro, seja com novas soluções digitais ou com o surgimento de cada vez mais fintechs, entre outras coisas. Quais as principais tendências tecnológicas em finanças para esse ano e o futuro próximo, na sua opinião?

Fernando: Acho que as tecnologias vencedoras são aquelas que necessariamente começam pelo consumidor. Tem-se falado muito de facilitar a experiência do usuário, resolver dores. E essa tecnologia de pagamento por aproximação vem de encontro a uma necessidade do consumidor, que não é fazer o pagamento, mas poupar tempo, ter mais tempo disponível para fazer outras coisas, ter acesso ao transporte publico sem precisar entrar na fila para comprar a passagem, por exemplo. Então todas as tecnologias voltadas para melhorar a vida do consumidor serão as vencedoras – sejam essas ou outras tecnologias que ficam invisíveis ao consumidor.

CW: Nos últimos anos, a Visa vem realizando um Programa de Aceleração de Startups no Brasil. Como você vê esse cenário no país e o que acha que pode mudar/melhorar?
Fernando: A gente vê uma evolução neste cenário de fintechs; estamos no terceiro ano do nosso programa. O nosso objetivo com essa iniciativa é aproximar as fintechs do ecossistema dos nossos clientes, permitir qeu elas façam negócios com eles. A gente vem percebendo uma evolução das próprias fintechs em termos de proposta de valor. Elas já surgem com o objetivo de fazer parcerias com as emrpesas desse setor. A gente também vê fintechs interessdas em solucionar problemas do cotidiano das pessoas, como transferências, pagamentos de contas e controle de despesas de empresas. Vemos uma evolução bastante positiva, um cenário muito competitivo e com muita oportunidade, Estamos em um país em que o uso de dinheiro ainda é grande. Vemos muitas fintechs focadas nisso, o que é positivo para todo mundo.

CW: Como estamos nos aproximando do meio do ano, em que houve uma queda do PIB no primeiro trimestre, queria saber como foi a primeira metade de 2019 para a Visa e quais os planos da empresa para o restante do ano.
Fernando: Estamos tendo um ano muito positivo. A gente é de certa forma beneficiado porque trabalha em uma área em que a quantidade de oportunidades ainda é muito grande, há um terreno inexplorado. Temos um programa chamado “Cidades do Futuro”, que foi iniciado em 2018 com 3 cidades (Campina grande, Maringá e Belém) e envolve poder público, universidades, transporte urbano, varejistas, e está levando parceiros, emissões, facilitadores de pagamentos, adquirentes, processadores, para essas cidades, para buscar uma maior penetração de meios de pagamento para melhorar os indicadores, a vida das pessoas. Agora estamos com 200 cidades.

Apesar do decréscimo do PIB, há uma migração das formas de pagamento, com uma adesão muito grande a ser conquistada no país. Quando você sai da nossa realidade aqui de São Paulo, você vê que existe muita gente sem acesso a meios de pagamentos eletrônicos, ainda há uma oportunidade muito grande na nossa indústria. Você vai ver um cenário positivo por muito tempo ainda. Cada novo participante que você traz para a indústria cria o chamado efeito rede, uma vez que ele transaciona com outro participante. O que ajuda na formalização da economia, no acesso das pessoas, no barateamento da tecnologia, na segurança, há uma serie de fatores positivos. Essa indústria de tecnologia e de pagamentos ainda vai viver um bom momento por muito tempo.

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