45% das mulheres brasileiras possuem ansiedade ou depressão, alerta Think Olga

Estudo relaciona a sobrecarga e o esgotamento das mulheres ao seu adoecimento, indicando o peso da economia do cuidado

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10:22 am - 29 de novembro de 2023
mulheres brasileiras, ansiedade, burnout, google.org Imagem: Shutterstock

Um estudo realizado pela ONG Think Olga escancara o quanto as mulheres brasileiras estão se sentindo esgotadas. Entre as entrevistadas, 45% possuem hoje um diagnóstico de ansiedade, depressão, ou outros tipos de transtornos e 86% das mulheres consideram ter muita carga de responsabilidades. A pesquisa inédita foi realizada com 1.078 mulheres, entre 18 e 65 anos, em todos os estados do país, entre 12 e 26 de maio de 2023.

“A saúde mental não deve ser uma discussão limitada por fatores biológicos. Claro que existe influência deles, mas o que o relatório nos mostra é que a perspectiva de gênero e suas interseccionalidades afetam diretamente as relações sociais e, portanto, impactam diretamente no psicológico das mulheres”, explica Maíra Liguori, diretora da Think Olga.

O relatório “Esgotadas: o empobrecimento, a sobrecarga de cuidado e o sofrimento psíquico das mulheres” foi conduzido com a proposta de entender as estruturas que impõem o sofrimento das brasileiras na atualidade, reunindo dados que demonstram desde a sobrecarga de trabalho e insegurança financeira até o esgotamento mental e físico causado pela economia do cuidado, que enquadra todas as atividades relacionadas aos cuidados com a casa e com produção e manutenção da vida.

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A pesquisa identificou que a ansiedade, o estresse e a irritabilidade fazem parte do cotidiano de pelo menos 4 em cada 10 mulheres. As pressões estéticas e as violências de gênero também cobram seu preço: entre as entrevistadas mais jovens, 26% declararam que os padrões de beleza impostos impactam negativamente na saúde mental. Já o medo de sofrer violência é citado por 16% das respondentes;

O estudo reforça o papel do esgotamento ao adoecimento das mulheres. O relatório mostra que a sobrecarga de trabalho doméstico e a jornada excessiva de trabalho foi a segunda causa de descontentamento mais apontada – atrás apenas de preocupações financeiras. O trabalho de cuidado sobrecarrega principalmente as mulheres de 36 a 55 anos (57% cuidam de alguém) e pretas e pardas (50% cuidam de alguém). Segundo dados da Pesquisa Nacional por amostra de domicílio realizada em 2022, as mulheres gastam 21,4 horas da semana em tarefas domésticas e do cuidado, os homens usam 11 horas.

A pesquisa também indica que quanto maior vulnerabilidade das mulheres, maior a responsabilidade. As mulheres são as únicas ou principais provedoras em 38% dos lares. Essas mulheres são, em sua maior parte, negras, da classe D e E e com mais de 55 anos de idade. Somente 11% das entrevistadas dizem não contribuir financeiramente para a manutenção de suas famílias.

Já a insatisfação entre mães solo e cuidadoras é muito superior em relação àquelas que não possuem esse tipo de responsabilidade. As cuidadoras e mães-solo também são as mais sobrecarregadas com as tarefas domésticas e de cuidado, com 51% das mães e 49% das cuidadoras apontando a situação financeira restrita como o maior impacto na saúde mental. Isso quer dizer que a sobrecarga de cuidado também é um fator de empobrecimento das mulheres ou “feminização da pobreza”.

Para Nana Lima, co-diretora da Think Olga, “é necessário que comecemos a entender o impacto do trabalho de cuidado e suas consequências, além de partirmos de discussões que desestigmatizem tabus sobre a saúde mental. É essencial incentivar ações do setor privado, da sociedade civil e, principalmente, do setor público para um futuro viável para as mulheres”, avalia.

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Redação

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