Logtechs pavimentam estrada para sustentabilidade

Setor de logística entra em fase de modernização tecnológica que trará efeitos de médio e longo prazo para toda a cadeia

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4:47 pm - 08 de março de 2021

O movimento de aceleração é perceptível. O setor de transportes, que representa em torno de 12% do PIB global, vem intensificando a transformação digital para melhorar a eficiência logística com dois objetivos principais: reduzir custos e diminuir o impacto ambiental. O grosso dos investimentos em logística previstos para os próximos anos irá provocar disrupção em pelo menos três frentes – a dos caminhões autônomos, a eletrificação dos caminhões e o aperfeiçoamento de plataformas eletrônicas que conectam os caminhoneiros às cargas.

Pelo menos uma dúzia de empresas estão na corrida pelo desenvolvimento da tecnologia dos caminhões autônomos. Nas previsões do CEO da Tesla, Elon Musk, em uma década os caminhões não irão mais precisar de motoristas. Enquanto a mídia dá maior destaque para a competição de Musk com Google, Uber e Cruise pelos carros autônomos, os caminhões autônomos estão tão próximos, ou até mais, de chegar ao mercado.

A startup de San Diego TuSimple tenta bater a Tesla como pioneira. Em parceria com a fabricante Navistar e a UPS, ela já realiza testes no Arizona e no Texas, incluindo viagens autônomas supervisionadas (ou seja, com uma pessoa para assumir a direção) de depósito a depósito. O plano da empresa é dispensar o acompanhamento humano ainda em 2021.

A diferença da Tesla é que seus Semi Trucks são eletrificados. A questão central para esse tipo de veículo, que já pode ser encomendado em três continentes, está na bateria para os veículos longos, que ainda é muito pesada e rouba espaço da carga, tornando-o menos vantajoso que os convencionais a diesel.

Segundo Musk, o Semi terá dois tipos de autonomia, um para 500 km e o modelo high-end, que poderá rodar 1.000 km. Por enquanto, o piloto automático embarcado no Semi permite alguma autonomia, mas com humanos sempre na cabine.

Já o mercado de caminhões elétricos também tem vários players, como as chinesas BYD e Chanje, a Tesla, a Daimler, a Rivian, a Volvo, a Nikola, a VW, a Hyllion, a Renault e a Hyundai. Uns com bateria, outros híbridos. Os furgões já estão no mercado.

Autônomos ou não, caminhões precisam de carga. E a chegada do digital jogou o setor de transporte de cargas em uma espiral sem volta. A aderência às soluções que conectam caminhoneiros com as embarcadoras cresce exponencialmente. Aceleradas pela pandemia, embarcadoras e caminhoneiros recorreram às plataformas digitais.

Antes das logtechs, a rotina do caminhoneiro era dirigir até a praça onde os agenciadores negociam as viagens. Além de pagar entre R$ 50 e R$ 100 de estacionamento por dia parado, a carga ficava em outro local, gerando novo deslocamento. Ao completar a primeira perna da viagem, não havia a certeza de voltar carregado. Agora, com as contratações pela plataforma digital, roda-se menos tempo sem carga. Resultado: mais fretes durante o mês e mais dinheiro no bolso.

O matching digital entre cargas e caminhões não é apenas mais cômodo e eficiente. É também mais seguro, já que as plataformas reúnem uma série de informações tanto sobre o caminhoneiro como sobre as empresas que contratam os fretes. Dentro do sistema, há ratings para saber quem é bom pagador, quem se envolve em acidentes, avaliação dos usuários sobre o motorista e pesquisas sobre as empresas.

Outro ponto positivo é que dados mais precisos têm forte influência sobre a estrutura de custos. Afinal, nenhuma das partes fica com capacidade ociosa. Se duas cervejarias, em vez de mandarem dois caminhões para Manaus para voltarem vazios, conseguem transportar suas cargas no mesmo frete e um outro fornecedor contrata o mesmo caminhão para voltar para São Paulo, poupa-se três viagens vazias.

É um jogo de ganha-ganha com reflexos positivos também no meio ambiente. Em uma frota que roda no Brasil 60% do tempo sem carga, a redução potencial em emissões de carbono pelos caminhões equivaleria a toda emissão do Uruguai durante um ano.

O tamanho do potencial desse mercado pode ser comprovado pelo interesse dos investidores. Só no ano passado, a chinesa Full Truck Alliance recebeu aporte de US$ 1,7 bilhão por grandes fundos de investimento para desenvolver sua plataforma que conecta embarcadores e transportadores, um serviço no qual concorre com a Uber Freight, que levantou US$ 500 milhões, e a pioneira Convoy, que recebeu US$ 400 milhões para aperfeiçoar seu sistema e já é responsável pelo movimento de uma grande porcentagem das cargas nos EUA.

O setor de logística entra numa fase de modernização tecnológica que trará efeitos de médio e longo prazo para toda a cadeia, produzindo benefícios ambientais e melhorando a eficiência no transporte de cargas.

É uma estrada sem volta. E o planeta agradece.

* Federico Vega é CEO da Cargo X

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