Navegar é preciso

Quanto mais tecnologia aparece e mais presente no dia a dia das pessoas ela está, maior a necessidade de resgatar a essência humana

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11:39 am - 21 de dezembro de 2018

Repleto de acontecimentos, 2018 chega ao fim como um ano de dúvidas, questionamentos, medos, mas também como um ano em que a roda da vida começa a realinhar-se em busca de um equilíbrio quase perdido. Se ao longo dos meses, enquanto IT Mídia, discutimos “A História do Amanhã”, inspirada nos livros Sapiens e Homo Deus, de Yuval Harari, percebemos que o cultuado avanço tecnológico, bem como suas promessas, trouxeram medos e inseguranças que precisam, rapidamente, serem tratados para que num futuro próximo colha-se mais benefícios que malefícios dessa revolução que vivenciamos.

Por outro lado, é engraçado ver que, quanto mais tecnologia aparece e mais presente no dia a dia das pessoas ela está, maior a necessidade de resgatar a essência humana. O mesmo Harari lançou recentemente o livro 21 Lições para o Século 21 e, em entrevista comentando diversas passagens desse livro, ele relembra que o autoconhecimento se tornou um imperativo ainda maior. O autor até brinca que na época em que o filósofo Sócrates proclamava a necessidade de se conhecer melhor e as pessoas o ignoravam os efeitos eram pequenos, ao passo que, ignorar essa questão nos dias atuais, significa estar à mercê de uma manipulação desenfreada e causada por um concorrente que você nunca enfrentou, nem mesmo em seu mais concorrido processo seletivo: a inteligência artificial.

Passados os três eventos da IT Mídia (IT Forum, IT Forum+ e IT Forum Expo), participei ainda de uma imersão em conteúdos diversos dentro do Web Summit, em Lisboa, Portugal, considerado atualmente um dos principais eventos de tecnologia do mundo. Eram 70 mil pessoas, entre as quais muitos empreendedores, ávidas por respostas. Entre corredores lotados e salas de conteúdos não menos cheias, profissionais de diversos países corriam de um lado ao outro da Feira Internacional de Lisboa querendo acumular conhecimento que trouxesse respostas à sua ansiedade e ao medo do que estar por vir e do que já está acontecendo. Jovens bem formados, mas desempregados. Executivos de grandes empresas e a insegurança de ver um império ruir por algo que não surgiu. Mas as respostas não são claras e tampouco simples e fáceis de encontrar como deseja a maioria.

As respostas se escondem nas entrelinhas de conteúdos rápidos – sinais dos tempos e da dificuldade de concentração que começa a contagiar a todos -, em reflexões muitas vezes solitárias e no defendido autoconhecimento frisado por Harari. Andar pelas ruas de Lisboa me fez pensar muito sobre nossa história como País, em nossas origens e em como nos organizamos enquanto sociedade e, próximo ao Monumento do Descobrimento, tentei associar as mudanças e descobertas atuais com a grandiosidade que representou o Império Português na época das grandes navegações e o que um evento de empreendedores tem propiciado a um País que, hoje pequeno, tenta reinventar-se para não sucumbir diante da avalanche transformadora que se coloca à nossa frente.

Se um dia os portugueses ensinaram ao mundo que navegar era preciso, hoje, mais que nunca, o espírito explorador e inquieto precisa ganhar força novamente, mas vinculado a um autoconhecimento profundo de maneira que, cada um de nós, possa passar por essa transformação e contribuir com a construção de um modelo de sociedade onde a noção de profissão como conhecemos deixa de existir, assim como setores e padrões preestabelecidos há décadas que ainda ditam nossas rotinas também tendem a desaparecer.

Sim, navegar continua a ser uma necessidade.

*Artigo originalmente publicado na Revista IT Forum

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