Loja física resiste, mas depende da mobilidade para conquistar vendas
Autosserviço ganha destaque. Saiba outras tendências neste artigo de Fernando Oliveira, diretor de TI da DMCard
Em janeiro, aconteceu em Nova York a NRF 2020 – Retai’s Big Show, o maior evento do varejo mundial. A cada edição, ano a após ano, fala-se de como a tecnologia influencia o desenvolvimento do varejo e o comportamento do consumidor. Nesta edição, mais do que nunca, a principal lição que trouxemos para casa foi que o ser humano voltou ao centro das relações enquanto a inovação e as máquinas chegam como um apoio neste processo.
Ao observarmos os insights para o futuro apresentados durante a NRF, é claramente possível perceber que muitos daqueles processos dependem da mobilidade, ou seja, do consumidor possuir um smartphone em mãos. Neste artigo, faço um exercício tentando mostrar a importância da mobilidade em três das mais importantes tendências de comportamento:
Consumidor cada vez mais impaciente
Pesquisas mostram que o consumidor gasta menos tempo em uma compra do que há cinco anos e começam preferir, cada vez, o autosserviço.
Atualmente, é muito raro alguém entrar numa loja para começar a procurar o que deseja. Quando o cliente chega, essa pesquisa já foi feita online e, muito provavelmente, está ali na tela do smartphone agora mesmo. Aquele momento do impulso de consumo já aconteceu dentro da internet. O cuidado que uma empresa tem com essa experiência digital do consumidor vai refletir nas vendas físicas e seus resultados.
Influência das recomendações
A recomendação de um produto exerce uma influência muito grande na decisão de compra do consumidor, seja a sugestão de parentes e amigos, ou mesmo de desconhecidos em redes sociais e espaços de avaliação, testes da imprensa e opinião de influenciadores digitais.
Isso significa que, quando um cliente entra em sua loja com o produto na tela do celular, ele não pesquisou apenas a cor, modelo e preço do que ele quer. Ele também pesquisou o que os outros dizem sobre o produto. E, acredite, se ele não o fez ainda, com certeza durante a compra vai enviar mensagens e fotos via Whatsapp pedindo a opinião de alguém.
Boa experiência com a marca
A relação de um consumidor com uma marca ou produto começa no ambiente digital e, muitas vezes, até se funde – ou se confunde – com a vida real. Como exemplo, posso citar a famosa loja da Nike, em Nova York, considerada um case no assunto. Mesmo pessoalmente e podendo manusear os calçados, o acesso aos detalhes e pedidos é feito pelo smartphone via QR Code. Quando você é abordado pelo vendedor, é para trazer exatamente o produto que você já escolheu sozinho em ambiente digital.
Isso tudo significa que o consumidor busca em sua relação com a loja mais do o produto, ele busca uma experiência que começa a unir os conceitos de compra e de entretenimento, além do atendimento cada vez mais personalizado.
Desafios do varejo brasileiro
Quando observamos essas tendências que empurram o consumidor para o ambiente digital, encontramos alguns desafios importantes na realidade brasileira do varejo. Algumas provocações que deixo para sua reflexão.
As duas maiores barreiras encontradas para o crescimento no mercado brasileiro são: a inclusão digital e a inclusão financeira. E, com certeza, as empresas maduras e inovadoras já têm essa consciência e buscam soluções.
Uma pesquisa divulgada pela TIC Domicílios, no ano passado, aponta que 70% da população brasileira tem acesso à internet. Para um país de dimensões continentais, isso representa um universo de 127 milhões de pessoas. Porém, isso também significa que dentro dos outros 30% também existe muita gente desconectada. E, dentre os conectados, o celular ainda é o dispositivo campeão, sendo utilizado por 97% dos internautas, enquanto apenas 43% afirmam utilizar um computador.
Contudo, quando nos concentramos apenas nas pessoas conectadas e que utilizam o smartphone, nos deparamos com a segunda barreira, principalmente nas classes mais baixas, que é a inclusão bancária e o acesso ao crédito. Por exemplo, para usar alguns dos serviços de entrega de comida disponíveis não basta apenas o celular conectado e o aplicativo instalado, é condição essencial ter um cartão de crédito.
Se o varejo estiver atento e continuar inovando de forma a romper essas barreiras, o varejo só tem a ganhar e a crescer com o apoio da tecnologia e da mobilidade.
*Fernando Oliveira é diretor de TI da DMCard e tem 24 anos de carreira na área de Tecnologia da Informação