Ford espera receita de R$ 500 milhões no Brasil com exportação de tecnologia
Após encerrar produção de veículos no país, multinacional foca na produção de conhecimento com Centro de Desenvolvimento e Tecnologia em Camaçari
Um ano e meio após anunciar o encerramento da produção de veículos no Brasil, a Ford busca agora alcançar novas receitas no país através da exportação de serviços de engenharia, pesquisa e desenvolvimento de tecnologia automotiva. A estratégia foi detalhada pela multinacional dos Estados Unidos nesta sexta-feira (01) e é ancorada no Centro de Desenvolvimento e Tecnologia da Ford no país, em Camaçari, na Bahia.
O espaço, localizado no Cimatec Park – estrutura de inovação em parceria com o Senai Cimatec –, faz parte de um ecossistema que conta com nove grandes centros de pesquisa e desenvolvimento espalhados pelo mundo. A planta de Camaçari é apoiada por outras estruturas na região da América do Sul, incluindo um campo de testes em Tatuí (SP), um hub de ideação em Salvador (BA), e um centro em Pacheco, na Argentina, focado no modelo Ranger.
Segundo a Ford, a expectativa é gerar R$ 500 milhões em receitas com a exportação de projetos e conhecimento para a Ford mundial neste ano. “Nós, brasileiros, nos sentimos muito distantes do desenvolvimento de tecnologia de ponta”, disse Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford para América do Sul. “Nós temos gente capacitada para fazer isso, nós temos demanda e somos competitivos – existe um custo menor, e isso nos diferencia. Hoje, esse centro é parte do nosso modelo de negócio”, completou.
Daniel Justo, presidente da Ford América do Sul, afirmou que o número representa um aumento “significativo” no faturamento que a empresa registrava anteriormente com o centro. “O time, anteriormente, era dedicado inteiramente ao desenvolvimento local. Quando a gente fez essa mudança, para o desenvolvimento internacional, a gente passou a exportar”, pontuou.
O Centro de Desenvolvimento e Tecnologia da Ford em Camaçari já é operado pela companhia há mais de 20 anos. No entanto, desde o fim das operações de produção de veículos no Brasil, no entanto, a estrutura ganhou nova relevância para o negócio da Ford. Em maio, a organização anunciou a ampliação do centro, incluindo a abertura de 500 novas vagas no local. O número representou um crescimento de 50% no time de engenharia, que já conta com mais de 1,5 mil especialistas trabalhando no local.
De acordo com a liderança da empresa no país, a estrutura de pesquisa e desenvolvimento brasileira seguirá explorando três pilares estratégicos que são parte da visão da Ford para o futuro do segmento automotivo: eletrificação, automação e conectividade. As áreas estudadas incluem pesquisa e desenvolvimento de software, promoção de conectividade veicular, desmonte e análise de veículos e validações e testes para o portfólio local.
O Brasil já soma contribuições de destaque para a Ford global. Hoje, um terço de todas as funcionalidades embarcadas nos veículos da empresa no mundo já estão a cargo do time brasileiro. Exemplos incluem o “One Pedal Drive” do Mustang Mach-E – que permite dirigir usando apenas o acelerador, sem acionar o pedal do freio – e da “Zone Lighting”, que controla as luzes externas da F-150, inclusive da Lightning, sua versão elétrica.
A Ford destaca também a colaboração do centro de Camaçari no trabalho de “teardown” promovido pela montadora. A ação consiste no desmonte de veículos – da própria Ford e de fabricantes concorrentes – para análise de peças e materiais. A estratégia é criar “fábricas de dados” com o teardown, analisando melhorias de performance e experiência através do escaneamento e digitalização dos componentes de veículos desmontados.
“A base de tudo que fazemos e do que está por vir no futuro da mobilidade é a pesquisa, seja de novos produtos, materiais ou mesmo de utilizações. A pesquisa é necessária para qualquer empresa ou país que queira se sobressair. Nesse ambiente de inovação surgem grandes ideias, muitas delas, inclusive, dão origem a patentes dado o seu grau de originalidade”, destacou André Oliveira, diretor de Engenharia da Ford para a América do Sul.
Produtor de tecnologia, mas não consumidor
Apesar da estratégia de produzir conhecimento e tecnologia automotiva no Brasil, a Ford continua reticente sobre os planos de trazer muitas dessas inovações ao país na forma de produtos – incluindo veículos elétricos. O modelo Mustang Mach-E, por exemplo, já foi avistado e registrado rodando em ruas brasileiras, mas continua sem data prevista de lançamento.
Segundo a Ford, sua estratégia atual é a expansão da capacidade de produção global de veículos elétricos, frente a uma demanda que superou as expectativas. Os planos é entregar 600 mil unidades até o final de 2023 e até 2 milhões de unidades até 2026.
“Em paralelo, nossos times estão analisando quais produtos serão trazidos para o mercado brasileiro e da América do Sul. No momento propício, a gente vai anunciar esses produtos”, disse Justo, presidente da Ford América do Sul.