Febraban Tech: Pix e Open Finance são ‘alavancas’ da transformação financeira do país
Maior evento de tecnologia bancária do Brasil começou com debate entre presidentes das maiores instituições financeiras
O setor financeiro passa por transformações profundas – e a tecnologia é a alavanca. Essa foi a tônica do debate de abertura do Febraban Tech – antigo Ciab Febraban –, principal evento de tecnologia financeira e bancária do país, que começou nesta terça-feira (9), em São Paulo.
“Nós mudamos a fisionomia dos serviços financeiros no brasil e tornamos o dia a dia mais fácil, seguro e dinâmico”, disse Isaac Sidney, presidente da Febraban, durante a fala inaugural do congresso. “Os bancos tornaram mais democrático o acesso aos serviços financeiros. Estão mais próximos de seus clientes e oferecendo serviços que não imaginávamos há 30 anos.”
Segundo o executivo, esse novo momento do setor bancário no Brasil ocorre através da capacidade de adoção de tecnologia pelas instituições que o compõem. Para enfrentar as adversidades e transformações trazidas pela pandemia da Covid-19, o segmento expandiu ofertas, produtos e acesso a serviços financeiros para a população do país, e hoje se encontra em um novo patamar de inovação.
“A gente está em uma revolução e somos parte dessa revolução”, afirmou Daniella Marques, presidente da Caixa, durante o painel. De acordo com a executiva, o país passou por um conjunto de mudanças “estruturais e de reformas” que contribuíram para a digitalização do ambiente bancário do Brasil. “Quando você olha o Pix, Open Finance, Open Banking, o 5G. Conjugar tudo isso significa que estamos apontados para um mundo diferente. Eu vejo uma grande oportunidade para o Brasil e para o setor, do qual a gente participará ativamente”, completou.
Pix e Open Finance
Durante o debate inaugural do evento, dois fenômenos específicos foram destacados como os principais contribuidores para o novo cenário de transformação bancária do país: Pix e o Open Finance. “Pix permitiu a abertura de novas facilidades para o cliente novos negócios”, destacou Sidney.
Segundo dados da instituição, o sistema de pagamentos instantâneos já se consolidou no Brasil e é um êxito entre empresas e clientes finais. Desde seu lançamento, teve mais de 14 bilhões de transações realizadas, movimentou R$ 7,5 trilhões em volume financeiro e foi utilizado por 118 milhões de pessoas físicas e empresas.
O Open Finance, por sua vez, permitirá a próxima onda de inovação e novos benefícios para usuários do sistema financeiro e instituições. Na visão dos participantes, a permissão de compartilhamento voluntário de dados financeiros por clientes para instituições financeiras irá gerar oportunidades de criação de produtos e serviços inéditos no país. “Isso vai transformar ainda mais o setor bancário”, disse o presidente da Febraban.
“A partir do momento que o cliente compartilha dados com outras instituições, a gente tem a oportunidade de realizar ofertas mais personalizadas”, avaliou Fausto de Andrade Ribeiro, CEO do Banco do Brasil. “O desafio é fazer isso em escala.”
O BB, destacou o executivo, já tem experimentado o formato. Um exemplo disso é o desenvolvimento de um marketplace de produtos que associa o banco a parceiros de varejo para a comercialização de ofertas personalizadas de produtos para clientes.
“Esse mercado permite usar o banco como plataforma e direcionar clientes a fazer compras personalizadas com parceiros do nosso banco”, explicou. De acordo com Fausto, o modelo já teve mais de R$ 430 milhões em transações por parceiros. Parte dessa receita fica com o banco. “É uma receita impensável há alguns anos atrás.”
Octavio de Lazari, presidente do Bradesco, também vê oportunidades no Open Finance, mas destacou alguns dos desafios que a nova abordagem trará para o setor. “A gente tem muita preocupação para que a gente tenha muita segurança no transacionar dos dados, para que não haja problemas para os clientes”, narrou.
Segundo o executivo, o Open Finance pressupõe a transação de dados entre plataformas de diferentes empresas, incluindo bancos e fintechs. Para o bom funcionamento do sistema, é preciso “padronização” dos ambientes. “O grande desafio é a segurança. Os níveis de segurança são diferentes, a gente precisa padronizar isso para que, na hora que for lançar [um produto ou serviço], todos os dados estejam protegidos”, completou.
Globalização
Além das atuais tendências tecnológicas do setor, o painel de abertura da Febraban abordou as transformações nas dinâmicas do comércio internacional e seus impactos para o setor. “Infelizmente, com o advento do conflito entre Rússia e Ucrânia, as cadeias de suprimentos globais foram questionadas. Veja o que aconteceu com as commodities, com o próprio petróleo. Isso trouxe inflação ao país”, pontuou Octavio.
Para Lazari, o Brasil pode aproveitar de sua posição global para repensar estratégias no comércio mundial frente às disrupções da cadeia global de suprimentos. “É inegável os benefícios alcançados com a globalização. Se abriram as fronteiras da capital, temos informação em tempo real online, internacionalização de nossas empresas e, um ponto chave, a especialização das cadeias de suprimentos”, narrou.
“O que pode acontecer é um rearranjo desse processo”, continuou. “Temos duas alternativas: ou o país cria uma cadeia regionalizada de produtos estratégicos, com vizinhos e países amigos, ou a gente diversifica a cadeia de aquisição em vários países”, finalizou.