Como a tecnologia pode evitar os riscos globais apontados em Davos
Relatório do WEF alerta para riscos como desastres climáticos, ciberataques e água
O Fórum Econômico Mundial 2019, realizado há cerca de um mês em Davos, na Suíça, divulgou um relatório que aponta os principais riscos globais para 2019. Alguns dos três principais são desastres naturais e climáticos, ciberataques, além da crise de abastecimento de água.
Tecnologias avançadas surgem como potencial solução para evitar essas ameaças. Especialistas ouvidos pela Computerworld Brasil detalham como o uso de plataformas tecnológicas podem ajudar no combate a esses riscos.
Ciberataques
Miguel Macedo, diretor de canais e marketing da Trend Micro para a América Latina, comenta que ciberataque é uma das principais preocupações do relatório pois afeta três pontos primordiais para a sociedade e para as empresas. O primeiro deles é o enorme prejuízo à sociedade quando falamos em infraestruturas críticas como distribuição de energia, de água, controle do tráfego aéreo, automatização de metrôs nas grandes cidades etc. Na sequência, o executivo cita a atenção com a reputação das empresas. Mais do que o prejuízo financeiro direto, a reputação das marcas dessas empresas e a confiança do consumidor passa por essa relação de ceder as informações involuntariamente. O que nos leva justamente ao terceiro ponto: o financeiro. Macedo alerta que, com a chegada de regulamentações como a LGPD no Brasil, as empresas precisam estar atentas para não serem penalizadas, assim como o Google, que foi multado pela União Europeia em US$ 50 milhões, ou perderem receitas devido à insegurança do mercado.
“Também segundo o relatório, esses ataques cibernéticos são classificados como o principal risco evitável. Assim, compreendemos que a melhor forma de agir contra esses ataques é a prevenção por meio da tecnologia e conscientização do usuário. Sistemas em nuvem, que são hoje uma grande realidade do mercado, devem ser protegidos de forma contínua, por exemplo. Podemos mencionar também as infraestruturas críticas novamente, como transportes autônomos – como já existem metrôs em São Paulo -, equipamentos digitais que estão disponíveis hoje nos hospitais, automação em grandes indústrias como a automotiva. Todos esses são exemplos em que conseguimos utilizar a tecnologia com caráter preventivo, para bloquear um ataque antes que interfira em alguma linha de produção, no momento de uma operação crítica ou causando um acidente em uma rota de transporte não programada”, destacou Macedo.
Impactos ambientais
Segundo o relatório, dentre os dez riscos globais em termos de impacto, cinco são de ordem ambiental. Como a tecnologia pode neutralizar tais ameaças?
Marcos Matias, presidente da Schneider Electric Brasil, aponta que, mesmo com a urbanização e a industrialização em ascensão vertiginosa, é crucial limitar o aquecimento global a 1,5°C, gerindo a poluição em um nível suportável. “Para isso ocorrer, o caminho é um só: diminuir nossa intensidade de carbono e melhorar nossa eficiência em três vezes. Esse, a propósito, é o dilema energético que a Schneider Electric trabalha para resolver. Há de se criar a consciência de que é preciso mitigar o impacto industrial sobre as mudanças climáticas e outros problemas ambientais. Esse é o cerne da Globalização 4.0, integração da transformação digital com sociedade, empresas e governos”, disse.
O executivo comenta também que, no setor industrial, termos como internet das coisas, inteligência artificial, automação, manufatura aditiva e eficiência energética nos processos fabris contribuem enormemente para a redução das emissões de gases do efeito estufa. Já em prédios e cidades de modo geral, redes elétricas inteligentes, sistemas solares fotovoltaicos, sistemas inovadores de iluminação e refrigeração, veículos elétricos e ainda tratamento das águas residuais são tecnologias fundamentais para o bem do planeta.
“Felizmente, companhias ao redor do mundo vêm aumentando seus investimentos em projetos de eficiência energética e sustentabilidade. Todos os anos, mais de US$ 450 bilhões são destinados a tais iniciativas (dado do WEF). Não é questão de imagem, nem de novas oportunidades de negócios. Trata-se de sobrevivência. Se as organizações não se dedicarem à otimização dos seus programas de energia e sustentabilidade, elas ficarão para trás”, apontou Matias.
Por fim, o executivo comenta que, ao construir casos de sucesso sólidos, usar dados de forma eficaz, definir metas públicas, adquirir energia estrategicamente e explorar tecnologias emergentes, empresas de todos os ramos têm uma chance real de liderar a transição energética. “Essas são conclusões do nosso recém-lançado Relatório de Progresso das Empresas em Energia e Sustentabilidade 2019. Para constar: segundo o WEF, cerca de 80 mil projetos para a redução das emissões de CO2 reportados por 190 das 500 empresas listadas pela Fortune economizaram quase US$ 3,7 bilhões em 2016. Motivador, não?”.
Água
Virgínia Sodré, diretora de novos negócios da Acciona Água Brasil, explica que as questões da água no mundo são tão sérias porque demandam uma visão integrada sobre a sua existência e preservação. “Precisamos perceber os diferentes níveis de gestão da água e fazer conexões entre os seus agentes, para que o ciclo comece a ser virtuoso”, disse.
Ela aponta que, desde a falta de políticas públicas e de fiscalização para preservar as áreas de nascentes e evitar a ocupação dos mananciais, até uma camada intermediária, em que analisamos questões de infraestrutura de saneamento, a situação é bastante preocupante. “Nos deparamos, no Brasil, com estações de tratamento de água e redes de distribuição muito antigas, com mais de 50 a 90 anos – e não é exclusividade daqui, outros países também lidam com este problema. A consequência, é um desperdício médio, no Brasil, de 40% de água, que significam cerca de 10 bilhões de reais por ano, sem pensar no que é desperdiçado de energia elétrica associada a esta perda, pois as companhias de Água e Esgoto são as maiores usuárias de energia nos grandes centros urbanos.”
Segundo a especialista, adotar uma política pública com postura ativa e focada na gestão integrada da água é o primeiro passo. Porém, ela lembra que a tecnologia é a principal ponta para que essa orquestração de fatores dê resultados eficientes e rápidos. “Por exemplo, 71% da população brasileira, hoje, vive com apenas 9% da água doce do mundo. De forma global, a dessalinização é uma das alternativas viáveis para o fornecimento de água potável para os grandes centros urbanos localizados em regiões litorâneas. E, aqui, o emprego da inovação é o que garante a evolução dessa técnica”, comentou.
A Acciona Água foi pioneira no desenvolvimento da dessalinização por osmose reversa da água do mar e água salobra, que se dá por modelos de membrana modernos e com o uso de dispositivos de recuperação energética. “Para isso, a companhia aposta em Pesquisa e Desenvolvimento, com investimento de cerca de R$ 140 milhões por ano no seu centro de desenvolvimento tecnológico, onde todas as grandes tecnologias são testadas e aprovadas antes de serem implantadas na prática”, pontuou.
Em outra ponta, tão importante quanto, está o tratamento das águas residuais. “E aqui, novamente, a tecnologia é um diferencial impactante, que nos ajuda a reduzir o risco global em relação a este bem, que é escasso. Por fim, precisamos amarrar as pontas, com conscientização individual, política e industrial. Este é o princípio para que as inovações tecnológicas mostrem o seu real potencial, capaz de solucionar, em grande parte, o “fator risco” da água no mundo”, completou.