Qual é o impacto das empresas de tecnologia nas comunidades locais?
Setor de tecnologia deve adotar uma abordagem proativa alinhada à sua estratégia ESG para garantir que a sua presença tenha um legado positivo
Não é novidade que a agenda ESG (ambiental, social e governança) está em alta em diversos setores do mercado, influenciando a reputação, o desempenho financeiro, a inovação e a conformidade regulatória das empresas. No setor de tecnologia isso não difere, já que nele há muitas organizações com capacidade técnica e ampla influência para promover um futuro mais sustentável e responsável.
No centro dessa mudança de paradigma estão os stakeholders, sendo todas as partes interessadas em determinada empresa. Além dos investidores, clientes, colaboradores, fornecedores, parceiros e concorrentes, até mesmo as comunidades locais são consideradas stakeholders. Isso porque elas não apenas testemunham o impacto das operações tecnológicas, mas também participam ativamente desse processo de transformação.
Esse impacto se torna ainda mais claro quando se pensa em como as operações podem influenciar na qualidade do ar, água e o bem-estar geral dessas pessoas locais.
Por outro lado, as empresas de tecnologia costumam fomentar o mercado de trabalho com a geração de empregos, muitas vezes altamente qualificados, contribuindo para o desenvolvimento econômico das comunidades. E, além de melhorar a qualidade de vida daqueles que residem próximo dessas companhias, esses empregos impulsionam a infraestrutura e o crescimento econômico geral.
Para isso, é fundamental haver uma consulta inicial e ativa a essa comunidade local para entender suas necessidades e anseios. O relacionamento será duradouro e, por isso, é importante também um canal aberto de engajamento para todas essas partes interessadas da empresa – onde as sugestões, reclamações e necessidades podem ser levantadas e tratadas. Esse canal promove a transparência e, acima de tudo, ajuda a construir relacionamentos mais sólidos com a comunidade local.
ESG e construção de relacionamentos
Para se ter uma ideia, uma pesquisa realizada pela startup Humanizadas, que ouviu mais de 30 mil profissionais do mercado financeiro, indica que o ESG possui um papel imprescindível na construção de relacionamentos mais sólidos com os stakeholders. Conforme o levantamento, 80% dos clientes afirmam que recomendariam os produtos, 82% dos parceiros expressam otimismo em relação ao futuro das parcerias e 77% dos membros das comunidades recomendariam as organizações.
Um exemplo bastante interessante de se apresentar para este tema é o Chile, um país que, por enfrentar desafios hídricos há bastante tempo, fez com que grande parte de sua população passasse a se preocupar com os investimentos realizados não só pelo governo, mas, principalmente, pelas iniciativas privadas. Além disso, as legislações locais também são mais rigorosas para questões sociais e ambientais, se compararmos com as de outros países latino-americanos.
Dessa forma, instalar uma infraestrutura industrial por lá não é tão simples. No entanto, ao abrir um canal de engajamento, é possível que a empresa trabalhe em conformidade com as regulamentações e os interesses da sociedade. Isso porque os stakeholders locais conseguem expressar as suas preocupações e necessidades — o que, por sua vez, ajuda a empresa a adaptar os seus projetos e iniciativas conforme as demandas reais.
Isso inclui considerar estratégias para aumentar a eficiência energética, garantir práticas ambientais responsáveis e garantir que os benefícios econômicos se traduzam em melhorias mensuráveis na qualidade de vida da comunidade.
Do mesmo modo, o feedback constante dessas partes interessadas torna mais fácil para a empresa melhorar continuamente as suas práticas de ESG, envolvendo aprimoramentos nos processos de sustentabilidade, maior responsabilidade ambiental ou o desenvolvimento de programas sociais mais eficazes.
É sempre válido lembrar que cada comunidade tem a sua própria cultura, valores e propriedades, e que ela deve ter o protagonismo nesse relacionamento de longo prazo. Com esse canal aberto, e a parceria com as comunidades, a empresa demonstra respeito pela cultura e pelas perspectivas locais, e pode encontrar ali uma oportunidade para formar a mão de obra que procura, que é tão escassa no caso dos data centers. Isso cria uma base mais sólida para relacionamentos ganha-ganha de longo prazo, bem como contribui para evitar conflitos.