Métrica de governança: bússola para o ecossistema de startups e scale-ups

Ferramenta gratuita auxilia atuação de founders e demais participantes

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2:22 pm - 27 de janeiro de 2022
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Quando, em 2019, lançávamos o Caderno de Governança para Startups e Scale-Ups do IBGC, tive o privilégio de moderar uma mesa redonda em um dos maiores centros do ecossistema no país. Na preparação do evento, em conversa com o Diretor de Inovação de um grande banco, ele disse: “Sucasas, eu precisava de um selo de governança para startups. No banco fazemos negócio com várias startups e não tenho como avaliar se elas têm uma governança adequada”. Infelizmente, naquele momento não havia ferramentas para ajudá-lo, além do caderno que lançávamos.
O desafio estava de qualquer mandeira lançado. A Comissão de Startups e Scale-ups do IBGC, da qual faço parte,decidiu pensar alguma forma de “medir” a governança das Startups. O IBGC nos inspirou com a ferramenta largamente conhecida da métrica de governança para empresas fechadas tradicionais, um produto que ajuda essas empresas a autoavaliarem sua maturidade no tema.
A intersecção do anseio do ecossistema com a métrica já existente gerou uma iniciativa da nossa comissão e do time de pesquisa do IBGC. Usando o Caderno como alicerce, foi criado um grupo de trabalho dedicado. Começava ali a gestação da Métrica de Governança para Startups e Scale-ups do IBGC (“Métrica GSS”).
Um desafio muito além da métrica de empresas fechadas tradicionais estava justamente na estrutura do caderno citado, que se tornou a base de toda a dinâmica da Métrica GSS. Ele prevê quatro pilares com práticas de governança que vão evoluindo ao longo das quatro fases da vida de uma startup; bem diferente da estrutura unidimensional das empresas fechadas.
Desenvolveu-se um sistema de pontuação engenhoso, refletindo 38 práticas de governança previstas para as quatro fases e permitindo produzir um diagnóstico final que funciona realmente como uma bússola. Antes de descrever melhor o relatório, vale lembrar que o formulário da Métrica GSS é uma autoavaliação gratuita das startups para auxiliá-las na percepção do grau de maturidade da governança. Não é um ranking ou um selo de qualidade, muito menos uma premiação.
Um dos pontos cruciais do questionário é a autodeclararão da fase em que a startup se encontra. Isso vai definir se as práticas adotadas estão em concordância com o caderno. As perguntas tampouco precisam ser respondidas de uma só vez. O sistema guarda suas respostas para que o questionário seja finalizado posteriormente. Completado o questionário, as métricas produzirão um relatório final que consiste de duas partes.
A primeira é uma visão geral da adoção das práticas de governança. Nesse grande resumo, a startup verá como está a adoção das práticas de governança previstas para sua fase atual. Assim, por exemplo, uma startup na fase de Tração deveria ter implementado todas as práticas previstas para as fases anteriores (de Ideação e Validação), além da sua própria fase. Um gráfico-resumo mostrará o percentual de adoção das práticas nos quatro pilares.
A segunda parte é, para mim, a mais valiosa. Nela, cada pilar é detalhado separadamente. O relatório mostra qual o percentual de implementação das práticas em cada fase individualmente, incluindo fases futuras. Por exemplo, uma startup pode já ter implementado algumas práticas de governança preconizadas no caderno para a fase de Tração, mesmo estando ainda na fase de Validação. Além desse percentual de implementação, o relatório detalha todas as práticas que foram implementadas por completo para a fase atual da startup, as práticas que deveriam ter sido implementadas e não foram, ou foram implementadas parcialmente e as práticas previstas para as fases posteriores que já foram implementadas. Todas as práticas são identificadas e referenciadas para serem facilmente encontradas no caderno e revisadas.
De posse dessas informações, cabe à startup refletir sobre sua jornada de governança: quais práticas não implementadas devem ser a prioridade? Práticas de fases futuras podem estar burocratizando desnecessariamente a operação? Ou são exigência de novos sócios (exemplo: investidores anjos e/ou venture capital) ou regulatória? Como sempre, não há um certo e errado. Cabe aos founders refletirem sobre as informações e tomarem as decisões que sejam melhores para o negócio.
Para o ecossistema, uma métrica como essa é muito valiosa. Não só as startups podem fazer sua autoavaliação, mas mentores podem utilizá-la como ferramenta adicional nas suas mentorias. Consultores podem usar a métrica como avaliação inicial para entender o estado da governança dos seus clientes potenciais. Incubadoras, aceleradoras, investidores-anjos e/ou gestores de venture capital podem ter uma visão melhor das empresas que querem apoiar. E corporações como o banco do meu amigo lá do primeiro parágrafo podem entender melhor a governança das startups que pretendem contratar. Enfim, ganha todo o ecossistema.
Quer você seja founder de startup ou participante deste ecossistema, convido todos a conhecerem melhor e aplicarem a Métrica GSS.
Garanto que vai gostar do resultado!
* Maurício Sucasas trabalhou por 30 anos na IBM, onde liderou o ecossistema de startups da multinacional para todos os mercados emergentes. É investidor e mentor de startups, além de membro da Comissão de Startups e Scale-Ups, do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

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