Diversidade: um tema também para startups?

É um equívoco estratégico assumir que o papel de promover a diversidade deve ser 'delegado' exclusivamente às grandes corporações

Author Photo
por IBGC
10:20 am - 30 de abril de 2021
diversidade

Diversidade é um tema que tem ganhado cada vez mais espaço na agenda das grandes empresas. Recentemente o próprio IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) publicou sua Agenda Positiva de Governança. Um dos seus seis pilares é justamente  Diversidade e Inclusão. Lá, conforme o texto, “os líderes devem agir com urgência e comprometer-se a assegurar tratamento justo e oportunidades iguais para todos, sobretudo na promoção de equidade de gênero e raça.”

É um equívoco estratégico, entretanto, assumir que o papel de promover a diversidade deve ser “delegado” exclusivamente às grandes corporações. Todas as empresas devem se debruçar sobre o tema de forma ativa, das grandes às microempresas, das tradicionais às startups.

Em 2020, a Associação Brasileira das Startups (ABStartups) fez uma pesquisa sobre diversidade usando sua   base de dados. Com toda a visibilidade que o tema tem não surpreende 75% das Startups declararem apoiar a Diversidade e classificarem o tema como importante ou muito importante para a empresa. Na contramão, no entanto, quase 27% dessas empresas não têm sequer uma mulher no time e 52% não contam com negros na sua equipe. Isto sem mencionar que mais da metade dos “founders” são homens e quase dois terços se autodeclaram brancos.

Promover uma cultura de diversidade e inclusão baseada nos padrões consolidados – gênero, etnia, crença, orientação sexual, idade, experiências, entre tantos outros – já é um grande ganho para as startups, especialmente na visibilidade e percepção do negócio por potenciais investidores. Nesta seara, vale notar que a diversidade de gerações é muitas vezes relegada a segundo plano. Aproveitar esta cultura para aprofundar e disseminar a diversidade cognitiva, pode ser o grande divisor de águas para as organizações empresas serem ainda mais inovadoras. Diversidade cognitiva significa buscar pessoas que pensem diferente, que tenham estilos gerenciais distintos, que tenham pontos de vistas diversos e que, por isto mesmo, podem oferecer perspectivas únicas ao solucionar um problema. Nutrir esta diversidade é muito complexo, pois nossa tendência como seres humanos é buscar conformidade. Ter ao seu lado alguém que concorde com você, dá conforto, mas não te faz crescer.

Nesse aspecto, é bom notar que, em geral, mulheres têm ponto de vista diferente de homens. Negros ou asiáticos, por exemplo, têm percepções da sociedade diferentes de brancos, e que o impacto de determinados produtos na visão do grupo LGBTQIA+ difere de outros grupos da sociedade. Sem contar que os mais jovens, bem como o grupo acima dos 60 anos, trazem percepções diversas daqueles na faixa dos 40 a 50 anos, por exemplo. Volto na mesma tecla: nutrir e fazer crescer esta diversidade cognitiva é, possivelmente, mais difícil que a diversidade, digamos, essencialmente estatística.

Para uma startup é, muitas vezes, difícil começar essa jornada. A empresa nasce usualmente de dois ou três founders (no inglês de propósito em nome da diversidade cognitiva) que terão que trabalhar muito antes de conseguirem contratar mais pessoas para o time. Olhar outras oportunidades pode antecipar e acelerar a jornada. Se a empresa vai participar de um programa de aceleração, qual o perfil desta aceleradora? Se vai buscar mentores ou investidores, quem serão eles? Como pensam?  Se vai fazer o piloto do seu MVP (minimum viable product) em uma organização, vale a pena olhar o perfil desta empresa pensando também em diversidade?  A startup se depara, de fato, com inúmeras oportunidades de trazer diversidade (inclusive cognitiva) para dentro da operação muito antes de começar a contratar. Só precisa que os founders tenham este “DNA”.

Acontece, também, de os líderes não acreditarem genuinamente na promoção da diversidade. Muitas companhias, startups ou não, promoverão uma diversidade que chamarei de “generosa”. Me explico: como o tema tem muita visibilidade, isto pode melhorar a atratividade do produto, reconhecimento positivo da marca e, até mesmo, o apetite de potenciais investidores.

Mesmo que este seja o caso de alguns, a minha sugestão  é: comece assim mesmo! Busque e promova a diversidade, sempre pensando também no aspecto cognitivo. Tenho confiança que os ganhos em ambiente de trabalho e inovação serão tão significativos que mesmo mais “generoso” se tornará “genuíno”. Afinal, eu, genuinamente acredito que a diversidade cognitiva é o DNA da inovação! Mas este é um tema que merece ser discutido em um artigo a parte. A conferir.

*Maurício Sucasas trabalhou por 30 anos na IBM, onde liderou o ecossistema de Startups da Multinacional para todos os mercados emergentes. É investidor e mentor de Startups, além de membro da Comissão de Startups e Scale-Ups do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

 

Newsletter de tecnologia para você

Os melhores conteúdos do IT Forum na sua caixa de entrada.