Tendências para 2021: as tecnologias que ganham força no cenário pós-covid

Especialistas comentam avanços que devem marcar o próximo ano e como o Brasil pode se preparar para esse salto em TI

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4:08 pm - 27 de outubro de 2020
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O ano de 2021 promete ser de grandes transformações tecnológicas, a começar pelo ingresso da tecnologia 5G. A nova geração de conexão tem potencial para de revolucionar a sociedade. Muito por conta da agilidade no tráfego de informações da internet, maior conectividade entre objetos e cidades inteligentes.

Além disso, outra das tendências que podem ser apontadas para 2021 é o retorno das preocupações com segurança da informação. Desta vez, por conta da chegada da Lei de Proteção Geral de Dados (LPGD).

Outro exemplo de hábitos consolidados pela pandemia, os cursos online continuarão em alta. Paralelamente, haverá o avanço de tecnologias que possibilitam a produção local de sistemas de energia solar e eólica. Ou seja, substituindo os grandes projetos de geração de energia elétrica. E os pesquisadores prosseguirão o trabalho de melhorar a autonomia dos veículos autônomos.

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Para comentar essas tendências, o Instituto dos Engenheiros Eletrônicos e Eletricistas (IEEE) reuniu os especialistas Cyro Vicente Boccuzzi, Édson Watanabe, Marcos Simplício, Maurício Salles, Paulo Miyagi e Raul Colcher, todos membros do instituto. Confira os principais destaques do encontro virtual, promovido nesta terça-feira (27).

Revolução do 5G

Ao ingressar no País, a tecnologia 5G irá provocar mudanças radicais nas conexões de internet. Fazer apresentações a distância usando realidade virtual, movimentar robôs em hospitais e fábricas de forma remota são algumas das possibilidades do 5G, antecipa Raul Colcher, membro do IEEE e sócio e presidente da Questera Consulting. O leilão das frequências 5G está previsto para 2021. Logo nos primeiros meses de operação, será possível usufruir a banda larga expandida que agilizará o tráfego de informações. As redes 4G oferecem cerca de 45 megabits por segundo. O 5G pode ser de 10 a 20 vezes mais rápido.

A computação na borda, que processa parte dos dados recebidos no próprio dispositivo, computador ou servidor local, abrirá novas perspectivas permitindo, por exemplo, que funcionários usem vídeo para selecionar peças à distância. A baixa latência da conexão 5G proporcionará o controle e movimento de robôs de maneira remota em locais que oferecem risco à saúde do ser humano.

O trabalho home office também passará por transformações. A conexão 5G proporcionará a melhoria da qualidade das imagens das videoconferências. Hoje, se existem muitos participantes, há o aumento do tempo de latência e a perda de informações. Esta tecnologia permitirá ao profissional fazer apresentações com imagens mais nítidas, com interação de seus colegas e até o uso da realidade virtual.

Cibersegurança

Em razão da ação de hackers durante a pandemia, a área de cibersegurança ganhou espaço, que deve ser ampliado com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Embora parte das empresas já tenha se adaptado à lei, algumas terão de rever suas práticas de proteção de dados dos clientes. “Se uma pessoa tenta entrar no site da empresa após várias trocas de senha. O site permite a entrada ou bloqueia?”, exemplifica Marcos Simplício, membro do IEEE eprofessor de Engenharia da Computação da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). Para respeitar a LGPD, as empresas precisam usar as tecnologias existentes ou criar outros recursos. “Os bancos usam técnicas de inteligência artificial em sites, aplicativos e caixas eletrônicos para melhorar a segurança”, diz o membro do IEEE.

Além da LGPD, outra tendência é a aplicação da cibersegurança em outras tecnologias como Internet das Coisas (IoT), redes 5G, computação em nuvem e veículos autônomos. Por exemplo, em breve todos os carros fabricados no Estados Unidos funcionarão com redes veiculares, que permitem a comunicação entre carros. “Se um motorista quer fazer a conversão à direita, mas não vê o veículo ao lado por causa de um ponto cego, o sistema de cibersegurança o alerta para corrigir a rota e evitar o choque”, explica Simplicio.

Ensino remoto (e-learning)

Por outro lado, o isolamento contribuiu para vencer a resistência de professores e alunos em relação ao ensino remoto (e-learning). Em 2021, a modalidade continuará a ser praticada, provavelmente combinada com o ensino presencial. O membro do IEEE, Paulo Miyagi, professor de Engenharia Mecatrônica da Poli-USP, entende que a tecnologia usada para possibilitar o e-learning deverá ser aprimorada. Ele relata que os professores tiveram de repensar o uso de material didático, mesclando informações extraídas de livros com materiais disponíveis na internet. “Também se procurou soluções alternativas para enviar aos estudantes que não conseguiam acompanhar as aulas por causa da internet fraca”, lembra.

Ele acredita que outro ganho deste tipo de ensino foi ampliar as práticas didáticas para um número maior de alunos. “Antes se realizava atividades práticas apenas com a quantidade de alunos que cabia no laboratório. Com a tecnologia, recriamos experimentos e outras atividades para ser realizados de forma virtual e para um grupo maior de estudantes”, relata. Miyagi revê que as plataformas poderão ser usadas para ampliar a comunicação não só entre professores e alunos, mas também entre os vários grupos de pesquisa do País, o que representará um ganho para a comunidade científica brasileira. Entretanto, destaca que ainda existem muitos desafios a serem vencidos.

Carros elétricos

Silenciosos e modernos, os carros elétricos são uma alternativa sustentável para reduzir a poluição veicular. No entanto, a popularização desse meio de transporte só ocorrerá com a redução de custos e o desenvolvimento de baterias mais seguras e que armazenam mais energia que as convencionais de íons de lítio como, por exemplo, as de estado sólido. Esta é a opinião do membro do IEEE e professor de Engenharia Eletrônica Edson Watanabe, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ). Ele afirma que hoje a capacidade de armazenamento de energia que permite a autonomia de cerca de 400 quilômetros. “Cada recarga leva até oito horas com consumo equivalente ao de um chuveiro elétrico de alta potência”, afirma.

Utilizada em celulares, notebooks e carros elétricos, a bateria de íons de lítio usa um líquido ou gel como eletrólito, o meio que transporta os elétrons entre o ânodo e o cátodo. Embora tenha um preço alto, mas ainda acessível, apresenta risco de incêndio e vida útil limitada. Por isso em muitas instituições mundo afora, os especialistas estão estudando a bateria de estado sólido, na qual o eletrólito é substituído por um material sólido, envolto por camadas de lítio metálico. Atualmente há estudos que utilizam materiais poliméricos e cerâmicos como eletrólito.

Energia elétrica

Desde que foi instituída há oito anos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) a mini microgeração de energia vêm crescendo de forma exponencial no Brasil e devem se manter assim em 2021. “A produção local em pequena escala e de sistemas mais eficientes de uso final de energia, já estão, silenciosamente, tomando lugar de grandes infraestruturas”, afirma Cyro Boccuzzi, membro do IEEE e sócio da consultoria ECOEE e presidente do Fórum Latino-Americano de Smart Grid.

Boccuzzi aponta que este movimento não vem das concessionárias para os clientes, mas está surgindo de baixo para cima. Assim, no Brasil, um dos destaques da microgeração é da energia solar fotovoltaica. Desde 2012, a matriz vem crescendo de forma exponencial. “Antes a concessionária detinha a exclusividade da distribuição e dos serviços de energia. Agora é possível gerar e até mesmo armazenar energia em casa, a preços competitivos com as tarifas da distribuidora”, diz.

Na tarifa branca, que hoje é opcional e dura 19 horas no período denominado “fora de ponta”, o preço é menor que o convencional. Durante os horários de ponta (que dura três horas e varia de concessionária para concessionária) e intermediário (uma hora antes e depois da ponta) a tarifa é bem maior. Assim, já é possível gerar parte da própria energia, usar a energia armazenada em baterias nos períodos de ponta e intermediário e pagar uma tarifa menor nos preços fora de ponta. Do ponto de vista tecnológico, o setor passa por avanços cada vez mais rápidos que estão acelerando a competitividade de custos da energia gerada por sistemas fotovoltaicos e por baterias de última geração, com maior capacidade de armazenamento.

Além disso, as smart grids, ou redes inteligentes, são tendência do setor elétrico. Trata-se de sistemas de distribuição de transmissão de energia dotados de recursos digitais e de tecnologia da informação que, em tempo real, conseguem monitorar o consumo, identificar problemas e acionar dispositivos para evitar o desligamento. As smart grids permitem a maior integração das fontes de energia renovável à rede elétrica com o máximo de aproveitamento.

Energia renovável

O professor Maurício Salles, professor de Engenharia Elétrica da Poli-USP, aponta que a energia eólica é outra energia renovável em ascensão. Dados da Associação Brasileira de Energia Eólica revelam que é a segunda maior fonte da matriz energética no País, com capacidade instalada e 16 GW. São 637 parques eólicos e quase oito mil aerogeradores.

Além de ampliar o número de parques, a tendência mundial é a construção de fazendas eólicas no mar. Na Europa, em países que não têm mais espaço para a construção de parques nas regiões de maior potencial de geração em terra. Assim, as fazendas marítimas já são uma realidade, embora sejam instaladas em águas não profundas. “Já há estudos para a construção de fazendas eólicas flutuantes, que podem ficar em águas de até dois mil metros de profundidade e abastecer plataformas de petróleo”, explica.

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