Yuval Harari: Inteligência Artificial pode criar uma geração de inúteis

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6:11 pm - 05 de novembro de 2019

Não é de hoje que Yuval Harari, autor de dois dos livros mais influentes dos últimos anos “Sapiens” e “Homo Deus” se mostra preocupado com o avanço da tecnologia e seus efeitos colaterais. Boa parte de sua ansiedade existencial é tratada no mais recente livro “21 Lições para o Século 21”, publicado em 2018. Os primeiros capítulos da obra são dedicados ao que ele chama de desafio tecnológico e seus desdobramentos: da extinção do trabalho às grandes corporações assumirem a interpretação de nossos dados. Em outras palavras, segundo Harari, a tecnologia nos fará cada vez mais vulneráveis.

“A inteligência artificial poderá criar uma geração de pessoas inúteis”, disse Harari durante palestra no HSM Expo 2019, que acontece em São Paulo nesta semana. Longe de ser uma distopia, Harari aponta para um futuro próximo, onde a automação será a norma para países ricos produzirem – ainda – mais riqueza. “Não estou preocupado com a Suíça ou Dinamarca. Eles têm dinheiro para lidar com isso [reinvenção]”, disse Harari em uma conversa ao palco com o jornalista Márcio Gomes.

Se a disrupção tecnológica já é vivenciada por nações como Estados Unidos e China, que têm concentrado esforços, pesquisa e investimentos para a chamada quarta revolução industrial, países em desenvolvimento são aqueles mais vulneráveis à atual corrida pela inteligência artificial.

“A revolução da inteligência artificial vai criar imensa riqueza na Califórnia, na China, mas falhará em países em desenvolvimento. Antes, países em desenvolvimento poderiam fazer riqueza com o trabalho da mão de obra de pessoas”, pontua. Mas em um mundo automatizado, com máquinas que podem produzir a maior parte do trabalho pesado em cidades como Nova York, onde a indústria têxtil, Harari cita como exemplo, vai querer fabricar suas roupas? “Se os países em desenvolvimento não se reinventarem, eles falharão”, alerta o escritor.

É preciso reinventar-se sempre

Como será o futuro do trabalho? Harari não tem uma resposta certa para algo que não há como desenhar dada a evolução exponencial que a tecnologia tem mostrado nos últimos cinco anos. Pense nos serviços recorrentes ao seu redor que foram transformados pela tecnologia – de corridas de táxi por aplicativo às, cada vez mais raras, visitas ao banco, porque, afinal de contas, ele já reside em seu celular.

“O mercado em 50 anos, ninguém sabe como será, mas será completamente diferente de hoje”, diz Harari. “A inteligência artificial e robótica vão mudar profissões e muitos dos trabalhos que as pessoas fazem hoje vão desaparecer. Novos vão emergir, mas nós não sabemos se trabalhos suficientes vão ser criados”, ressaltou.

Tampouco há uma fórmula para pessoas seguirem e evitarem o caminho da irrelevância diante a tecnologia. Há, hoje, a noção de que letrados em tecnologia estariam fora do alcance da automação, mas o que acontecerá com esses empregos quando a própria inteligência artificial conseguir escrever códigos sofisticados?

O escritor reforça que o desafio precisa ser encarado pela capacidade de as pessoas e profissionais se reinventarem, com cada vez mais curtos intervalos de tempo. “Não temos muito tempo”, pontua. “A pergunta que temos de fazer é o que devemos ensinar às crianças hoje para que elas se mantenham relevantes daqui 40 anos”. O futuro do trabalho, diz Harari, demandará uma combinação de muitas habilidades.

Não confie sua videm um algoritmo

Outra preocupação latente do filósofo diz respeito à onipresença que grandes corporações estão assumindo em nossas vidas, devido o acesso que têm aos dados de consumidores.

“Essa mudança já está a caminho. Bilhões de pessoas hoje confiam nos algoritmos do Facebook para contar o que é notícia, no Google para dizer o que é verdade, na Amazon para o que assistir e na Baidu para o que comprar”, lembra. “No futuro, algoritmos mais sofisticados vão dizer quem pode ou não trabalhar e com quem devemos nos casar”.

O escritor questiona o significado da vida humana quando todas as decisões mais importantes forem tomadas por algoritmos.

“O avanço da tecnologia significa que governos e empresas estão cada vez mais próximos de hackear milhões de seres humanos. Nesse processo, é fundamental seguir um conselho antigo: conhecer a si mesmo”.

 

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