Trabalho remoto aumenta produtividade, mas mina sensação de bem-estar, diz pesquisa

Estudo revelou que, ao mesmo tempo que os trabalhadores remotos se sentem mais produtivos, saúde mental pode ficar comprometida

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11:33 am - 11 de maio de 2021

Passado um ano do início das medidas de contenção da Covid-19, nota-se um aumento na percepção de que a produtividade no trabalho remoto é maior do que no trabalho presencial, diz pesquisa da Fundação Dom Cabral. O mesmo estudo identificou que, à medida que a produtividade no home office aumentava, mais caía a sensação de bem-estar dos trabalhadores. Ainda assim, o trabalho em home office continua sendo visto como uma vantagem pelos participantes da pesquisa.

No estudo apresentado pela Fundação Dom Cabral, realizado em parceria com a Grant Thornton Brasil e a Em Lyon Business School, mais de 58% dos respondentes afirmaram ser mais produtivos ou significativamente mais produtivos em home office. Em 2020, esse índice ficou em torno de 44%. Ainda neste ponto, considerando somente a opção “significativamente mais produtivo”, as mulheres tiveram uma proporção de respostas de 29,1%, contra 18,1% entre os homens.

Entre profissionais em postos de gerência e/ou liderança, apenas 13% das respostas apontam para patamares menores ou significativamente menores de produtividade no trabalho remoto. Entre profissionais de nível hierárquico mais elevado, essa proporção atingiu 22,4%.

No entanto, embora os níveis de produtividade sejam satisfatórios, os profissionais que trabalham remotamente também enfrentam desafios. A pesquisa revelou que o senso positivo de produtividade nem sempre está alinhado à percepção de equilíbrio e bem-estar do colaborador.

“Na primeira edição da pesquisa, no início da pandemia em 2020, foi possível concluir que os entrevistados percebiam a experiência do trabalho remoto como positiva, mas já existia uma preocupação com relação à administração das tarefas de trabalho e das de ordem pessoal, tanto do ponto de vista organizacional quanto de relacionamento com as pessoas”, lembra Fabian Salum, Professor da Fundação Dom Cabral.

Dentre os desafios enfrentados pelos entrevistados na jornada de trabalho remoto, os três que mais se destacaram – entre as opções ofertadas pela pesquisa – foram “maior volume de horas trabalhadas”, apontado por 24%; “dificuldade de relacionamento” e “dificuldade de comunicação”, ambos com 16%. Para 14% dos respondentes, o “equilíbrio com demandas pessoais” é também uma das questões presentes.

“Depois de um ano, constatamos a concretização de alguns receios e como a percepção sobre o aumento da produtividade no trabalho remoto mostra seu custo, quando o assunto é equilíbrio e bem-estar. Os comentários dos respondentes apontam para um esgotamento mental que envolve tanto a situação crítica própria da pandemia quanto os desafios mencionados anteriormente. Por isso, não podemos nos deixar seduzir pela alta produtividade. Faz-se necessários ajustes nos três níveis: organização, equipes e indivíduos”, adiciona Salum.

A pesquisa buscou saber ainda quais os receios quanto à continuidade do trabalho remoto. Para 20,6% o maior deles é a perda de convívio social, seguida de maior carga de trabalho no modelo remoto (15,5%) e piora de comportamento por ausência de convívio (13,5%). Ou seja, teme-se pela continuação de uma carga de trabalho elevada que cause ou reflita a dificuldade de equilibrar vida pessoal e profissional. Além disso, a continuidade da situação que impõe o trabalho remoto faz com que a perda do convívio, e seus consequentes prejuízos, perdure.

“A experiência acumulada ao longo de um ano de trabalho remoto por conta da pandemia, com todo o processo de mudança ao qual a cultura organizacional foi submetida, precisa ser canalizada para a preservação do bem-estar na gestão do capital humano, a fim de manter o engajamento das pessoas com relação aos resultados da organização”, avalia Ronaldo Loyola, Sócio da área de Capital Humano, da Grant Thornton Brasil.

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