Setor cultural sofre com despreparo e recursos para migrar para o digital

Pesquisa TIC Cultura 2020 aponta desafios técnicos e financeiros dos equipamentos culturais para a oferta de bens e serviços pela internet na pandemia

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9:34 am - 18 de junho de 2021
cultura

O setor cultural foi o mais impactado pelas medidas de restrição da pandemia do Covid-19 e será um dos últimos a retomar suas funções. Migrar atividades para o meio digital tem sido a saída encontrada pelas instituições culturais para sobreviver em meio à crise sanitária e econômica, no entanto, grande parte delas não estava preparada para essas mudanças, segundo a pesquisa TIC Cultura, divulgada nesta quinta-feira (17).

Em sua terceira edição, o mapeamento é promovido pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). Entre fevereiro e agosto de 2020, foram entrevistados 2.193 agentes culturais dessas instituições responsáveis por arquivos, bens tombados, bibliotecas, cinemas, museus, pontos de cultura e teatros.

“A adaptação emergencial dos equipamentos culturais para a oferta de bens e serviços pela Internet foi uma dificuldade encontrada por muitas instituições culturais no país em um período marcado pelo distanciamento social”, analisou Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br.

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A constatação do estudo apenas reforçou os desafios do setor diante da digitalização: os equipamentos costumavam usar a internet mais para atrair o público presencial do que para ofertar bens e serviços remotos.

Os recursos disponíveis nos websites dos equipamentos culturais se voltavam basicamente à publicação de informações institucionais (como endereço, contato e horário de funcionamento), programação e notícias sobre os espaços culturais. Já atividades na internet, que incluem visitas virtuais e transmissão de vídeos ao vivo, eram menos ofertadas por todos os tipos de equipamentos culturais. No entanto, houve um aumento desses últimos, sobretudo, entre arquivos (23%), teatros (18%) e museus (9%).

Quando o assunto é redes sociais, os dados indicam que anúncios sobre programação e postagens de fotos das atividades realizadas foram bastante difundidos entre todos os tipos de instituições culturais investigadas, sendo um pouco menos comum o compartilhamento de registros em vídeos ou áudios.

Sobre a oferta de serviços remotos, a realização de oficinas ou atividades de formação a distância ainda é tímida, ofertada somente por um quinto dos arquivos (23%) e dos pontos de cultura (21%) no ano passado, com proporções ainda menores entre os demais equipamentos culturais. Já a venda de produtos ou serviços pela internet teve destaque apenas entre cinemas (58%) mas, mesmo entre estes, a venda ou reserva de ingressos on-line não chegou a um terço das instituições (31%).

A pesquisa foi planejada no início de 2020, e a coleta dos dados começou em fevereiro, portanto, antes da crise sanitária ser deflagrada no país. “Embora não tivesse como meta capturar os efeitos da pandemia, o estudo apresenta resultados muito relevantes nesse contexto, ao diagnosticar o preparo que essas instituições tinham para se adaptar a esse novo cenário”, acrescentou Barbosa.

Formação

A pesquisa TIC Cultura também mostrou dados inéditos relacionados à formação dos gestores culturais. A maioria dos responsáveis pelas instituições ouvidas possuía pós-graduação ou Ensino Superior completo. Apesar do alto grau de escolaridade, grande parte não tinha formação específica em gestão cultural e relacionada ao uso de tecnologias na área.

A capacitação das equipes para desenvolver habilidades no uso de computador e internet também é baixa. A oferta de treinamento interno está presente em um terço dos arquivos (35%) e cinemas (37%), e o pagamento de cursos externos em cerca de um quinto deles (22% e 19%, respectivamente), sendo ainda menos comum entre os demais tipos de equipamentos culturais.

Dentre as principais dificuldades mencionadas pelos gestores das instituições para o uso das TIC estavam a falta de recursos financeiros para investimento em tecnologia e a pouca capacitação da equipe no uso de computador e internet. De acordo com o levantamento, essas são as grandes barreiras para a oferta de bens e serviços e o desenvolvimento de atividades no ambiente digital, altamente demandados na pandemia.

Infraestrutura

As fragilidades relacionadas ao acesso às tecnologias de comunicação e informação nas instituições culturais escancaram a necessidade de investimentos em infraestrutura tecnológica e conectividade. A proporção dos que não utilizaram computador e internet nos 12 meses anteriores à pesquisa era maior entre bens tombados, bibliotecas e museus. Em 2020, cerca de um quarto das bibliotecas (25%) e museus (23%) e dois quintos dos bens tombados (40%) não faziam uso da rede.

A falta de infraestrutura de acesso na região foi mencionada por 15% dos responsáveis pelas bibliotecas e 11% dos responsáveis pelos bens tombados e pelos museus como motivos para explicar o problema. Ainda, o custo da conexão foi citado por 14% dos gestores de bens tombados, 10% de museus e 9% de bibliotecas.

A disponibilidade de computadores e internet para uso do público era maior entre arquivos, bibliotecas e pontos de cultura: quase metade desses possuía infraestrutura que possibilitava o acesso às tecnologias digitais por parte da população. Mesmo com restrição de acesso ao público durante a pandemia, essa dimensão revela o papel dos equipamentos culturais na inclusão digital de parcela da população.

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