Ser mulher e líder no mercado financeiro

Executiva da área de TI reflete sobre a igualdade de gênero na indústria brasileira

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4:50 pm - 20 de março de 2019

No mês da mulher, falar sobre a igualdade de gênero nas empresas e a liderança feminina em ambientes predominantemente masculinos é de extrema importância. Há 16 anos, estou inserida no mundo do mercado financeiro e hoje, como empreendedora e CEO de uma fintech, tenho bagagem necessária para entender a força da liderança feminina e sua relação com a grande mudança que a consciência humana e as organizações estão vivendo.

De acordo com a pesquisa Panorama Mulher 2018, feita pela Talenses em parceria com o Insper, mulheres ocupam cargo de presidente em apenas 18% das empresas do Brasil. A média mundial é ligeiramente mais baixa do que a brasileira, com 15% de mulheres na presidência de empresas. Os números se baseiam na análise de 920 companhias com sede no Brasil, na América do Norte ou na Europa.

Já de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quanto maior a escolaridade, maior a desigualdade. Mulheres com ensino superior completo ou mais recebem apenas 63% do que homens na mesma situação. Ainda segundo esse levantamento, apesar de representar 52,4% da população em idade de trabalhar, o grupo feminino responde por apenas 45,6% do nível de ocupação, enquanto os homens, 64,3%.

Em toda a minha trajetória, ser mulher e trabalhar com finanças foi algo muito natural. Meus desafios diários não estavam necessariamente ligados à questão do gênero, mas, desde sempre, esteve muito visível o quão tímido é o espaço das mulheres no mercado financeiro. Entretanto, de alguns anos para cá, tenho percebido que, quando o mundo das finanças se mistura com tecnologia e empreendedorismo, o cenário já está um pouco diferente.

O universo das fintechs, da tecnologia e do empreendedorismo, por ser menos formal e “quadrado”, abre oportunidades para conquistarmos cada vez mais espaço. Esses ambientes tendem a ser mais humanos, sensíveis, horizontais, e, geralmente, buscam por lideranças que representem isso tudo, genuinamente. E essas características são comumente encontradas em líderes femininas.

Muitas dessas novas organizações lideradas por mulheres são marcadas por sistemas mais conscientes das necessidades da nova era. Essas companhias têm apostado em práticas que empoderam e encorajam seus funcionários, que pensam no coletivo e valorizam a transparência, a experimentação, a horizontalidade, com foco no ser humano.

A boa notícia para as mulheres é que o setor de fintechs está se expandindo de forma acelerada. De acordo com levantamento da FintechLabs de dezembro de 2018, houve um crescimento de 748% dessas empresas no mercado brasileiro, comparando o cenário em 2015 com o atual. A maior parte desse crescimento ainda está concentrada em São Paulo, mas outros mercados também têm ganhado espaço.

Meu lado intuitivo, sensível e humano esteve muitas vezes adormecido, quando fiquei totalmente imersa em ambientes de trabalho majoritariamente masculinos. Em diversas ocasiões, adotei a praticidade e agressividade em movimentos e ações que mereciam mais cuidado e sensibilidade.

Entendo que a melhor alternativa é unir os dois universos – o masculino e o feminino. Os dois lados têm muito a agregar e, quando juntos, se complementam. O ambiente de trabalho plural e capaz de unificar as necessidades do ser humano e da companhia é o caminho para o sucesso. E enquanto o espaço para as mulheres ainda está engatinhando, o que nos cabe fazer é apoiarmos, inspirarmos e incentivarmos umas às outras. Nesta nova “era”, conseguir olhar o todo e pensar além da própria existência vai ajudar no sucesso de qualquer organização.

*Maria Teresa Fornea é CEO e fundadora da Bcredi

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