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Propósito compartilhado, sucesso coletivo

Na última década, um dos assuntos mais pesquisados e discutidos no mundo dos negócios girou ao redor da definição e do uso do propósito como ferramenta de motivação e inspiração corporativa. Para grande parte dos profissionais, não basta mais apenas ter um emprego. O importante é trabalhar por algo maior, que tenha significado e que cause impacto positivo na sociedade, possibilitando a criação de um futuro melhor para todos.

O propósito, no entanto, precisa ir muito além de algo meramente individual. A organização em si, independentemente de seu tamanho ou área de atuação, deve abraçar um propósito próprio, uma razão pela qual seus colaboradores vão buscar criar algo de grande relevância, de longo alcance e impacto, que vá muito além das fronteiras da própria empresa. Não se trata de apenas reproduzir a missão, a visão ou os valores da companhia. Um propósito verdadeiro, claro e convincente cria condições tangíveis que aumentam exponencialmente o nível de engajamento da força de trabalho, estimulando a criatividade, a inovação e o esforço extra de toda a organização. Na prática, a missão descreve o negócio, a visão indica onde a empresa almeja estar, os valores descrevem a cultura, e o propósito motiva, inspira e dá orientação. Ou seja, transmite o que a organização representa em termos emocionais e práticos, sendo sua força motriz.

Como um motor a combustão, o propósito precisa de uma faísca para ser acionado. E essa faísca é uma mistura homogênea de paixão e desejo que deve emanar de cada colaborador. Quando a paixão aciona o propósito, o resultado alcançado é extremamente positivo em direção ao atingimento e superação dos objetivos estabelecidos.

Quando esse conceito está claro para toda organização, todos os departamentos, num efeito em cadeia, vão se engajar com a mesma causa, o que permite um alinhamento estratégico entre os pontos da tríade: paixão pessoal, propósito corporativo e performance organizacional. Neste contexto, o trabalho se torna muito mais do que uma atividade de remuneração. Ele vai muito além do desejo de galgar posições mais elevadas na pirâmide organizacional e se torna um chamado – uma convocação para execução de uma missão coletiva.

O modelo Open Source é um exemplo claro de como paixão e propósito criam as condições ideais que ativam a inovação na indústria de tecnologia de maneira sem precedentes. Os contribuidores, por meio das comunidades, investem tempo e compartilham experiências e conhecimentos visando criar melhores softwares livres e em código aberto sem as amarras e exclusividade do modelo de desenvolvimento de software proprietário.

Pesquisa realizada pela Harvard Business Review e pelo EY Beacon Institute mostrou que empresas orientadas por propósitos crescem mais rapidamente. Das organizações pesquisadas, 58% das que possuem propósito claramente definido cresceram 10% ou mais nos últimos três anos, em comparação com apenas 42% das companhias cujo propósito não é comunicado ou muito bem compreendido.

Movimentando a engrenagem

Apesar de reconhecerem a importância de um propósito compartilhado, muitos gestores ainda têm dificuldade de implementá-lo no dia a dia, como mostrou o estudo. Menos de 40% dos executivos ouvidos no levantamento disseram que suas organizações articulavam um forte senso de propósito. Outra pesquisa realizada pela PwC apontou que, ainda que 79% dos líderes acreditem que o propósito é fundamental para o sucesso do negócio, 68% deles dizem que o propósito não é usado como ferramenta de gestão.

Melhorar esses índices e efetivar a criação e o sustento de um propósito compartilhado pode ser mais simples do que parece. Como parte essencial do que conhecemos como Open Management Practices, ou práticas de gerenciamento aberto, em tradução literal, o propósito precisa ser construído de maneira colaborativa sendo fomentado a cada pequena ação dentro da organização. As pessoas são motivadas a fazer o seu melhor quando estão conectadas a algo maior do que elas mesmas. Os Open Leaders, definição em inglês de gestores que utilizam as práticas de gerenciamento aberto, estimulam incessantemente essa consciência conectando seus colaboradores com o propósito da empresa.

O gerenciamento aberto mostra que o melhor caminho para o fomento do propósito está no compartilhamento dos objetivos com a equipe, na transparência de como as atividades diárias de cada colaborador se alinham com o propósito maior daquela organização, além do constante reforço da missão, visão e estratégia da empresa. Cabe ao líder garantir que cada colaborador, cada associado, compreenda como seu trabalho contribui com a sua equipe, com o seu departamento e com toda organização em si.

Um bom gestor, engajado com o propósito da empresa, explica o contexto das mensagens corporativas e estratégicas e esclarece o impacto delas. Além disso, lida abertamente com prioridades conflitantes, falta de alinhamento e outros problemas complexos, sabendo trabalhá-las e equilibrá-las da melhor forma possível para o sucesso individual de cada membro da equipe, do time como um todo e, claro, da própria organização.

Inclusão interna, posicionamento externo

Na busca pelo propósito compartilhado não há espaço para negligenciar ou subestimar a necessidade das pessoas em entender o “porquê” das situações ou de querer contribuir com suas ideias em vários assuntos. Elas precisam, verdadeiramente, sentir que fazem parte de algo maior e que são valorizadas por isso. A gestão aberta, que incentiva a participação e divide o processo de tomada de decisão, cumpre bem essa função que precisa ser trabalhada diariamente.

Outro pronto importante é que inspirar por meio de um propósito compartilhado não dá espaço para suposições. Um líder não pode achar que o contexto e os motivos para determinada decisão estão implícitos ou já foram compreendidos por todos. Frases como “porque eu disse”, “você não precisa saber”, “não me pergunte o porquê, apenas confie em mim”, “você não entenderia” e “isso está acima do seu cargo” não podem fazer parte do vocabulário. É preciso ter a certeza de que todos estão alinhados, cientes de sua importância e engajados com o mesmo propósito.

Às vezes, trabalhar desta forma parece mais fácil e fluido com jovens. Cheios de energia e abertos para conhecer o mundo, eles batem muito na tecla de um propósito como fator-chave para entrarem em determinada organização e, mais ainda, para permanecerem nela. Mas não são só eles que precisam disso. Gerações anteriores, profissionais mais seniores, também precisam de um estímulo constante, de um lembrete de que são úteis e fundamentais na busca de razões e objetivos que tornem a empresa diferenciada no mercado.

Assim como é essencial para mover a engrenagem interna, o propósito também é uma referência importantíssima para o posicionamento da empresa no mercado. Projetar a imagem da organização à luz do seu propósito, a fim de ocupar uma posição de liderança e destaque no mercado no qual atua é uma das atividades estratégicas mais relevantes de qualquer negócio. Por isso, compartilhar esse propósito também com o público externo é essencial.

O propósito é o “porquê” realizamos algo de forma consciente. Ele norteia as ações da organização orientando as tomadas de decisão. É o lembrete diário e o impulso que nos faz seguir adiante. Mais do que isso, é a inspiração necessária para despertar novas ideias, novos conceitos e novos caminhos. É a prova de que juntos somos mais fortes e que somente um trabalho colaborativo, alinhado e coeso é capaz de trazer resultados positivos e duradouros. Um propósito compartilhado é, e sempre será, a chave para o sucesso coletivo de qualquer organização.

*Alexandre Duarte é Senior Director, Consulting and Training Services Latin America na Red Hat

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