Proporção de mulheres à frente de startups está estagnada no Brasil

Relatório Female Founder revela que mulheres fundaram apenas 9,8% das empresas no ecossistema atual de inovação

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12:27 pm - 08 de março de 2021
Reprodução/Adobe Stock

Apesar da aceleração pela qual passou nos últimos anos, o ecossistema de startups e venture capital no Brasil não tem crescido de forma diversa e inclusiva, revela o Female Founders Report, levantamento realizado pela empresa de inovação Distrito, em parceria com a rede global de empreendedorismo Endeavor e a B2Mamy.

Divulgado nesta segunda-feira (08), o estudo aponta que apenas 4,7% do ecossistema de startups foram fundadas exclusivamente por mulheres e 5,1% por mulheres e homens. A evolução é mínima quando comparada ao ecossistema brasileiro de dez anos atrás, quando startups fundadas apenas por mulheres representavam 4,4% do mercado e outras 3,5% tinham fundadores de ambos os gêneros.

Quando levados em consideração os quadros societários, a presença feminina é um pouco maior: 29,5% das startups brasileiras possuem mulheres entre os sócios.

“Os números aos quais chegamos comprovam uma disparidade de gênero imensa e que já era percebida pelo ecossistema de empreendedorismo. Proporcionalmente, o número de startups fundadas por homens é quase 20 vezes superior ao daquelas criadas por mulheres”, aponta Lilian Natal, líder da Distrito for Startups.

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“Este levantamento traz uma fotografia atual da presença das mulheres neste universo e, com elas, compreendemos quais as reais dificuldades que enfrentam no dia a dia. Reconhecer o problema e entender a sua real grandeza é um primeiro passo para projetarmos uma economia mais igualitária, sustentável, equilibrada e justa”, completa.

Quase 65% das empresas com mulheres à frente surgiram só nos últimos cinco anos, e mais de 50% delas ainda estão em fase de validação de produto ou início de operações. Isso explica, por exemplo, por que 60% das empreendedoras ouvidas apontam que escalar o negócio é o principal desafio enfrentado em suas jornadas.

O estudo traça o perfil das empreendedoras, mostrando como também há pouca diversidade entre as mulheres que lideram: 76,5% delas são brancas, e 87,5% se declaram heterossexuais. Quase metade afirma não ter filhos.

Segundo a Distrito Dataminer, braço de inteligência de mercado da Distrito, o ecossistema de startups brasileiro possui cerca de 13 mil startups. Para o estudo, foram consideradas uma amostra de, aproximadamente, 6.200 startups. Para além da pesquisa quantitativa, uma pesquisa qualitativa foi aplicada a mais de 400 mulheres empreendedoras. A pesquisa tem 96% de nível de confiança, com 4% de margem de erro.

Investimentos desiguais

Os dados também apontam que o empreendedorismo feminino é uma realidade recente no Brasil, onde quase 65% destas empresas surgiram só nos últimos cinco anos. Mais de 50% delas estão em fase de validação de produto ou início de operações.

Ouvidas pelo estudo, mulheres empreendedoras apontam que a validação do modelo de negócio (56,4%), a falta de boas conexões (44,6%) com investidores, mentores e dificuldades para se captar investimentos (38,8%) são os principais desafios.

No fronte dos investimentos, a pouca diversidade se reflete também na composição dos fundos: hoje, 74% dos fundos não têm mulheres entre seus fundadores ou conselhos; enquanto apenas 3% têm apenas mulheres entre as fundadoras. Dos mais de US$ 3,5 bilhões aportados no mercado em 2020, apenas 0,04% foram para startups lideradas por mulheres.

No grupo entrevistado, 72,4% das mulheres que passaram por dinâmicas de captação afirmaram ter sofrido assédio moral em função do gênero durante suas entrevistas. Muitas foram questionadas se eram ou se pretendiam ser mães, qual era a idade de seus filhos na ocasião, se possuíam homens no quadro societário e, ainda, se seriam capazes de tocar o negócio por conta própria.

“Sem pontes, capital e habilidades necessárias para navegar nesse universo, as mulheres não se sentem representadas nestes ambientes e suas jornadas são mais árduas”, avalia Dani Junco, CEO da B2Mamy. “Há 5 anos, temos desenvolvido o ecossistema, acelerando estas fundadoras no início de suas startups, período reconhecidamente mais desafiador para elas. Adaptamos a narrativa, envolvemos elas com a comunidade e oferecemos conteúdos que possam ajudá-las nesta empreitada para que não precisem mais optar entre carreira ou vida pessoal.”

Moda é o setor com maior presença feminina

Quando se leva em consideração os setores, o levantamento mostra que elas têm uma presença consideravelmente maior nas fashiontechs, startups voltadas para a moda. Mais de 60% das empresas inovadoras neste ramo foram fundadas por mulheres.

Na sequência vêm as áreas de RH & Gestão de Pessoas (26,7%), Negócios Sociais (24,1%) e Alimentação (22,7%). Juntos, no entanto, esses setores representam apenas 3,5% do ecossistema de startups no Brasil. Entre os setores mais díspares, temos as startups que atuam nas áreas Jurídica (6,7%), Gestão & TI (5,1%) e Indústria 4.0 (4,8%).

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