Projeto de governo do RS busca melhorar políticas públicas de forma preditiva

Solução da Procergs usa ciência de dados e IA para fazer avaliações e correlações entre dados de diferentes secretarias e combater criminalidade

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7:30 pm - 24 de novembro de 2021
José Antônio Costa Leal, da Procergs José Antônio Costa Leal, da Procergs Foto: Divulgação

O matemático José Antônio Costa Leal começou a carreira no setor público, no qual só voltaria a atuar 35 anos depois com uma vasta experiência em TI. Nesse período, 30 anos foram dedicados à Gerdau, em diferentes cargos e localidades, e os outros cinco a empresas de renome nacional.

Em meados de 2019, então, Leal receberia o convite para retornar a um posto no setor público, mais especificamente no Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Rio Grande do Sul S.A (Procergs), com a missão desafiadora do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, de fazer a transformação digital do governo. Motivo pelo qual aceitou o convite.

Essa missão, segundo Leal, era de melhorar os serviços do cidadão através do digital, o que estava no centro da estratégia de governo. Além de desburocratizar os serviços do governo, em que o digital ajuda e acelera o processo.

Tudo isso só está sendo possível, segundo Leal, pois é tratado como uma plataforma de governo. “Não é uma necessidade, um case da Segurança, da Fazenda ou da Agricultura. Isso é tratado de forma transversal pelo governo. Eu participo das decisões do governo junto com os secretários, o que significa uma mudança fundamental”, comenta.

Hoje, o governo do RS tem 63% dos serviços e processos digitalizados em uma plataforma que centraliza todos os serviços disponíveis ao cidadão. “Não é simplesmente colocar em meio digital a burocracia do governo”, destaca Leal. O objetivo é simplificar a jornada digital do cidadão. “Isso foi fundamental na pandemia”, afirma.

Segurança pública

Dentro desta estratégia transversal e digital de governo também se encontra o Programa RS Seguro, que visa melhorar os índices de segurança do estado, principalmente, através de ações preventivas – e não corretivas – utilizando uma ampla base de dados. Foi então que nasceu a Solução de Gestão Estatística na Segurança Pública (GESeg), projeto vencedor do prêmio As 100+ Inovadoras no Uso de TI na categoria Setor Público.

GESeg é uma solução de Ciência de Dados que qualifica e agiliza a obtenção de indicadores criminais, além de identificar a ocorrência de fraudes. O projeto tem foco em evidências, territórios e necessidade de articulação de esforços estratégicos e táticos, para ampliação da eficácia e efetividade da segurança pública.

“No que diz respeito à tecnologia, a Procergs tem as informações de todas as Secretarias e de todos os cidadãos, e através disso, através do digital, criamos uma estrutura focada em Ciência de Dados e Inteligência Artificial cujo objetivo é que consigamos melhorar as políticas públicas de forma preditiva”, explica Leal. “Eu não quero prender o marginal, eu quero evitar que ele seja marginal”.

Então, em 2019, iniciou-se as avaliações e correlações entre dados de Segurança, Educação e Saúde.

“É um dos primeiros produtos da empresa encapsulado dentro do conceito de Ciência de Dados para melhoria de políticas públicas, com uma equipe multidisciplinar que envolve uma série de órgãos”, comenta. O que foi um desafio à Leal e sua equipe.

A dificuldade superada do GESeg foi a integração de 20 bases de dados dos órgãos do RS (pertencentes à Secretaria da Segurança Pública do RS, Fazenda, Trânsito, Saúde, Educação, dentre uma variedade de outras instituições governamentais) e a conexão dinâmica de novas bases. Além disso, o tratamento desses dados exigiu equipe multidisciplinar, com conhecimento amplo do negócio, para transformação dos dados em conhecimento.

Reuniões técnicas e pesquisas também foram realizadas como parte do projeto. Aproximadamente, 20 pessoas de diferentes órgãos participaram de maneira ativa do desenvolvimento do projeto. A ideação do GESeg foi viabilizada através de oficinas, Design Thinking e uso de metodologia ágil para expansão da criatividade e flexibilidade à inovação, de acordo com o executivo. Também foram realizados 23 ciclos técnicos com mais de 300 participantes cada.

Estudos sobre a violência no Brasil e RS serviram de fundamentação para, então, se avaliarem os custos econômicos da criminalidade e o cenário fiscal do estado. Nesse contexto, definiram-se os critérios, parâmetros de priorização, ações e os 23 municípios-alvos, detentores dos piores indicadores criminais.

Segundo Leal, atravessar esses desafios só foi possível com as parcerias realizadas com a London School of Economics e a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Potência de dados

O GESeg como ferramenta de governança potencializou a análise de dados, a velocidade da oferta de informação das forças de segurança, o alinhamento e a comunicação. Além de ter fortalecido a inteligência coletiva, tanto no nível estratégico quanto tático, que contribuiu para o sucesso significativo de ações de enfrentamento à criminalidade e em uma melhoria efetiva da qualidade de vida do cidadão, de acordo com o executivo.

Hoje, o governo já usa o GESeg para tomada de decisão nos mais diversos níveis, georreferenciamento e IA, que Leal pretende ampliar daqui para frente para agilizar o processamento das informações de forma mais rápida, uma vez que se trata de um grande volume de dados que deverá ainda ser ampliado com informações não estruturadas trazidas de fora.

Através do projeto, os tomadores de decisão já têm acesso a um painel de instrumentos em sistema Web, com relatórios dinâmicos do estado e por municípios do GESeg; visão gerencial, gráfica, georreferenciada e detalhada, para monitoramento da evolução dos indicadores; além de recortes temporais que mostram o comportamento por período selecionado.

Em decorrência de toda essa estratégia, foi identificado 33,8% de queda nos crimes violentos letais e intencionais, 1.343 vidas preservadas nos 23 municípios GESeg. Além da redução de 51% dos homicídios em Porto Alegre; 52,3% de retração no roubo de veículos no estado; e 59,3% na capital, com isso, estimativa de declínio de 12% em seguros automotivos.

Leal também comemora a transformação significativa sendo realizada dentro do governo e da empresa a partir do projeto. “Essa possibilidade de estarmos na mesa de decisão, de ter uma governança transversal na mesa do governo, é uma mudança que estamos fazendo. Isso não aconteceu em gestão anteriores”, comenta. “Em função de toda essa estratégia, nós também precisamos mudar a estrutura dentro da empresa. Hoje tenho uma diretoria só para digital. Isso pode parecer um detalhe, mas é de suma importância – cria foco”.

“Mais que a tecnologia em si, a gente tem que valorizar a estratégia, a governança e o foco”, finaliza Leal.

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