Por que mulheres são minoria na TI?

O mercado vive, sem dúvida, momento ímpar na tecnologia. Novidades surgem a todo momento, desafiando profissionais de todo o tipo. Mas será que as mulheres estão surfando essa onda? Foi com essa pergunta que Maria Alice Mendes, senior associate da Korn Ferry, empresa de executive search, iniciou o debate do painel Mulheres no Comando da TI, durante o IT Forum.

Maria Alice comentou que estudo recente identificou que no Brasil, dos 580 mil profissionais, apenas 20% são mulheres. Outro dado está relacionado aos cursos voltados para tecnologia. “Levantamento da Microsoft apontou que década de 80, havia 50% mulheres nos cursos e agora caiu para 10%. A pesquisa traz a hipótese de que, naquela época, com o computador pessoal, que foi levado a ser mais objeto de interesse masculino, as mulheres desapareceram dos cursos”, apontou.

Elisabete Waller, sócia de Advisory da EY, que acompanhou a discussão da plateia concordou e afirmou que quando ingressou na universidade de engenharia sua sala era composta por três mulheres e, ao final, apenas duas se formaram.

Também da plateia, para agregar à discussão, Ruy Shiozawa, presidente do Great Place to Work (GPTW) Brasil, levantou dados interessantes. De acordo com ele, do total de graduados no Brasil, 60% são mulheres, em pós-graduação o número cai para 51%, já em gestão são 33%. “Quando se fala de salário, o cenário é ainda pior. Para posições iguais, com mulheres com mais tempo de casa, mais formação, elas ganham 35% a menos em média”, apontou.

Afinal, o que acontece?
Na opinião das painelistas, o problema começa lá atrás. Lyzbeth Cronembold, diretora de TI e Operações de TI MDOOH do Grupo Bandeirantes de Comunicação , apontou que não há incentivo na infância para as mulheres seguirem carreira em tecnologia. “Isso está muito ligado aos valores familiares”, comentou.

Jane Noronha, CIO da Gafisa, concordou e acrescentou que a maioria dos pais não incentiva mulheres a competir. Já Viviane Lusvarghi, CIO da Santher, comentou que, em sua visão, a falta de incentivo está relacionada ao modelo que a mãe representa para a filha.

Como incluir mulheres na TI?
Para Viviane, é preciso equidade de gêneros. Tanto que no recrutamento para a TI da Santher, na primeira fase de seleção dos currículos, o nome e o gênero do candidato são ocultados. “Isso tem sido uma surpresa”, relatou.

Jane segue a mesma linha. “As mulheres geralmente são mais capacitadas do que os homens”, acrescentou. O ideal, disse Lyzbeth, é fomentar na empresa uma política de diversidade, incluindo práticas de recrutamento e seleção nesse sentido. “Um exemplo interessante é a Nestlé.”

Ascensão profissional
Outro tema discutido no painel foi a ascensão profissional de mulheres. Elas comentaram que investem em coaching e mentoring de outras mulheres, mas que também é preciso se posicionar e arriscar, até mesmo aplicando para vagas que elas acreditam que não têm todas as competências. Da plateia, Monica Panelli, diretora de marketing da Rimini Street para América Latina, afirmou que, de fato, as mulheres precisa se colocar mais. Lyzbeth acredita que a resposta está no fato de, efetivamente, mostrar resultados.

Exemplos a serem seguidos
Eduardo Kondo, CIO da Aché, entrou na discussão para apontar que as mulheres precisam discutir mais onde chegaram. “Vejo pouco isso”. Ele recentemente estive na Universidade de São Paulo na Escola de Engenharia, e todos os convidados para falar sobre suas carreiras eram homens. “Há exemplos como a Cristina Palmaka, da SAP, e a Paula Bellizia, da Microsoft, que fomentam o tema, mas precisamos de mais.”

Viviane concordou e acrescentou que até mesmo no prêmio Executivo de TI do Ano, promovido pela IT Mídia, o número de mulheres era bastante tímido, mas cresceu neste ano e duas delas, incluindo a própria executiva, levaram o prêmio para casa. “Temos um grupo de mulheres no WhatsApp e eu as provoquei a participar. Para mim, foi a primeira vez e sai vitoriosa”, comemorou.

Inclusão x exclusão
Falar de mulheres na TI é também uma forma de exclusão? Jane acredita que sim, é uma forma de segregação. Contudo, criar debates sobre o tema é uma forma de ajudar as demais mulheres. “Temos de virar referência para elas. Se elas não virem que é possível, não vão”, assinalou. Na visão de Alessandra Bomura, CIO da Vivo, a discussão também tem de incluir os homens. Alguns deles, inclusive, participaram do debate no IT Forum.

Márcia Sabino Duarte, CIO da Caesb, engrossou o coro e afirmou, ainda, que uma pessoa é competente ou não é e a discussão não deveria girar em torno de ser homem ou mulher.

Mais resultados
Janet Donio, CIO da Vicunha, citou estudo recente que mapeou o desempenho de empresas com mulheres no conselho e o resultado delas foi superior. às demais do mercado “Os boards têm pouco número de mulheres e TI tinha de ter mais representatividade também”, provocou.

Atitude
Em linha com o tema do IT Forum: Mudança, Medo e Atitude, Maria Alice perguntou às painelistas o que é possível fazer para mudar. Elas foram unânimes ao dizer que é crítico fazer acontecer e cada uma tem papel fundamental. Lyzbeth participa do Movimento ElesPorElas (HeForShe) de Solidariedade da ONU Mulheres pela Igualdade de Gênero.

Ela também citou um programa da SAP para inclusão de mulheres na TI, que tem como foco pessoas de comunidades. “Precisamos criar referências”, sentenciou. Já Viviane enfatizou o fato de mulheres precisarem ter atitude e engajar os homens na conversa.

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