Plataformatec começa a colher frutos do Elixir

Empresa aposta na linguagem de programação criada por um de seus fundadores e cresce projetos de exportação

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11:53 am - 26 de junho de 2018
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Há sete anos, um desenvolvedor brasileiro decidiu embarcar em um ambicioso projeto de criação de uma nova linguagem de programação. Era José Valim com o Elixir.

Inspirada na tecnologia Erlang, criada em 1986 pela Ericsson e a base do WhatsApp, a proposta do Elixir é ser escalável, para atender os sistemas com alta performance e em tempo real. De modo simples, a linguagem permite que os sistemas recebam milhares de acesso ao mesmo tempo sem que haja instabilidade para os usuários.

À época, Valim havia criado dois anos antes uma empresa de desenvolvimento de software com outros três amigos desenvolvedores, a Plataformatec. A companhia era focada – e até hoje mantém a estratégia – em desenvolvimento, consultoria e treinamento, baseada principalmente na linguagem Ruby.

Mas o Ruby tinha algumas limitações e não atendia 100% das expectativas de Valim, que decidiu investir tempo – e dinheiro – no novo projeto.

Os outros amigos – e sócios – abraçaram o projeto e, desde 2012, Valim passou a se dedicar exclusivamente ao novo conceito. Um desses apoiadores é Hugo Baraúna, co-fundador e atualmente diretor de marketing e vendas da Plataformatec.

O executivo conta que, após cinco anos de investimentos em projeto e desenvolvimento do Elixir, apenas em 2016 veio o primeiro retorno financeiro da linguagem. A tendência seguiu em 2017, até que 2018 já tem sido considerado o turning point do Elixir. “Foi um investimento sem nenhum retorno por cinco anos. Uma aposta de longo prazo, mas que já está se pagando”, comentou Baraúna, em entrevista à Computerworld Brasil.

Por ser uma linguagem de código aberto, não há cobrança de licença para utilizá-la. Desde que foi lançada, Elixir já teve mais de 200 milhões de downloads e possui uma comunidade ativa em todo o mundo, com eventos anuais em países como Brasil, EUA e Japão.

Exportação

Mas o crescimento está longe do Brasil. Segundo o executivo, a grande maioria das vendas dos projetos com Elixir tem sido para os EUA, sobretudo no Vale do Silício, na costa oeste do país. “Começamos o ano com 10% da receita vindo da fora e agora, na metade do ano, já está em 40%, crescimento puxado pelo Elixir”, comentou Baraúna.

Atualmente, Ruby ainda representa a maior fatia (60%) dos negócios das companhias, mas o Elixir vem com força, segundo Baraúna.

O executivo diz que os EUA saem na frente por uma questão cultural de serem os chamados early adopters de qualquer tipo de tecnologia, como smartphone, PCs, ou nesse caso de linguagens de programação. Mas o Brasil está na linha de frente, muito por conta de ter um brasileiro à frente do projeto.

“Esse ano estamos para fechar um grande projeto em Elixir, no mundo das fintechs”, adiantou.

O Brasil já conta com alguns grandes projetos em Elixir em empresas como Globo.com e Stone Pagamentos – as duas, no entanto, não são clientes da Plataformatec. “O Brasil está no no top 4 de uso de Elixir”, acredita Baraúna.

Mindset open source

A aposta no Elixir vai ao encontro da crença da Plataforma no modelo de open source (código aberto), extremamente consolidado entre empresas de software e que tem ganhado força das gigantes da tecnologia – um exemplo é a Microsoft, que investiu US$ 7,5 bilhões na compra do GitHub.

Para Baraúna, a aposta é um modelo de mindset do mercado como um todo, focando no compartilhamento de tecnologias. O modelo referência da Plataforma é o da Red Hat, que foca no modelo open source criando um modelo de monetização em torno disso.

O modelo, no caso, é o de desenvolvimento, consultoria e treinamento para quem usa a linguagem. “Para nós, é muito interessante que o Elixir cresça muito, mesmo que consigamos pegar apenas 5% dessa pizza, mas muito grande. É a cultura de compartilhar conhecimento e códigos. “Se formos abertos, cada um colabora com um pedaço. É o melhor para todos. Se fizermos fechado, fica tudo em nossas mãos e, para uma empresa do nosso porte, não é viável”, completou.

Cases

Se ainda não tem um case de Elixr, o executivo destaca alguns dos principais projetos conquistados pela companhia. Um deles é o da corretora Easynvest, que contou com consultoria da Plataformatec.

Para colocar em prática a identidade ágil da Easynvest, a Plataformatec diagnosticou quais eram as lacunas, propôs soluções para enfrentá-las em um curto espaço de tempo e então iniciou as mudanças internas, proporcionando maior rapidez no processo de desenvolvimento, trazendo mais previsibilidade e agilidade nas entregas do time.

A equipe de desenvolvedores, por exemplo, que há dois anos era composta por três profissionais, hoje conta com 40. Eles participam de reuniões quinzenais de alinhamento e estão mais integrados com as outras áreas da empresa. A relação passou a ser orientada pela previsão e visibilidade e, não mais pela pressão da entrega, o que traz valor agregado ao negócio.

Com a parceria e consultoria da Plataformatec, estruturou-se métricas factíveis, as quais medem produtividade e velocidade para controle de demanda e planos de ações mais efetivos. Desta forma, o cenário interno passou a não só ter visibilidade e previsibilidade em suas entregas, mas também segurança no que está no ar.

E não foi apenas nas questões do ágil que a Plataformatec auxiliou a Easynvest em sua reestruturação. A equipe apoiou decisões de negócio do C-level, funcionando como um mentor do CTO, ao mostrar como um head ágil deve atuar: estruturar e proporcionar a mentoria agilista (daily + retrospectivas). Também participou do processo de contratação de um head ágil e na transformação de profissionais internos em agilistas. Assim como assegurou tomadas de decisões complexas, transferência de know-how e capacitação entre os membros das equipes

Outro projeto destacado é o da Bionexo, plataforma de compras de produtos hospitalares, que precisava de um parceiro para acompanhar sua evolução de negócios. Mesmo processando cerca de 2,5 mil cotações diárias em sua plataforma, entendia que a transformação do negócio exigiria uma postura cada vez mais digital e um mindset renovado. Desta forma, em maio de 2014 iniciou a transição: deixou de ser uma empresa de saúde para se tornar uma empresa de tecnologia que atua na área da saúde.

Esta mudança foi possível ao optar pela construção de uma nova plataforma. Era necessário algo que fosse mais modular, escalável e expandisse junto com o crescimento da empresa”.

Para construir a nova plataforma, a empresa contratou a Plataformatec, que ajudou a levar uma cultura digital à Bionexo. A nova interface, com design mais leve e funções simples, proporciona aos clientes e fornecedores redução do tempo de resposta das cotações, o que representa ganho e satisfação para todos. Além desses benefícios, a nova versão da plataforma da Bionexo agregou mais valor à empresa, uma vez que o software é a base de receita neste modelo de negócio.

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