Conversando com diversas empresas sobre Automação Robótica e Cognitiva de Processos, também conhecida como R&CA (do inglês Robotic and Cognitive Automation), percebo que o mercado brasileiro está chegando a um ponto de mudança de direção. Há alguns anos, as conversas giravam em torno do descobrimento do R&CA e quais os benefícios que essa tecnologia poderia trazer. Agora, os assuntos saem do campo da evangelização e entram no da realização.
Essa mudança é fruto do forte apelo trazido pela tecnologia, como grandes ganhos de produtividade e redução de custo, além de baixas despesas de implementação. A pesquisa The robots are waiting, realizada recentemente pela Deloitte, demonstrou que 95% das empresas tiveram suas expectativas de aumento de produtividade superadas e 94% também superaram a expectativa em relação ao custo de implantação. Outras vantagens citadas foram melhoria na conformidade dos processos, redução de custo, flexibilidade e escalabilidade e maior acesso às informações dos processos automatizados.
Por outro lado, essa mesma pesquisa demonstrou que apenas 4% das empresas conseguiram escalar sua força de trabalho virtual em 2018. Então surge a questão: se o R&CA traz tantos benefícios, por que as empresas estão enfrentando dificuldades em escalar a força de trabalho composta por robôs?
Para este questionamento, apresento três desafios encarados pelas empresas na implementação do R&CA:
Em organizações nas quais as áreas de TI são mais resistentes, existem duas reações que são mais comuns: a primeira é tentar desenvolver integrações e customizações para os casos já identificados de automação. Embora isso, em alguns processos, possa ser o mais indicado, geralmente necessita de orçamentos e prazos muito maiores do que uma implementação de R&CA, e em vez de colher os benefícios rapidamente, a área entra em filas intermináveis de priorização, e aguarda por capacidade e verba para efetivar a implementação; e a segunda alternativa é utilizar ferramentas de automação de testes, que embora possuam algumas das características básicas das ferramentas de R&CA, não apresentam a infraestrutura necessária para se tornarem escaláveis e realmente alcançarem todos os benefícios para o negócio que as ferramentas especializadas podem oferecer.
Por essas e outras razões, muitas organizações buscam a criação de Centros de Excelência de Automação, que são áreas multidisciplinares e de gestão conjunta entre os setores de negócio e de tecnologia. Mais do que um exercício de boa convivência, uma vez que são áreas que, não raro, entram em conflito, o desenvolvimento de um Centro de Excelência permite à organização maior agilidade nas tomadas de decisão, ao mesmo tempo em que garante que as melhores soluções tecnológicas serão adotadas, sejam elas baseadas em R&CA ou não.
Dentre os diversos papéis desempenhados por esses centros estão, principalmente, trazer inovação para o negócio por meio do redesenho dos processos de negócio face às novas tecnologias, a avaliação da melhor abordagem para a resolução de determinada necessidade com base na análise do esforço versus o benefício para o negócio e a otimização da infraestrutura tecnológica necessária para permitir uma maior reutilização de licenças e componentes robóticos.
* Martin Seefelder é gerente sênior da Deloitte Brasil
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