Desde a ascensão dos bancos digitais e das fintechs, o modelo tradicional dos bancos está sob forte pressão. De um lado novos competidores nascendo a todo momento com propostas mais ágeis e digitais, elevando ao máximo a experiência dos usuários e utilizando massivamente dados para gerar insights e prover produtos e serviços customizados. De outro lado, novas regulamentações como o Open Banking surgem nutrindo a abertura e compartilhamento controlado de dados bancários por meio de APIs (Application Programming Interface). A expectativa é que o movimento regulatório mude radicalmente a maneira como os negócios são realizados no setor financeiro, aumentando a concorrência e eficiência das cercas de 550 fintechs existentes hoje no Brasil, segundo dados do estudo Fintech Mining Report.
Em linha com o amadurecimento do tema na Europa, Hong Kong, Austrália e outras regiões do mundo, o Banco Central está criando as normas e diretrizes que vão orientar a implementação da medida no Brasil. O objetivo é padronizar o modelo de Open Banking, bem como, trazer maior segurança jurídica para os bancos que possuem os dados dos clientes e para os usuários que quiserem compartilhar esses dados, mantendo o alinhamento com a LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados.
O conceito de Open Banking parte do princípio que o consumidor é o dono dos seus próprios dados e não mais o banco. Com a abertura de informações para outros canais, os usuários poderão procurar produtos e serviços que tragam mais vantagens e conveniência, organizar a vida financeira em somente um aplicativo (sem ter que baixar diversos apps para organizar cada gasto) e trazer seu histórico financeiro para outros bancos que poderão fazer ofertas personalizadas, de acordo com cada perfil. Esses são alguns cenários de uso do Open Banking.
Nesta jornada, o potencial de inovação e novas soluções é assustador. O Chip é um exemplo de aplicativo que se conecta via Open Banking com alguns bancos na Europa. Sua função é analisar o perfil de gastos do usuário através das suas movimentações financeiras nas suas contas bancárias e de cartões de crédito. Aplicando um algoritmo de inteligência artificial, o aplicativo realiza investimentos automaticamente sem impactar os gastos diários do usuário. Em resumo, o Chip “esconde” o dinheiro automaticamente facilitando o processo de economia financeira pessoal.
A expectativa é que, a obrigatoriedade de os bancos abrirem as informações de seus clientes para outras instituições financeiras aumente a concorrência pelos serviços, diminua os preços para os consumidores e crie novos produtos, serviços e formas de pagamento.
O Open Banking muitas vezes soa como uma grande ameaça. O fato é que existe um oceano de oportunidades a serem exploradas, além da pureza da regulamentação. O posicionamento estratégico que cada instituição financeira adotar irá direcionar os benefícios que serão extraídos do Open Banking. Abaixo três exemplos de posicionamento:
Neste momento onde a regulamentação do Open Banking no Brasil está em discussão, o posicionamento no patamar de “Novas Experiências e Alavancar Produtos” é algo relativamente fácil de alcançar (low-hanging fruit). Produtos e serviços já estabelecidos nas instituições financeiras tradicionais podem ser rapidamente modernizados para exposição em uma camada de Open Banking. Essa estratégia permite não só alavancar as receitas desses produtos e serviços, como preparar a instituição para regulamentação no futuro antecipando a criação de estruturas tecnológicas, jurídicas e de segurança, tornando assim uma vantagem competitiva. Ou seja, a instituição entra no jogo e eleva seu patamar de maturidade digital.
O início da jornada ao Open Banking pode se basear em algumas frentes de trabalho, no entanto, quatro pilares são fundamentais:
Os bancos que derem esses primeiros passos estarão muito mais preparados para atender a regulamentação: com a estrutura tecnológica instalada e planejada, a ameaça de só estar atendendo à mais uma regulamentação pode ser desviada para um olhar de como os novos negócios podem beneficiar essas empresas.
O Open Banking será responsável por criar um mercado mais aberto e integrado no setor financeiro e essa tendência acompanha as novas oportunidades de negócios, não só para os bancos, mas para empresas de outros segmentos também, onde fluxo do dinheiro é significativo. É o caso do varejo: há uma tendência e um movimento muito forte que está transformando grandes varejistas em instituições financeiras. Os prêmios pagos para fintechs são altos e, usufruindo da capilaridade dos grandes varejistas esse movimento ganha escala. Riachuelo, Pernambucanas, ViaVarejo e o Carrefour com a compra da fintech Ewally estão posicionados nessa tendência.
O jogo do Open Banking é agora. Olhar para o tema muito além da regulamentação se mostra um caminho para desfrutar uma posição privilegiada na nova economia do setor financeiro.
*Por Fábio Rosato é Diretor de Soluções na Sensedia
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