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O que fazer para reter desenvolvedores? Empresas de software respondem

O mundo digital e a explosão no uso – e necessidade – de software e aplicativos têm impulsionado a carreira de desenvolvedores em todo o mundo. Diante do cenário, estes profissionais ganham cada vez mais evidência no mercado.

A demanda tem crescido de tal maneira que algumas empresas têm patinado na formação de boas equipes. E mais difícil do que encontrar um profissional de qualidade é mantê-lo.

Mas qual o segredo para recrutar e reter bons talentos? Ao que parece, salário não é o topo da lista – afinal, é uma carreira em alta e com boas oportunidades. O cenário tem exigido criatividade por parte das empresas do setor.

Hugo Baraúna, cofundador e atualmente diretor de marketing e vendas da Plataformatec – empresa de consultoria e desenvolvimento de software customizado – diz que, mais do que uma marca forte para o mercado de clientes finais, é preciso ser relevante dentro do próprio mundo de desenvolvedores.

O executivo cita três ações essenciais que alavancaram a Plataformatec para ser referência entre desenvolvedores. O primeiro deles é a ideia de contribuir com a comunidade, seguindo a linha do chamado open source, ou código aberto, conceito extremamente utilizado no mundo do software e apoiado pela maioria dos profissionais do setor.

Nesse caso, a companhia foi além do desenvolvimento de plataformas abertas. Um de seus fundadores, José Valim, criou uma linguagem de programação, o Elixir. Inspirada na tecnologia Erlang, criada em 1986 pela Ericsson e a base do WhatsApp, a proposta do Elixir é ser escalável, para atender os sistemas com alta performance e em tempo real. De modo simples, a linguagem permite que os sistemas recebam milhares de acessos ao mesmo tempo sem que haja instabilidade para os usuários.

Ainda no sentido de colaborar com a comunidade, a Plataformatec aposta na criação e atualização de blogs com informações sobre códigos, programação etc. Outro item primordial apontado por Baraúna é a publicação de livros sobre desenvolvimento.

“Desenvolvedores, no geral, são motivados a compartilhar conhecimento. A empresa que não tem uma marca forte não terá outra ferramenta (para reter) além de pagar altos salários”, comenta o executivo.

Nos últimos dois anos, a Plataformatec saiu de 30 para 60 pessoas, sendo a grande maioria delas (cerca de 80%) para a área de projetos, que envolve desenvolvedores e consultores de projetos ágeis. “Sempre temos vagas abertas. Recentemente mudamos para uma nova sede em São Paulo. Antes cabiam 40 profissionais, hoje conseguimos até 70. Se mantivermos o esse ritmo de crescimento, provavelmente ano que vem precisaremos mudar de novo”, projeta.

“De modo geral, é precisa criar mecanismos que atraiam desenvolvedores, mas não somente salário”, recomenda.

Ilha do Silício

São Paulo ainda concentra a maior parte das vagas – e também os salários mais altos -, mas diversos outros centros têm despontado como berço de inovações e tecnologia no Brasil. Um deles é Florianópolis, capital de Santa Catarina, ou “Ilha do Silício”, como define Leonardo Coelho, cofundador e diretor de desenvolvimento mobile da Involves, desenvolvedora do software para gestão de trade marketing Agile Promoter.

Uma das apostas da empresa é nos atrativos e na qualidade de vida de Floripa. “A comparação salarial com São Paulo não é a mesma. Apostamos muito em retenção a qualidade de vida de Floripa”, comenta Coelho.

Mas, apesar do grande carinho por Floripa – local que a empresa, apensar de ter escritório em São Paulo, planeja manter sua base -, Coelho conta que a companhia ainda precisa ir além das fronteiras do estado para montar boas equipes.

“Precisamos sair da esfera catarinense também. Hoje temos bastante gente do interior do Rio Grande do Sul, que era uma fonte muito forte que não conhecíamos. É um polo interessante e, quando você diz para vir para uma capital, com um polo de tecnologia em crescimento, essa galera se interessa”, diz Coelho, que também afirma que contratou algumas pessoas de Manaus (AM).

Além da busca em outras regiões, a Involes aposta em parcerias para formar jovens da cidade, bem como programas para incentivos à participação de meninas na TI. A empresa fechou 2017 com faturamento de R$ 18 milhões, representando um crescimento de 60% em relação ao ano anterior.

Também de Florianópolis, a Cheesecake Labs, empresa que desenvolve software e aplicativos personalizados, vive caso semelhante ao da Involves.

“Essa geração dos millienials e fim da geração Y, busca um significado e um lugar de trabalho receptivo, com boa qualidade de vida. Não são pessoas que só se preocupam com dinheiro”, afirma Victor Oliveira, CEO da Cheesecake Labs, empresa que cresceu quase 100% em 2017 e prevê aumento de 80% no faturamento neste ano. “Dinheiro te faz feliz até ter o mínimo, depois são outras coisas.”

Assim como a Involves, a companhia vai além de Florianópolis. Oliveira cita mercados como Paraná e Nordeste como fontes de talentos. “A qualidade de vida de Floripa é um grande diferencial.”

Para Coelho, Floripa tem trilhado um caminho interessante e o futuro é próspero. “Hoje o lucro com tecnologia na cidade é maior do que com turismo. Isso atrai muitas pessoas para cá e estamos vendo movimentação de empresas do eixo Rio-SP vindo para Floripa.”

O foco agora é trabalhar na retenção de bons talentos para que a empresa possa contribuir com a comunidade local. “Temos movimentos interessantes e vamos colher bons frutos no médio prazo para a cidade”, completa Coelho.

Desilusão do Vale do Silício

Berço de inovações, o Vale do Silício, em San Francisco (EUA), é referência para o mundo do desenvolvimento de software. O local é costumeiramente “vendido” como sonho para estes profissionais. Mas tudo isso não passa de uma desilusão?

Oliveira fala com propriedade sobre o assunto. Ele foi um dos primeiros desenvolvedores da Uber, empresa de transporte por aplicativo criada no Vale e que revolucionou o mercado a nível mundial.

Quando voltou ao Brasil, Oliveira fundou a Cheesecake justamente para ligar as demandas norte americanas aos desenvolvedores brasileiros – hoje 70% dos clientes da empresa são estrangeiros.

Mas por que voltou ao Brasil? Ele explica: “É aquele ditado: EUA são bons, mas ruins. O Brasil é ruim, mas é bom”, brinca.

“Os desenvolvedores têm a curiosidade de saber como é lá, mas na maioria dos casos percebem que Brasil é mais legal”, comenta.

No caso das exportações de projetos na Cheesecake Labs, profissionais brasileiros passam semanas nos EUA. “Na maioria dos casos dá vontade de voltar. É isso que tentamos fazer: o desenvolvedor passa um ou dois meses fora e volta”, comenta Oliveira, que destaca também a experiência pessoal ganhada vivendo nos EUA e a de todos os profissionais que a empresa envia para lá.

Coelho segue a mesma linha de opinião. “O pessoal tem a visão de que no Vale tudo é perfeito, a terra dos sonhos sem problemas de processos. Eles têm problemas parecidos com os nossos no dia a dia – processos, tecnologia microsserviços etc. Isso (casos da Cheesecake Labs) quebra um pouco o estereótipo que no Vale é tudo perfeito”, acrescenta Coelho.

Tecnologia para recrutar

Se o setor utiliza tecnologias para otimizar diversas indústrias, por que não usar o mesmo recurso para ter um processo de recrutamento mais eficaz?

Foi o que pensou Lachlan de Crespigny, cofundador da Revelo. Diferentemente dos portais de empregos, na Revelo não são os profissionais que têm que se candidatar às vagas. Eles passam por um processo seletivo na plataforma, e os aprovados ficam disponíveis em um marketplace online para as empresas assinantes. O objetivo da plataforma  é transformar o mercado de recrutamento e seleção, oferecendo a melhor experiência para os melhores talentos encontrarem seu emprego ideal

Crespigny, australiano que vive no Brasil há quatro anos, comenta que conheceu diversos candidatos que buscavam empregos, mas acham processos difíceis. E, ao mesmo tempo, empresas com vagas legais, mas que tinham dificuldades para encontrar boas pessoas.

“Começamos a perceber que não era falta de candidato ou vagas legais, mas o sistema que empresas usavam não estava moderno”, lembra.

Com a ajuda de machine learning e inteligência artificial, a Revelo ajuda a liberar mais tempo da rotina do profissional de RH, para que ele foque no que de fato acrescenta valor para a empresa, de forma mais estratégica.

A plataforma consegue medir a atividade das empresas e ensinar para o seu sistema de seleção quais habilidades estão em alta no mercado. Com isso, permite automaticamente buscar e incluir mais desses candidatos no sistema. Quando uma nova empresa chega com essa demanda, a solução já “prevê” essa necessidade e disponibiliza os candidatos com esse perfil.

A empresa utiliza a própria plataforma tanto para encontrar candidatos quanto para entender as tendências do mercado, como as habilidades que estão em alta ou a faixa salarial que os candidatos com aquele perfil estão buscando.

Segundo o empreendedor, mais de 2 mil empresas utilizam a plataforma, com média de 20 mil aplicações por mês.

“O que tem sido muito interessante é a evolução desse mercado, que tem refletido positivamente para nossos negócios. Quando começamos, estávamos focados em startups, uma delas a 99. Nesses últimos anos vemos muitas empresas investindo em transformação digital e outras grandes empresas tradicionais, como dos setores de cerveja, e-commerce, supermercado e bancos, estão usando a plataforma”, completa Crespigny.

Além da 99, entre os principais clientes da Revelo estão Itaú, Natura, Cielo, Hospital Albert Einstein e Grupo Pão de Açúcar.

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