O “metaverso” de Zuckerberg mudará tudo?

Facebook quer construir o universo de realidade virtual em que todos viveremos e trabalharemos. Veja o que está realmente está por vir

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3:00 pm - 26 de outubro de 2021
metaverso

O CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, tem sido notícia ultimamente ao falar sobre o “metaverso”. Zuckerberg diz que é o futuro do Facebook – e da internet. Ele está tão comprometido com a ideia que pretende contratar 10.000 europeus para trabalhar nisso, e até mesmo mudar o nome de sua empresa de Facebook para uma marca relacionada ao metaverso.

Todos nós vamos viver e trabalhar no “metaverso” do Facebook?

O que é o metaverso?

O autor Neal Stephenson cunhou a palavra “metaverso” em seu romance de ficção científica Snow Crash, de 1992. Na narrativa, o “metaverso” é uma versão em realidade virtual da internet, onde um universo alternativo existe em um espaço de compartilhado, usando elementos s do mundo real, como ruas, edifícios, salas e objetos do cotidiano. As pessoas transitam neste universo como avatares, representações 3D que podem interagir com outras pessoas através de seus avatares e também interagir com entidades parecidas com avatares, mas que são, na verdade, agentes de software.

O metaverso tem sido recorrente na ficção cyberpunk desde os anos 1980, desde Burning Chrome e Neuromancer, de William Gibson, a Ready Player One, de Ernest Cline, que foi transformado em um longa-metragem por Steven Spielberg. Matrix é um metaverso.

O conceito literário do metaverso é universalmente distópico, representando uma espécie de capitalismo totalitário no qual as pessoas são compelidas a viver grande parte de suas vidas em um mundo falso, pertencente à uma corporação. Por exemplo, no livro de Cline, todos estão tão envolvidos em um metaverso chamado “OASIS” (onde as pessoas não apenas jogam, mas também vão à escola, trabalham e pagam seus impostos) que o mundo real é relegado à miséria por negligência.

O metaverso da ficção é ruim. Então, por que Zuckerberg acha que o dele é bom?

Por que Zuckerberg quer seu próprio metaverso?

Primeiro, vamos começar com o básico: se houver um metaverso, não será o de Zuckerberg. E se Zuckerberg construir um universo virtual, não será o metaverso.

Em outras palavras: a única maneira possível (mas improvável) de acabar com um único espaço virtual global e universal é se a internet, de alguma forma, desenvolver todas as partes virtuais que permitem aos usuários interagir com todos os serviços da web e uns com os outros em espaços 3D de realidade virtual. É improvável – porque plataformas proprietárias e exclusivas, com sua escassez artificial, atrairão mais investimentos –, mas possível.

Na realidade, o “metaverso” do Facebook realmente deveria ser chamado de “Zuckerverse” – é a visão do CEO da empresa e seu projeto pessoal favorito. É o sonho de um introvertido inteligente que é estranho com as pessoas e quer usar óculos de proteção o dia todo, tomar a “pílula azul” e viver na Matrix. Mas não é isso que as pessoas reais vão querer. Não é o futuro da Internet.

O que é certo é que teremos muitos espaços, mundos e plataformas virtuais on-line – provavelmente milhares deles. Não serão apenas para diversão, mas para trabalho, educação e, sim, até mesmo – e especialmente – para redes sociais.

Tal como acontece com o próprio Facebook, o “metaverso” de Zuckerberg será um jardim murado para uma minoria de pessoas, não o verdadeiro metaverso para todas as pessoas. Ainda hoje, para usar os óculos de realidade virtual Oculus Quest, do Facebook, é preciso de uma conta do Facebook. Uma plataforma aberta não está no DNA do Facebook.

Então, por que Zuckerberg está indo tão longe com a ideia do metaverso? Acho que existem cinco razões.

  • O conceito de um mundo virtual compartilhado existe e está sendo desenvolvido há décadas por milhares de empresas e universidades. Ao publicamente ser obcecado com isso, Zuckerberg espera associar-se a ele como líder.
  • Zuckerberg entende que, a fim de evoluir as redes sociais e a interação para o reino virtual, ele precisa mudar o eixo a empresa. Seus grandes movimentos, grandes anúncios e grandes investimentos reorientam um mundo de funcionários, parceiros, investidores e usuários para a transição.
  • Zuckerberg e o Facebook sabem que as redes sociais que existem agora serão substituídas. Assim como o Facebook substituiu o MySpace, que substituiu a AOL, que substituiu o CompuServ, que substituiu os sistemas BBS, nenhuma empresa que dominava um tipo de plataforma social conseguiu dominar a próxima. O Facebook quer ser o primeiro a dominar duas gerações de redes sociais on-line.
  • FUD (fear, uncertainty, and doubt/medo, incerteza e dúvida). Faz sentido fazer um barulho alto em espaços virtuais para afastar o interesse de investidores em startups que procuram fazer a mesma coisa.

Se a obsessão pública de Zuckerberg serve a qualquer propósito, é para destacar para todos nós que um futuro de realidade virtual/realidade aumentada está chegando e vai impactar como os negócios funcionam massivamente.

Por que o Appleverse vence o Zuckerverse

Uma coisa é centenas de startups se esforçarem para construir os espaços virtuais do futuro, desenvolvendo headsets e óculos virtuais, gráficos avançados, ferramentas de modelagem, ferramentas de rede e muito mais. Outra coisa é saber que a Apple também está comprometida com isso.

A diferença é que o Facebook quer um universo virtual alternativo; a Apple quer adicionar o virtual ao universo real.

O CEO da Apple, Tim Cook, disse publicamente que a realidade aumentada (RA) é “a próxima grande coisa”, “superior à RV”, “uma grande ideia, como o smartphone”, e ele vê grandes aplicações para RA “na educação, junto aos consumidores, em entretenimento, nos esportes. Posso ver isso em todos os negócios sobre os quais conheço”.

Ambas as empresas estão apostando alto em visões opostas: a RV dominará ou a RA? O Zuckerverse ou o Appleverse?

A Apple possui centenas de patentes e está investindo bilhões de dólares no desenvolvimento de plataformas de hardware e software para os espaços virtuais do futuro. A empresa projetou e construiu vários protótipos, alguns com especificações surpreendentes, como monitores duplos de 8K, LIDAR e uma série de câmeras e sensores biométricos.

O fato interessante e único sobre a Apple é que ela pretende inicialmente usar óculos de RV para aplicativos de RA. O usuário verá um vídeo em tempo real do mundo real com objetos virtuais inseridos naquele vídeo.

A Apple também está supostamente trabalhando em óculos RA que parecem óculos comuns e podem ser usados o dia todo, todos os dias, com lentes graduadas.

Em uma coluna anterior, eu detalhei o que sabemos sobre os óculos de realidade virtual e realidade aumentada da Apple. O cronograma aproximado para esses produtos é de dois anos para os óculos de RV, cinco anos ou mais para os óculos de RA.

A Apple mantém planos para o futuro em segredo. Mas, às vezes, é possível adivinhar as intenções da empresa por meio de ações como patentes e aquisições.

A iniciativa mais revolucionária entre as patentes da Apple é um conceito chamado Bionic Virtual Meeting Room. Em suma, o conceito integra hardware e software para permitir reuniões com outras pessoas em um contexto virtual. Especificamente, as pessoas são representadas por avatares, que transmitem as expressões faciais, movimentos da boca, linguagem corporal, inclinações da cabeça e outros gestos em tempo real. Assim como o Memojis da Apple, mas em 3D com interação espacial racional.

O que isso significa é que os avatares podem ver outros avatares, com seus movimentos correspondentes, interagindo em tempo real. Eles podem fazer contato visual, apontar, gesticular, falar e caminhar.

Parece um videogame de tiro em primeira pessoa. A diferença é 3D, ID biométrica (muito importante para reuniões de negócios), mapeamento completo de gestos em tempo real da parte superior do corpo, mapeamento de rosto em tempo real e mapeamento de salas e objetos. As muitas patentes da Apple também detalham uma série de sensores biométricos para detectar emoções, o que seria sutilmente refletido na expressão facial.

Nos videogames, você aparece como um personagem virtual, um fantoche tosco. Na tecnologia de reuniões da Apple, você aparecerá como uma versão de você, otimizada para comunicação verbal e não verbal e também para colaboração em tempo real. Em outras palavras, seu avatar estará profundamente conectado ao seu eu real – cada movimento e emoção serão reproduzidos por seu avatar.

Outra grande diferença é que a Apple imagina que os usuários de seus óculos de RA verão avatares não em um espaço de realidade virtual, mas como hologramas que aparecem em seu espaço físico real.

Embora as intenções da Apple mal estejam registradas publicamente, elas, sem dúvida, assombram os pesadelos de Zuckerberg.

A tecnologia Bionic Meeting Room da Apple é uma rede social por via de avatares. A Apple tem melhores patentes, melhor tecnologia, melhores recursos de design, melhores ferramentas de desenvolvimento e mais confiança entre sua base de usuários.

A tecnologia de reunião virtual da Apple está prestes a substituir:

  • Rede social
  • Videoconferências
  • Viagem de negócios
  • Conferências profissionais

As reuniões futuras provavelmente ocorrerão substancialmente por meio de avatares. Isso vale para reuniões individuais com fornecedores, ligações de vendas, reuniões de RH com funcionários, conferências profissionais e outros tipos de reuniões.

Se a história for um guia, a vantagem para a Apple provavelmente será uma experiência relativamente contínua, sem atrito, segura e de alta qualidade.

Avance uma década e nossas vidas e trabalho serão bastante transformadas pela realidade virtual e realidade aumentada. De vez em quando, vamos entrar em espaços de RV para fazer coisas específicas. Mas viveremos em RA o dia todo – ou pelo menos teremos objetos virtuais, dados, conteúdo e interação social baseada em avatar que podem ser conjurados instantaneamente através dos óculos que estaremos usando, de qualquer forma.

Em outras palavras, a visão de Zuckerberg de viver em RV é (como os escritores de ficção científica nos avisaram) um pesadelo distópico.

Ainda assim, a RV terá um papel importante. Na verdade, isso já está acontecendo.

Como as muitas plataformas virtuais impactarão os negócios

Os espaços virtuais vão muito além das salas de reuniões. Eles incluirão showrooms, shoppings, estádios e fábricas virtuais.

O Nvidia Omniverse é um esforço inicial, voltado para a simulação de ambientes do mundo real para colaboração e otimização. Um cliente, a BMW, tem usado o Omniverse para criar réplicas exatas de todas as suas fábricas, onde pode testar mudanças em todos os aspectos da operação em uma simulação interativa. Os vídeos deste projeto são inacreditáveis.

A Nvidia mostra o caminho para o futuro da RV empresarial. É uma aplicação e plataforma de desenvolvimento poderosa, mas isolada, e não um “universo” ou um “metaverso”.

Milhares de empresas estão criando todas as partes necessárias para este tipo de aplicação de negócios poderosa para RV. A RV será usada para publicidade e o que há de mais moderno em marketing experimental. As lojas venderão roupas e objetos reais e virtuais. Os entusiastas do NTF acreditam que a eventualidade do metaverso ou do espaço virtual conduzirá as compras baseadas em NFT ao impor a escassez.

O futuro da RV é incrível. Mas a RV sempre estará disponível em milhares de aplicativos que escolhemos na hora e usamos temporariamente. Apesar da visão de Zuckerberg, ninguém vai ficar em RV o dia todo, exceto uma minoria de jogadores viciados e obcecados.

A RA é o lugar onde vamos morar. RA substituirá os smartphones como a plataforma para o dia todo, todos os dias.

Afinal, por que criar um metaverso se já vivemos em um universo perfeitamente bom?

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