No mundo pós-covid, organizações terão que revisar modelos de negócios

Organizações deverão reestruturar sua cadeia de suprimentos de acordo com novos comportamentos dos consumidores

Author Photo
2:00 pm - 25 de maio de 2020

No mundo pré-covid, o trabalho remoto representava 16% do tempo e era geralmente visto como um tipo de flexibilização das empresas para que os funcionários tivessem mais tempo com suas famílias, geralmente próximo aos fins de semana. Subitamente saltou para 78% e, no primeiro momento, as equipes de TI e gerenciamento de crises simplesmente estenderam os acessos com o objetivo principal de manter as operações sem interrupção e/ou descontinuidade das operações de negócios.

Na medida em que o fator gerador dessa crise não possui uma solução de curto prazo e esse modelo de trabalho remoto consolida-se como o novo formato (total ou híbrido) de condução de negócios e interações profissionais, preocupações mais sérias devem ser abordadas.

Obviamente, os grupos de hackers aumentaram suas ações agressivas (aumento de 400% no número de ataques de malware, em especial contra instituições financeiras) e as empresas são obrigadas a enfrentar um desafio sem precedentes no meio de seus processos de transformação digital: como manter as operações da maneira mais eficiente possível sem comprometer a integridade de todos os tipos de dados e acesso aos aplicativos mais importantes (ativos intangíveis) para os usuários certos que sofrerão profundas transformações?

O pós-Covid acelerará muitas das tendências já em andamento, onde o conceito principal será a velocidade, escala e eficiência dos processos automatizados nas interações. Durante a crise, esses movimentos já estão sendo percebidos em vários setores. Devido as restrições de viagem e maior sensibilidade dos consumidores à proximidade física, os ecossistemas de telemedicina estão se expandindo rapidamente. Nos EUA, a Federal Communications Commission está investindo US$ 200 milhões para aumentar os recursos de conectividade entre pacientes e profissionais de saúde virtuais. Centenas de médicos estão procurando ingressar nessas plataformas para manter seus pacientes atuais devido à restrição drástica de usuários em visitar hospitais por medo de contrair Covid no ambiente. O aplicativo sueco KRY teve um aumento de 200% nos registros de interações virtuais nas últimas semanas.

As cadeias de valor entre múltiplos fornecedores, dentro do conceito de “just-in-time” e globalização, perderão significado, devido à mudança de hábitos do consumidor seja por questões nacionalistas de certos componentes que podem estar em países sob tensões geopolíticas. As grandes multinacionais provavelmente irão reestruturar toda a sua cadeia de suprimentos de acordo com os novos comportamentos dos consumidores no pós-Covid.

Essa reorganização das cadeias de valor também incluirá fornecedores que participam do processo de criação e fabricação de produtos e/ou serviços. Seguindo uma tendência já em direção à personalização de desejos de compras on-line, as empresas devem montar variados mosaicos de fornecedores, combinando itens de avaliação para consumidores finais, possivelmente com algumas opções para o mesmo produto, e tendo seus preços de acordo com essas variáveis.

À medida que as reações dos consumidores se tornam mais claras, associadas a possíveis problemas de menores interações físicas e forte crescimento através das plataformas digitais, será necessário adaptar rapidamente as cadeias de valor para manter sua posição no mercado e níveis de competitividade. As soluções automatizadas de governança de identidade desempenharão um papel crítico por meio de sua capacidade de permitir o acesso correto aos aplicativos e dados necessários para a comunidade de usuários designados associados à rota da cadeia de suprimentos decidida em um curto espaço de tempo. Esta capacidade trará um diferencial competitivo critico.

Na crise pós-financeira de 2008, as instituições que mudaram rapidamente seus modelos de negócios, capturando mais rapidamente as percepções dos clientes, alcançaram uma expansão de 10%, enquanto aquelas que simplesmente procuravam retornar operações idênticas à pré-crise sentiram uma retração de 15%, além de extensos processos de redução de funcionários. A tendência para a automação já estava em andamento no pré-Covid, onde várias pesquisas indicaram que uma média de 60% dos empregos sofreria alterações de cerca de 30% na dinâmica de suas tarefas, o que afetaria entre 400 a 800 milhões de empregos até 2030.

Após a perturbação drástica que estamos enfrentando, é improvável que os modelos de negócios voltem como estavam no mundo pré-covid. Mesmo sua solução, através da disponibilidade da vacina ou de medicamentos adequados, os distúrbios da crise permanecerão para sempre na mente de todos nós. Para a maioria das empresas, a única opção de sobrevivência é acelerar seus processos de transformação digital.

Quando o explorador Ernest Henry Shackleton executou a Expedição Imperial Transantártica (1914–17), nada saiu como planejado, com o navio Endurance sendo preso no gelo e posteriormente esmagado lentamente antes mesmo que a tripulação conseguisse chegar a terra firme. Uma série de explorações se seguiu e um resgate extremo sem, no entanto, perdas humanas, o que daria status de herói a Shackleton por sua capacidade de preservar o bem-estar de todos os seus homens.

Shackleton enfrentou um novo problema para o qual não havia solução planejada. Sua grande capacidade de coragem para liderança e resiliência fez com que ele e toda a equipe passassem por algo sem precedentes e desafiadores até o limite da perda de vidas. Como a necessidade é a mãe da inovação, os líderes empresariais inteligentes certamente encontrarão esse novo caminho e vencerão a crise mais fortes e ganharão uma vantagem competitiva em seus segmentos de mercado, o que dificilmente conseguiria com a rapidez e dimensão no ambiente pré-covid.

*Leonardo Scudere é Diretor Regional, Latin America na SailPoint Technologies

Tags:

Newsletter de tecnologia para você

Os melhores conteúdos do IT Forum na sua caixa de entrada.