Não tem erro: o trabalho do futuro não será focado em projetos

O futuro será direcionado a produtos e as empresas precisam se preparar para esse novo cenário

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3:45 pm - 24 de junho de 2019

O mundo dos negócios vive de projeções com base em análises de mercado, comportamentos, cenários políticos e econômicos, entre outros fatores, para poder identificar onde investir e se os esforços em um novo produto ou serviço podem ser levados adiante ou se é melhor mudar a rota. O que é válido hoje pode não o ser em muitos meses, em especial no contexto atual de um mundo de incertezas, já popularmente chamado VUCA – que serve para descrever o momento que vivemos dentro e fora das empresas, ou seja: em um ambiente de Volatilidade (volatility, em inglês), incerteza (uncertainty), complexidade (complexity) e ambiguidade (ambiguity) – é necessário ajustar a nossa visão de futuro.

Se não somos videntes e não temos bola de cristal, como podemos saber o que o futuro nos reserva? A tarefa não é simples, mas podemos analisar algumas de nossas experiências para saber o que poderá – em tese – dar certo ou errado. Em nossa experiência, podemos afirmar que uma coisa é certa: o futuro será mais direcionado a “produtos” do que “projetos”.

As últimas décadas foram marcadas fortemente pela adoção de métodos de gerenciamento de projetos em nível corporativo, recheando as organizações de controles, relatórios, gráficos e muitos mecanismos de ‘engessamento’; em contrapartida nos anos mais recentes vemos o crescimento de uma cultura de inovação e maior capacidade de entrega, materializada por empresas que, recorrentemente, superam seus competidores ‘tradicionais’ e/ou criam mercados em segmentos inexplorados pelos líderes de então.

O futuro de produtos é mais que uma aposta

Tomando como referência algumas empresas “vencedoras”, verifica-se um “padrão”: processos leves para criação de produtos ou serviços e tecnologia de ponta utilizados como habilitador e aumento da capacidade de entrega.
Amazon, Google, Zappos, Apple e Uber entre outras, são exemplos reais de organizações que, ao concentrar seus esforços em encantar o cliente – muito mais do que simplesmente entender suas necessidades -, estão constantemente revisando seu portfólio de produtos, melhorando e inovando em diferentes escalas.

É errando que se aprende

A volatilidade dos negócios é um grande desafio a ser considerado. As equipes envolvidas no desenvolvimento de produtos e serviços são tipicamente pressionadas a entregarem o melhor e a não errarem, porém uma cultura de inovação valoriza o empirismo, ou seja, adota os princípios de experimentação e feedback como base para projeção e revisão de estratégia.

Assim, as equipes e as empresas estão aprendendo que não adianta perseguir a inexistência de erros, mas sim buscar um ambiente de colaboração e integração entre times de negócios, operações e desenvolvimento como a maneira mais eficiente para se errar menos, errar em ciclos curtos, aprender com os erros e construir o sucesso.

O que significa errar mais rapidamente?

Errar rapidamente é muito menos danoso aos negócios que errar por longos períodos de tempo. Ou seja, demorar muito tempo para descobrir que o caminho escolhido nos leva a um abismo. Errar rapidamente significa “não perder tempo com ideias que não darão certo”; portanto, saber identificar se vale a pena levar a ideia à frente é o grande desafio dos negócios.

A maneira incremental de planejar e executar as coisas

Para conseguir criar o produto que o cliente quer, é necessário muita pesquisa, planejamento e engajamento. Pode parecer contraditório, mas estas são atividades de planejamento de projetos. Porém, executadas em ciclos curtos e enxutos, visando o produto viável mais do que um produto pretensamente completo.

Abordagens ágeis – como o Scrum – nasceram no contexto de desenvolvimento de software, mas hoje ganham projeção e relevância em outras áreas de negócio e agregam conceitos, tais como o desenvolvimento incremental e iterativo, onde, a partir de uma priorização objetiva e curtos ciclos de tempo, as pessoas trabalham de modo colaborativo com foco comum visando a entrega do que é valorizado pelo cliente.

Integrar tecnologia com negócios ajuda a errar menos e mais rapidamente

A tecnologia de ponta é outro fator decisivo para o sucesso das empresas no tal mundo VUCA, e a adoção de abordagens ágeis é parte da equação, mas não é o suficiente.

Para ir além, para garantir a efetiva colaboração entre tecnologia e negócios e potencializar o desenvolvimento de soluções, as empresas “vencedoras” estão transformando a maneira como seus times de tecnologia trabalham e caminham na direção do que é conhecido como DevOps: um movimento que propõe uma ideia simples, porém disruptiva: a de que os times de desenvolvimento de sistemas (Dev) e operações (Ops) precisam trabalhar de modo colaborativo e integrado para maximizar o valor gerado pelas soluções de TI ao Negócio, eliminando barreiras, baseados em processos leves que viabilizem, entre outras coisas, as entregas frequentes (Continuous Delivery), testes contínuos e incrementais.

Juntando as pontas com foco no mundo real: o produto

Bons produtos resultam da colaboração entre profissionais dedicados a entregar o maior valor possível a quem será beneficiado (o cliente) e precisam contar com processos eficientes: boas práticas de engenharia de produto, engenharia de software, desenvolvimento seguro e um ambiente operacional estável. Estes são os componentes básicos para isso e uma preocupação central para o negócio.

Colocar as equipes trabalhando integradas é ponto central para se obter sucesso no mundo VUCA e todas as iniciativas voltadas à Transformação Ágil devem incluir DevOps para potencializar os resultados no mundo real. Olhar para o mundo real envolve a empresa considerar o aspecto funcional do processo de desenvolvimento de um produto, justamente porque esta é pré-condição para um DevOps efetivo.

Brasil: oportunidades não faltam

Sendo parte de um mundo volátil, recheado de incertezas e fragilidades (econômica, social, política), o Brasil possui mais de 200 milhões de habitantes e podemos pensar o país como uma imensa oportunidade para o desenvolvimento de novos produtos e serviços que façam uso intensivo da tecnologia.

A criatividade do nosso povo, somada a uma cultura que abraça a mudança, fornece um terreno fértil para que as empresas e profissionais experimentem novos métodos de trabalho, focados na colaboração e entrega rápida, ao mesmo tempo que enfatizam a qualidade e confiabilidade.

O fator decisivo, por outro lado, é que nenhuma transformação ocorre em curto prazo e requer comprometimento de todos, sob risco de retrocessos e falhas irrecuperáveis. Assim, é fundamental compreender que métodos novos de trabalho podem elevar a capacidade de entrega e de trabalhar diariamente com foco no aprimoramento, aprendendo com erros, experimentando e criando soluções impactantes.

*Álvaro D’Alessandro é diretor da OAT Solutions.

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