Nancy Abe: a boa liderança precisa saber contar com seu time

Para a CIO da NotreDame Intermédica, o maior desafio da carreira passa pela gestão de pessoas. O maior aprendizado também

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10:12 am - 18 de agosto de 2020

Aos 25 anos de idade, Nancy Abe, recebeu um dos primeiros grandes conselhos que levaria para toda a sua carreira e liderança. “Eu era uma pirralha”, lembra aos risos, “o mais novo da minha equipe tinha mais de 50 anos. Era um time que de idade e senioridade era muito mais do que eu e eu tinha toda a insegurança de início de carreira. Mas eu fui aprendendo muito com meu próprio time”.

Já passava do horário do expediente e Nancy se mantinha em um ritmo intenso na frente do computador, recorda ela em entrevista à CIO Brasil. “Todo mundo tinha ido embora e um dos analistas, antes de também ir, veio falar comigo”, conta ela para, na sequência, parafraseá-lo: “Nancy, quando um chefe fica trabalhando e o resto da equipe vai embora, tem alguma coisa errada. Ou você tem um problema na equipe ou o problema é você”, diz a executiva como se revivesse a própria cena que marcou a memória. “E ele falou, olha, imagino o que se passa na sua cabeça com a sua idade, liderando um monte de macaco velho, mas você tem de aprender a contar com a gente. Se você está neste cargo é porque você tem um diferencial que nós não temos”, acrescenta Nancy. “São pequenas coisas que vão acontecendo na carreira da gente e você, aos poucos vai aprendendo”, conta.

Nancy Abe, CIO do Grupo NotreDame Intermédica, diz que tinha uma única certeza quando concluiu o colégio técnico em São Paulo, cidade natal: “eu não ia fazer Engenharia”, diz aos risos. Um estágio no SERPRO (Serviço Federal de Processamento de Dados) e a convivência com colegas em Análise de Sistemas, entretanto, abriram os horizontes para seguir uma faculdade e carreira em Tecnologia da Informação. Desde cedo, ela se deu conta de que a tecnologia poderia se beneficiar com algo que ela buscava explorar: o lado humano. “Sempre junto do usuário, junto do cliente, de buscar a parte da gestão”, exemplifica a executiva.

A carreira poderia ser dividida em duas fases. A primeira, onde atuou do lado do fornecedor de tecnologia, com passagens pela Origin, atual Atos, e IBM. Enquanto trabalhava na Origin, teve a oportunidade passar um período nos Estados Unidos. Já na segunda fase da carreira, Nancy passou a atuar da perspectiva do cliente de tecnologia. A experiência no setor financeiro veio na atuação de uma empresa de Processamento de Cartões de Crédito e posteriormente, quando assumiu a TI, do Banco Cacique, do Grupo Societe Generale. Ela conta que havia uma indústria que nela desejava se desenvolver. “O fato de querer ir para a área de saúde, era porque eu via que era uma indústria que tinha ficado para trás em relação à TI e eu via que era um segmento que ia demandar muito da tecnologia. Quando eu vim para a NotreDame, eu vi que tinha muita coisa para a TI fazer e hoje vemos que é uma área que, mundialmente, vem recebendo bastante foco da tecnologia”.

Quebrar paradigmas

O mês de março de 2020 inaugurou um novo capítulo na carreira para a maioria dos líderes corporativos no Brasil. A pandemia da covid-19 caminhava para atingir números recordes, assim como a preocupação dos colaboradores demandava um rápido posicionamento das lideranças. Ao mesmo tempo, manter a operação coesa e engajada à distância desafiou uma cultura organizacional que, até então, confiava na presença física dos pares. “A pandemia fez com que a gente tivesse de entregar projetos e priorizar outros para conseguir dar conta. Tivemos de quebrar alguns paradigmas do setor”, ressalta. A operadora de saúde NotreDame Intermédica precisou em poucos dias acelerar projetos digitais para oferecer aos beneficiários. “Em 15 dias, colocamos uma solução de telemedicina no ar”, exemplifica.

Outro desafio que a pandemia trouxe para a NotreDame Intermédica e refletiu na equipe da TI liderada por Nancy foi a adoção do home office para toda a organização. “Não era cultura da empresa. Em 15 dias, colocamos mil colaboradores trabalhando de casa. Tivemos de buscar notebook no mercado, contratar solução de VDI para garantir a segurança do acesso do colaborador. Foram 20 dias que a TI trabalhou tanto e tão focada que eu nunca vi uma produtividade tão grande do meu time e dos parceiros. Foi fantástico”, lembra.

O maior desafio da carreira

Apesar de todos as demandas provocadas pela pandemia do coronavírus, Nancy diz que o maior desafio da carreira não pode ser diretamente associado às rupturas trazidas pelo novo cenário. “Entregar máquinas, instalar sistemas, é algo que você faz no dia a dia. Acho que o maior desafio é quando você lida com pessoas”, diz.

Um desafio que aumenta em tempos de isolamento, pois conduzir projetos que envolvam várias áreas da organização, exige muita criatividade, energia e sensibilidade, diz Nancy.

Trata-se de um projeto que envolve todas as áreas da organização, diz Nancy. “São pessoas que a gente tem de manter engajadas para um projeto sair. Para desenhar um modelo novo e tudo remotamente. Esse negócio de sair colando post-it na parede não rola mais, pois você está em casa e outras pessoas também estão”, conta.

Para ela, novamente, um time coeso reforça que os desafios são possíveis de serem superados: “é um time que, além de conhecer muito de saúde, é muito comprometido. Apesar da correria e do cansaço, é um pessoal que se engaja e não tem corpo mole”.

Liderança cobra empatia e humildade

Se a Nancy de 25 anos precisou ouvir do seu time sênior que era possível ter nele seus aliados, a CIO de hoje diz seguir o conselho. O aprendizado é mútuo. “Ter a responsabilidade de cuidar do crescimento da carreira do seu time, isso é muito legal. Eu curto muito dar feedback, ver o seu colaborador se mexendo, crescendo. Acho isso fantástico”, conta. “Outra vivência que define muito o que sou hoje, foi ter praticado softball (beisebol para mulheres) por 12 anos. Ali desenvolvi minha resiliência, a liderança e o atuar de forma coletiva”.

Na NotreDame Intermédica, as lideranças também trabalham para preparar sucessores. “Formar um sucessor não é uma coisa fácil”, diz. “O meu sucessor perguntou se eu não gostaria de fazer mentoring”, recorda. “Eu já fiz mentoring na vida, mas nunca para estar no meu lugar. É muito próximo, pois se você indicou um sucessor, é alguém que você sabe que está muito próximo da sua competência. Então, eu pensava, que não tinha muito a ser trabalhado. E falei, será que eu tenho alguma coisa a agregar? E ele disse: claro que tem, se não eu estaria aí e você no meu lugar”, reproduz Nancy.

Com a mentoria, a executiva diz que aprende muito, pois há na dinâmica muita troca de experiências e perspectivas. “Você aprende, pois está vendo com outros olhos. É uma experiência que força você a crescer”.

Entrar para a indústria de saúde também foi um desafio inicial que, no dia a dia, foi sendo superado junto de sua equipe. “Eu falo para eles, sozinha não vou a lugar nenhum. Então, todos nós estamos no mesmo barco e todo mundo rema no mesmo compasso. É um time que está indo muito bem e me dá muito prazer ver essa evolução e este reconhecimento”, finaliza Nancy.

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