Na ‘guerra’ global dos chips, Intel faz movimento de US$ 20 bilhões

Empresa anunciou duas fábricas no Arizona e estratégia – a IDM 2.0 – para expandir fabricação nos EUA e na Europa e reduzir domínio chinês

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11:26 am - 24 de março de 2021
Instalações da Intel em Ocotillo Arizona, onde ficarão as duas novas fábricas. Crédito da foto: Divulgação

Um investimento inicial estimado de US$ 20 bilhões na construção de duas fábricas no Arizona (EUA), além de um novo modelo de fabricação e desenvolvimento de semicondutores, resumido em uma visão intitulada IDM 2.0 (integrated device manufacturing) e centrado principalmente na Europa e na América do Norte. Esse é o plano da Intel não só para alavancar vendas e o portfólio de produtos construídos em 7nm, mas também para combater tanto a crise mundial de fornecimento de chips como o domínio da China na fabricação desses produtos.

Pat Gelsinger, o recém-anunciado CEO da Intel, anunciou os planos da empresa nesta terça (23). Ele compreende tanto os investimentos em fabricação como no desenvolvimento de novas tecnologias (em parcerias com empresas como Microsoft e IBM, cujos CEOs – respectivamente Satya Nadella e Arvind Krishna – estiveram no anúncio). Para liderar o esforço, uma nova unidade de negócios da Intel chamada Intel Foundry Services foi anunciada.

Segundo o CEO da Intel, o IDM 2.0 é uma evolução do modelo de fabricação integrada da empresa. Compreende, primeiro, uma rede integrada de fábricas da empresa para produção em larga escala, com economia e capacidade de suprir a demanda elevada atual.

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O principal destaque feito por Gelsinger foram os produtos fabricados em 7 nm, cujo processo estaria “progredindo bem”, em parte graças ao aumento do uso de litografia ultravioleta extrema (EUV). É uma resposta a principal rival da empresa no segmento de processadores, a AMD, que já tem produtos em 7nm no mercado há algum tempo.

A Intel espera lançar a primeira CPU da série “Meteor Lake” com 7nm ainda no segundo trimestre de 2021.

Outro pilar da estratégia anunciada é a expansão de capacidade de fabricação de terceiros. Essas fábricas de prestadores de serviço são responsáveis pela produção de uma série de produtos da marca Intel, incluindo conectividade, armazenamento e chips gráficos – segmento em que a empresa deve entrar ainda este ano competindo com Nvidia e, sempre ela, AMD. O objetivo é aumentar a produção de peças modulares, incluindo produtos para data centers, e ganhar mais escala.

Intel Foundry

O terceiro e último pilar da estratégia é a Intel Foundry Services, nova unidade de negócios liderada por Randhir Thakur, que ocupava o posto de Chief Supply Chain Officer na empresa. Ele vai responder diretamente a Gelsinger, e terá a missão de tornar a nova estrutura um dos “maiores fornecedores para contratação de produção de semicondutores com base na Europa e nos EUA” e “atender a crescente demanda global” por esses componentes.

Segundo a Intel, o negócio de manufatura representa um mercado potencial de US$ 100 bilhões até 2025. E a IFS é, conforme definiu Gelsinger, a combinação de tecnologia de processo e empacotamento, produção baseada nos EUA e na Europa e um portfólio de última geração. A ideia é atender a demanda de fabricação de terceiros, incluindo x86 e IPs do ecossistema ARM e RISC-V.

Parte desse esforço passa pela expansão da capacidade de fabricação da companhia nesses dois territórios, o que inclui as duas novas fábricas no Arizona, localizadas no campus Ocotillo. O investimento estimado em US$ 20 bilhões deve criar, segundo a Intel, 3 mil vagas para profissionais de tecnologia e outras 3 mil na construção da fábrica, além de 15 mil vagas de emprego indiretas na comunidade local.

Embate geoglobal

Segundo Gelsinger, 85% da capacidade de produção de semicondutores no mundo está centrada na Ásia, enquanto os demais 15% estão na Europa e nos EUA. O mercado aquecido e a capacidade de produção afetada pela pandemia estão tornando a falta de chips em todo mundo mais um item da disputa global por chips – que ameaça adicionar novas camadas no já quente embate entre EUA e China.

Nos últimos anos houve sanções impostas pelo ex-presidente americano Donald Trump a fabricantes chineses como a Huawei. O atual presidente Joe Biden, por sua vez, embora tenha reduzido os discursos provadores, já manifestou incomodo com o domínio chinês das cadeias globais de suprimento de chips, e tem buscado formas de expandir a manufatura no país.

Não por acaso Gelsinger contou com a participação de Gina Raimondo, secretária do comércio dos EUA, na coletiva desta terça. Mencionou Biden e o compromisso com projetos e iniciativas promovidas pelo governo americano, inclusive na área de defesa.

“Estamos animados com a parceria com o estado do Arizona e a administração Biden em iniciativas que estimulam esse tipo de investimento no nosso país”, disse Gelsinger. A Intel planeja acelerar investimentos em outras regiões dos EUA, de acordo com o executivo, e deve anunciar novos aportes em uma próxima fase do plano industrial ainda em 2021.

O compromisso político é reforçado por um blog post publicado por Jeff Rittener, diretor de assuntos governamentais da Intel, em que ele menciona uma lei de estímulo aprovada pelo congresso americano que prevê US$ 3 bilhões em incentivos para a fabricação local de chips. Os subsídios federais podem ser usados em projetos envolvendo investimentos em instalações e equipamentos nos EUA para fabricação, montagem e teste de semicondutores.

“Esses fundos são importantes para nivelar o campo de jogo para empresas de semicondutores dos EUA como a Intel, que enfrentam uma desvantagem de custo entre 25% e 50% com concorrentes estrangeiros devido em grande parte aos incentivos que recebem”, escreveu o executivo.

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