Microsoft enfrenta 4 grandes desafios

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8:27 am - 28 de julho de 2014
Microsoft enfrenta 4 grandes desafios

Apesar dos últimos dias terem sido cheios para a Microsoft, os investidores parecem estar do lado do CEO Satya Nadella. Há duas semanas, a companhia revelou planos de demitir 18 mil funcionários. Na semana passada, afirmou que seus lucros seriam maiores se não fossem as perdas vinculadas à aquisição da Nokia por U$ 7 bilhões, que é responsável por dois terços dessas demissões.

Mesmo com todo o tumulto, e graças à alta receita alcançada com nuvem e servidores neste trimestre, as ações da Microsoft permanecem estáveis desde o anúncio dos cortes; o valor por ação alcançou US$ 45, um aumento de 12% desde que Nadella assumiu a liderança da empresa.

Mas isso não significa que a Microsoft não tenha com o que se preocupar. A empresa apresentou bons resultados no último trimestre, mas a popularidade de Nadella não se trata apenas de números. Também incide sobre sua disposição de admitir que a Microsoft enfrenta uma batalha difícil em muitos mercados, como o de smartphones e tablets. Ao iniciar os cortes, Nadella tem dado um grande passo em direção à implantação da “mentalidade desafiadora” que ele acredita que a empresa precisa – mas ainda faltam muitos passos. Aqui estão quatro questões urgentes que a Microsoft e seu novo CEO ainda precisam enfrentar.

1. A Nokia vai se encaixar dentro da Microsoft?

Nas últimas semanas, os executivos da Microsoft enfatizaram que a empresa está diminuindo seus esforços em dispositivos. Sim, ela ainda continua a produzir esses equipamentos, pois o Windows Phone precisa disso e a Microsoft quer dispositivos que mostrem o que os seus serviços de nuvem podem fazer. Mas Nadella sabe claramente que alguns investidores desconfiam dos planos de hardware da companhia e, por isso, ele e outros líderes têm aparecido para contornar essas preocupações.

“Nós não estamos em hardware por causa do hardware”, afirmou Nadella durante o anúncio dos resultados financeiros trimestrais. O que soa positivo – mas o que isso significa para a Nokia? Os executivos da Microsoft se mostraram otimistas sobre o crescimento do Windows Phone em mercados emergentes, mas admitiram que dispositivos de baixo custo (e, portanto, baixo lucro), foram os mais vendidos. Nadella disse que, para gerar demanda de dispositivos topo de linha, a companhia vai criar os aparelhos que impulsionem seus serviços digitais, tais como Cortana, OneNote e Lens Office. Será que vai funcionar? O tempo dirá, mas saberemos mais quando a organização lançar esses esforços direcionados a um smartphone carro-chefe.

Enquanto isso, a Microsoft terá que lidar não só com o Android, que é dominante nos mercados de baixa margem onde o Windows Phone tem alguma tração, mas também com o iPhone. O smartphone da Apple pode representar um desafio especial para o plano de Nadella, que consiste em usar Windows como sistema operacional principal do smartphone com foco comercial. Os dispositivos da Apple já são populares no segmento corporativo e podem apresentar um novo crescimento no mercado voltado para consumidores quando modelos phablet (que têm sido anunciados por rumores) forem lançados este ano – sem contar que agora devices iOS têm o apoio do software e da equipe de vendas da IBM.

2. A sinergia da nuvem híbrida da Microsoft vai continuar?

A estratégia de Nadella com foco na nuvem parecia particularmente promissora após a divulgação dos lucros em que a receita em cloud cresceu 147% ano sobre ano e está a caminho de atingir US$ 4,4 bilhões no ano. Além disso, os executivos ressaltaram que o momentum cloud – que inclui produtos como Office 365, Azure, Exchange Online, SharePoint Online, Dynamics CRM, Lync Online e Intune – não vai canibalizar seus produtos de venda sob licença no local.

A Microsoft também informou que a receita com produtos de servidor subiu 14% em relação ao mesmo trimestre do ano passado. A consequência é que a flexibilidade da nuvem híbrida irá ajudar os clientes a encontrar o equilíbrio entre gerir recursos localmente e mover alguma atividade para a nuvem. A Amazon ainda bate a Microsoft em receita total de nuvem, mas esta pode vencer a longo prazo, principalmente porque está construindo pontes entre Azure e a infraestrutura dos clientes, o que, teoricamente, permite que ambientes on-premise possam migrar operações específicas para a nuvem em seu próprio ritmo.

A Microsoft também conseguiu levar clientes de serviços básicos de nuvem para serviços premium. O CFO Amy Hood informou que mais da metade dos clientes Azure também usam produtos como o Microsoft Enterprise Mobility Suite, que foi lançado este ano. Recursos de nuvem, como armazenamento e computação, podem se tornar commodities e, portanto, sujeitos a margens mais baixas, de modo que a capacidade da Microsoft para adicionar serviços mais caros poderia ser uma outra carta na manga.

Tudo isso soa promissor, mas onde está o problema? Em grande parte dos anúncios, a estratégia da Microsoft nos últimos meses foi reduzida à “nuvem”. Mas olhando de onde a sua receita vem, ela ainda é mais uma empresa de servidor. No último trimestre, sua receita em “Licenciamento Comercial”, que inclui receitas de produtos de servidores e Windows Commercial, respondeu por quase metade da receita global. Já a categoria “Commercial Other” – que engloba seus serviços de nuvem com foco em negócios e seu alardeado crescimento de 147% de receita – representou menos de 10%. Isso não é necessariamente um problema, desde que as sinergias entre produtos de servidor e Azure continuem dando certo, mas põe em contexto de onde a Microsoft obtém sua receita.

Em suma, a nuvem da Microsoft está crescendo rapidamente, mas ainda é uma pequena fatia do bolo. Como as receitas vindas de esforços instáveis e de alto custo aplicados em dispositivos Windows ainda estão sendo mantidas sob controle, os críticos da empresa estão alertas a quaisquer deslizes relacionados ao Azure.

Além disso, à medida que a empresa ganha novos clientes na nuvem pode ser mais difícil manter as sinergias que parecem estar funcionando bem hoje. Também veremos como Nadella irá equilibrar a abertura, evidenciada por acordos com Salesforce e SAP, com ataques estratégicos contra seus concorrentes.

3. O Windows pode virar a mesa?

O Windows ainda detém mais de 90% do mercado de PCs, mas o Windows 8 e o 8.1 detêm apenas cerca de 12%, segundo o ranking da Net Applications. Em curto prazo, essa dificuldade não impacta a Microsoft tanto quanto você pode imaginar. A receita do Windows, na realidade, aumentou no último trimestre, graças às atualizações de negócio empurradas pelo fim do suporte ao XP. Mas a maior parte desses negócios migrou para o Winodws 7, não o Windows 8.1. A unidade de consumo do Windows, enquanto isso, está no nível mais baixo de sua recente história. O Windows claramente vive suas glórias no passado, e não nas estratégias recentes.

Executivos mostraram poucos sinais da próxima versão do Windows, que irá convergir com o Windows Phone, Windows RT e o Windows completo em um único framework. De maneira crucial, a interface do modelo de desktop terá um menu iniciar. Mas ela irá ajudar a Microsoft a manter sua liderança à medida que os Chromebooks avançam na camada baixa do mercado e os Macs permanecem populares no topo? A base de usuários PCs do Windows irá ajudar o sistema operacional a ganhar participação em outros formatos? A Microsoft tem apenas 14% do total do mercado de dispositivos de computação, o que inclui também smartphones, PCs e tablets.

4. A nova geração de experiências de produtividade viverá além da atenção de Nadella?

Agora, o Microsoft Office determina o padrão para produtividade – mas para muitos usuários, alternativas como iWork ou Google Docs podem ser suficientes. Isso supõe, contudo, que a maioria dos usuários pensa em produtividade em termos ultrapassados: processamento básico de palavras, planilhas básicas e tudo o mais. O CEO Nadella acredita que o Office permanecerá no topo não apenas porque será a opção mais sofisticada para produtividade, mas também porque se tornará uma plataforma nova para novos tipos de produtividade.

“Acreditamos que as experiências de produtividade irão além das aplicações individuais para entregar inteligência no ambiente ultrapassa as aplicações”, afirmou Nadella nesta semana.

Delve, um novo produto a ser lançado no Office 365, funciona como uma espécie de “newsfeed do Facebook” para o ambiente de trabalho, por exemplo. Ele usa o aprendizado das máquinas para observar como, com o que e com quem você trabalha, e aí tenta prover você com informações que você precisa. Em alto nível de tecnologia, como Nadella definiu, isso desafia o pressuposto de que as pessoas sabem o que procuram quando elas fazem uma busca.

Outros exemplos incluem o uso da linguagem natural em Power BI, um recurso que a Microsoft diz que pode ajudar as empresas a construírem culturas de dados ao fazer as ferramentas analíticas mais acessíveis. Durante a conferência dos resultados da Microsoft, Nadella também ilustrou como novas formas de produtividade, com alusões ao assistente pessoal do Windows Phone Cortana, e a tecnologia de tinta digital do Surface Pro 3.

É bom para a Microsoft centrar seu foco em uma de suas forças: produtividade. É também bom para a empresa pensar em maneiras nas quais ela pode quebrar o status quo. Mas as experiências personalizadas do Office realmente irão revolucionar a maneira com a qual trabalhamos ou apenas darão à Microsoft mais recursos para o roll out de seu próprio catálogo?

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