Metaverso: oportunidade ou um grande risco?

Ambientes virtuais altamente imersivos podem ser um futuro muito promissor – ou um imenso risco à segurança

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3:30 pm - 16 de março de 2022
metaverso, VR, RV, AR Imagem: Shutterstock

Estamos vivendo o início de uma nova fase da digitalização dos negócios. Com o Metaverso, a criação de universos virtuais altamente imersivos abre novas possibilidades no relacionamento dos clientes com marcas, produtos e serviços. Do ponto de vista da segurança, porém, ainda nem começamos uma discussão que é séria e extremamente relevante.

Na base do Metaverso está o conceito de “digital twin”. O “gêmeo digital” é uma réplica de um objeto físico ou de um sistema, que pode reagir ao input de sensores e outros meios em tempo real. Assim, cria-se uma conexão entre o que acontece no mundo físico e o comportamento no mundo virtual. Esse conceito pode ser usado para melhorar a capacidade preditiva das empresas, tomar melhores decisões e conhecer ainda mais o comportamento das pessoas.

Em uma grande obra de engenharia, por exemplo, o uso de digital twins permite testar o uso de aplicações e materiais, reduzindo a possibilidade de erros nos ambientes reais de construção. Montadoras de automóveis podem testar mais rapidamente conceitos para encontrar soluções mais econômicas ou utilizar novos materiais. Enfim, as possibilidades são imensas.

O que estamos fazendo com o Metaverso é criar digital twins para tudo: marcas, produtos, ambientes como lojas e shoppings, e até mesmo pessoas. Esse é um conceito que existe há muito tempo nos games, em que criar avatares é bastante comum. O salto que se pretende com o Metaverso é justamente unir os comportamentos físicos e digitais, seja para consumo, para trabalho ou para relacionamentos.

Mas existe um grande risco – e esse é o alerta que precisamos fazer.

Nem tudo são flores

Para Andre Justiniano, CEO da Island DeFi, plataforma para o desenvolvimento e lançamento de criptoativos, “no momento em que passamos a fazer uma “cópia” digital da humanidade, não copiamos somente o que temos de positivo, mas também os aspectos menos nobres de quem somos. Se no mundo físico há todo tipo de busca por “facilidades” e “vantagens” – de esquemas de pirâmide a falsificar a carteira de identidade para entrar na balada – é natural que o Metaverso seja um novo espaço para fraudes, e soluções para identificá-las são cada vez mais urgentes”, explica o especialista.

E, a julgar pelos investimentos que estão sendo feitos, será um espaço gigantesco. Recentemente, o Facebook anunciou em seu relatório trimestral que investiu mais de US$ 10 bilhões em 2021 na construção do Metaverso. Essa é a ponta do iceberg, já que as maiores empresas de tecnologia do mundo – e centenas de empresas de bens de consumo – já estão direcionando recursos para essa tendência.

E, como acontece no mundo físico e no digital, os fraudadores costumam estar alguns passos à frente das ferramentas de combate. Essa difícil luta tende a ficar exponencialmente mais complexa. Alguns exemplos:

  • Como saber se a pessoa no Metaverso é a pessoa real que ela diz ser? Como garantir que a pessoa é ela mesma?
  • Se o Metaverso abre possibilidades para que as pessoas experimentem novas identidades (e até mesmo se identifiquem mais com seus avatares do que com quem são no mundo físico), como definir qual é a “identidade real” de alguém?
  • Como integrar o uso de ativos digitais ao comportamento das pessoas no mundo real?

Certamente, poderíamos elencar inúmeras perguntas, a maior parte delas ainda sem resposta. Existe a sensação de que o Metaverso será um ambiente verdadeiro e certificado, o que não necessariamente irá acontecer. Como podemos ser pessoas diferentes no mundo virtual do que somos fisicamente (já é possível nos games, lembre), o que impedirá que empresas se relacionem com fraudadores, achando que estão lidando com pessoas reais?

Antes que você desista da ideia do Metaverso, é importante destacar que, de alguma forma, a integração do digital e do físico, por meio de ambientes virtuais, vai acontecer nos próximos anos. Uma parcela considerável de nossas vidas acontecerá no Metaverso, assim como hoje uma porção significativa de nossas vidas é intermediada por plataformas digitais. O que precisamos fazer é antecipar as perguntas difíceis – para encontrar logo as boas respostas.

O comportamento indica o caminho

Ao mimetizarmos o que é real e tangível no Metaverso, precisaremos necessariamente usar ferramentas que existem hoje para verificar identidades e perfis. Um exemplo básico que pode indicar fraudes é a presença de vários perfis em um único equipamento: especialmente com a disseminação dos smartphones, ter contas diferentes no mesmo dispositivo pode ser um indicativo relevante de que é preciso analisar com mais cuidado aquele usuário.

No Metaverso, precisaremos ter ferramentas ainda mais sofisticadas de prevenção a fraudes, para que as empresas possam ter a garantia de que realmente estão falando com quem pensam estar se relacionando. É por isso que análises comportamentais serão ainda mais importantes: soluções do tipo “Know Your Users”, que hoje já permitem obter uma compreensão rápida e completa de qualquer visitante online, passarão a ser absolutamente necessárias nos ambientes virtuais imersivos.

Isso se torna ainda mais importante quando projetamos que o comportamento e seu o estilo de vida das pessoas no Metaverso serão usados para melhorar seu score de crédito e seu acesso a produtos, serviços e investimentos. Certamente, fraudadores tentarão turbinar seus digital twins para obter vantagens reais, digitais e virtuais.

O lado positivo do crescimento do Metaverso é que o uso intensivo de ferramentas antifraude baseadas na tecnologia “Know Your Users” tornará cada vez mais difícil encontrar formas de replicar comportamentos de terceiros – impedindo que fraudadores se passem por clientes reais. Afinal de contas, será preciso replicar não apenas o comportamento de alguém no Metaverso, mas também em ambientes digitais (navegação online, padrões de uso de celular e de comportamento digital) e no mundo físico (do uso de determinados meios de pagamento à frequência e local de compra).

Todo esse conhecimento sobre o comportamento dos usuários ajudará a garantir mais segurança em nossas vidas no Metaverso. Apesar de reconhecer os desafios que existem para viabilizar ambientes seguros em um mundo virtual que ninguém ainda saber muito bem como será, sou otimista: conhecer o perfil das pessoas, suas motivações e comportamentos será cada vez mais importante. Como resultado, desenvolveremos relações cada vez mais humanas. Mesmo que elas aconteçam somente em ambientes 100% virtuais.

* Paulo Moura, VP de business development da Nethone

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