Metade das empresas brasileiras decide inovação em produtos com base na intuição

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12:05 pm - 13 de agosto de 2014
Metade das empresas brasileiras decide inovação em produtos com base na intuição

Por que a indústria brasileira investe tão pouco no desenvolvimento de novos produtos? Custos e riscos são inerentes ao desenvolvimento de novos produtos e incidem diretamente no retorno sobre o investimento, contudo, muitas empresas ainda usam métodos informais para gerenciar o portfólio, o que pode ser uma decisão ainda mais arriscada. 

 
Em metade das indústrias essa decisão é feita com base na intuição da alta administração (50%). Nos outros casos, são considerados aspectos financeiros (15,5%) e a necessidade dos clientes (15,5%). “É baixo o porcentual de empresas que utilizam outros métodos formais para tomada de decisões como, por exemplo, o mapa de produtos (7%), modelos de pontuação (2,8%) e de check lists (1,4%)”, explica Daniel Jugend, professor do Departamento de Engenharia de Produção da Faculdade de Engenharia da Unesp de Bauru.
Para entender melhor como as empresas tomam decisões sobre quais produtos desenvolver, manter ou retirar do mercado, Jugend e Sérgio Luis da Silva, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), analisaram 71 empresas dos setores eletrônico, óptico e de informática no período entre 2012 e 2013. O estudo faz parte do projeto “Gestão de portfólio de produtos em empresas de base tecnológica de médio e grande porte no Estado de São Paulo: survey e estudos de caso”, apoiado pela FAPESP.
Riscos 
O uso da intuição ou de mecanismos informais em decisões sobre o portfólio de produtos pode aumentar o risco da inovação. “Isso demonstra que é forte, nos setores pesquisados, a presença de aspectos políticos e subjetivos influenciando as decisões sobre desenvolvimento de novos produtos e de alocação de recursos nos projetos”, aponta o pesquisador. 
Além disso, aplicar exclusivamente métodos financeiros também pode ser uma aposta arriscada, uma vez que a organização pode não ser capaz de realizar previsões exatas de demanda ou mensurar o impacto de determinada inovação tecnológica. O melhor caminho, sugere Jugend, é aplicar métodos financeiros de maneira integrada com demais métodos para escolher os projetos de novos produtos. 
Agilidade e flexibilidade na tomada de decisão relacionada ao portfólio de produtos são aspectos que influenciam intensamente no desempenho do portfólio dessas empresas, identificou a pesquisa. O que fica evidente quando olhamos para atual dinâmica dos mercados e das tecnologias. 
Cenário

Números da Pesquisa de Inovação (Pintec), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que a taxa de inovação das indústrias brasileiras era de 35,6% em 2011 – inferior aos 38,1% de 2008 – ou seja, pouco mais de um terço das indústrias do País. E os motivos para esse baixo desempenho são expressos: 81,7% das indústrias atribuem aos elevados custos da inovação e 71,3% aos riscos econômicos. 
O cálculo financeiro realizado em projetos de produtos, no entanto, deve ser conduzido de forma a contemplar também os efeitos da contribuição de inovações mais ousadas e considerando a competitividade da empresa no longo prazo, expõe Jugend. 
A decisão na fase de pré-desenvolvimento dos produtos é crítica para o bom desempenho dos programas de desenvolvimento de novos produtos, inclusive para a viabilização da estratégia de negócio. “Afinal, nesses momentos, ainda existe pouco conhecimento do resultado a ser alcançado e se está pensando nas características que um produto deve ter com muita antecipação em relação ao momento em que ele será – ou não – efetivamente lançado”, diz. 
O professor lembra que existem diversos métodos de gestão que contribuem para uma tomada de decisão sobre o portfólio de produtos mais assertiva. Os métodos financeiros são os que mais auxiliam na maximização do valor do portfólio, como: valor presente líquido (VPL), taxa interna de retorno (TIR), ponto de equilíbrio entre receitas, custos e despesas, payback e opções reais. 
O especialista também destaca a importância de ferramentas de marketing na gestão de portfólio, sobretudo a pesquisa de mercado, que, com o envolvimento de representantes de departamentos como engenharia e P&D, são atividades importantes para que as empresas obtenham informações sobre demandas e necessidades dos clientes e consigam, ao mesmo tempo, monitorar concorrentes e as novidades tecnológicas.
Outros métodos que podem servir de apoio à decisão em portfólio de produtos são os check lists, diagramas, modelos de pontuação e ranqueamento e mapas – esses dois últimos priorizam os projetos de produtos de acordo com a média esperada de desempenho. Os mapas, por sua vez, auxiliam na previsão de desenvolvimento de projetos de produtos no médio e longo prazo e, com isso, permitem que as empresas considerem as possibilidades de inovação incremental e radical ao longo do tempo.

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